Desde que anunciou a
candidatura à Presidência da República, o deputado Jair Bolsonaro mudou
sua rotina. No Rio de Janeiro, onde mora, deixou de frequentar lugares
movimentados, não vai mais à praia e evita até visitas à padaria da
esquina. Se a incursão for inevitável, ele quase sempre sairá com uma de
suas duas pistolas automáticas no coldre. Em suas andanças pelo país, é
protegido por um esquema de segurança. Recentemente, contratou um
capitão reformado das Forças Especiais do Exército, especialista em
proteção de autoridades, que o acompanha por todos os lugares, inclusive
no Congresso. Trata-se de precaução e medo. Líder nas pesquisas
eleitorais, Bolsonaro teme ser alvo de um atentado durante a campanha.
O deputado recebeu
apenas ameaças virtuais, mas consultou a Polícia Federal sobre a
possibilidade de ter a proteção de agentes — coisa que só poderá ocorrer
quando Bolsonaro virar candidato oficial do PSL, o que deve se dar no
fim de julho. Por ora, ele vai continuar contando apenas com seus
guarda-costas, o apoio das polícias dos estados que visita e sua arma
pessoal, ainda que esse recurso tenha lhe rendido uma experiência
fracassada no passado.
Em 1995, Bolsonaro,
então com 40 anos, foi assaltado no Rio de Janeiro. Estava em cima de
uma motocicleta potente (Honda Sahara 350) e armado com uma Glock 380.
Os ladrões levaram tudo — pistola e moto — e deixaram Bolsonaro
perplexo. Na ocasião, em entrevista à imprensa, ele disse que, apesar de
estar armado e ter treinamento militar, se sentiu “indefeso”. (Mesmo
assim, Bolsonaro acha que armar a população, que, em geral, nunca deu um
tiro na vida, é uma boa ideia para enfrentar a violência.)
A orientação passada
pelo deputado aos seus seguranças é identificar possíveis ameaças de
grupos hostis, como petistas e sem-terra. Os guarda-costas não costumam
impedir o contato do deputado com eleitores. A ideia é antecipar
eventuais ataques sem afastar o candidato do público — e, quem sabe,
evitar constrangimentos como o de 2016, quando Bolsonaro foi cercado por
militantes LGBT e levou um banho de purpurina. O canal que o deputado
abriu com a PF também serve para detectar ameaças consideradas mais
sérias.
O candidato do PSL
não gosta de falar sobre as ameaças nem sobre o seu esquema de
segurança. “Não quero me vitimizar”, explica. O deputado tem outros
temores. Medo de sabotagem, por exemplo. O acidente aéreo que matou o
governador Eduardo Campos na campanha de 2014 não lhe sai da memória. As
investigações revelaram que a queda do jatinho se deu por falha do
piloto. Ainda assim, por segurança, Bolsonaro decidiu que não usará
jatos particulares na campanha. Num país de dimensões continentais, isso
seria um problemão para qualquer candidato, diante das dificuldades
para chegar a determinados lugares, especialmente na região amazônica.
Como contornar isso? “Dane-se. Não vou a esses lugares”, diz ele.
Publicado em VEJA de 27 de junho de 2018, edição nº 2588
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário