MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 19 de abril de 2018

Quem é Díaz-Canel, o “discípulo” de Raúl Castro que assume o poder em Cuba?


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Em suas últimas declarações, Díaz-Canel tem dito que fará um governo de continuidade (Foto: Reuters/Stringer )
Díaz-Canel é um fiel seguidor dos irmãos Castro
Por BBC
Para alguns, ele é um reformista à espera da oportunidade de introduzir mudanças necessárias na Revolução Cubana. Para outros, seu papel se limita ao de um burocrata escolhido a dedo para manter o “retrógrado” sistema político da ilha. Mas quem realmente é Miguel Díaz-Canel Bermúdez, o sucessor de Raúl Castro na presidência de Cuba? “Essa é uma pergunta cuja resposta vai demorar para ser conhecida”, diz o embaixador Carlo Alzugaray em entrevista à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
A Assembleia Nacional está reunida nesta quarta-feira (18) para escolher o novo presidente do país. No início da tarde, contudo, antes do fim do encontro, parlamentares confirmaram à BBC que Díaz-Canel era o único candidato à sucessão.
SEM UM CASTRO – O novo presidente, que completa 58 anos nesta semana, assume a responsabilidade de guiar o país em circunstâncias inéditas. Pela primeira vez em seis décadas, Cuba não terá um Castro no comando. A geração que protagonizou a insurreição contra o ditador Fulgêncio Batista, na década de 1950, enfim começou a se retirar do poder, dando espaço para uma pessoa mais jovem.                                                                                                            Os círculos políticos e intelectuais do país estão divididos sobre como será daqui para frente. Há quem queira mais reformas econômicas e maior abertura ao mercado externo, processo iniciado de forma gradual por Raúl Castro. Outros advogam pela manutenção do controle estatal na economia e na opinião pública para assegurar a estabilidade política.
Com qual dessas visões Díaz-Canel está alinhado ainda é uma incógnita.
EM VILLA CLARA – Ele é um homem corpulento e grisalho. Seus olhos azuis – traço que aponta para suas origens europeias – é uma das poucas certezas que os cubanos têm sobre ele.
Descendente de imigrantes das Astúrias, na Espanha, ele nasceu em Placetas, na província cubana de Villa Clara. Ele é casado com uma professora universitária e tem dois filhos de um matrimônio anterior.
Depois de completar o serviço militar obrigatório, Díaz-Canel se formou em engenharia na Universidade de Las Villas, onde depois virou professor. Foi em Villa Clara que o político conseguiu o crédito que acabou por levá-lo ao maior cargo da burocracia estatal cubana.
JOVENS COMUNISTAS – Em 1987, ele se converteu em dirigente da União de Jovens Comunistas e deu seu primeiro passo na carreira política.
Foi então que o Departamento de Organização e Quadros do Partido Comunista se interessou pelo jovem Díaz-Canel, um jovem que amava os Beatles e acreditava piamente na causa socialista.
Companheiros da juventude recordam do apreço pelo socialismo demonstrado por Díaz-Canel nas caminhadas que ele fazia pelo campo durante seu trabalho de doutrinação. O novo presidente de Cuba era um leal seguidor da ortodoxia socialista, mas não demonstrava ser autoritário, segundo seus amigos.
NA NICARÁGUA – Logo no início ele foi enviado à Nicarágua em uma missão que reunia militares, médicos e outros profissionais cubanos. Eles ajudaram o grupo que promovia a revolução sandinista, que se estendeu entre 1978 e 1990.
Na Nicarágua, Díaz-Canel organizou comitês de base com jovens comunistas. Ele fez um trabalho político-ideológico que buscava reforçar as posições do governo cubano e do sandinismo”, lembra Arturo López Levy, cientista político da Universidade de Texas.
De volta a Cuba, em 1993, Díaz-Canel virou secretário do Partido Comunista em Villa Clara. O político era visto como “comprometido” e “líder tolerante” quando era o responsável do partido em sua cidade natal, uma época que ficou conhecido como “período especial”, quando a economia cubana quase entrou em colapso após o desmantelamento da União Soviética, âncora do bloco socialista.
MERCADO ILEGAL – Harold Cárdenas Lema, autor do blog socialista La Joven Cuba e conterrâneo do futuro presidente, relembra em entrevista à BBC Mundo que “as políticas sociais progressistas” de Díaz-Canel o diferenciaram de outros nomes do partido.
Outros conterrâneos do político lembram da perseguição de Díaz-Canel ao mercado paralelo – muitos cubanos procuram esse comércio em busca de produtos que não são vendidos nos mercados legais.
Um dos motivos que amigos usam para apontar Díaz-Canel como um “homem moderno” foi sua defesa do clube “El Mejunje”, um local frequentado por membros da comunidade LGBT. Setores intransigentes da burocracia cubana ficavam escandalizados com as atividades do local e com os espetáculos promovidos por travestis.
Com os filhos – O fundador do clube, o artista Ramón Silverio, lembra que Díaz-Canel costumava levar seus dois filhos para as atividades infantis do local.
Para López Levy, contemporâneo do socialista na militância juvenil, Díaz-Canel é um político “distinto”. “Ele exerceu uma liderança em Santa Clara bastante rara para a época. Andava de bicicleta e usava bermudas nas ruas”, ele conta à BBC Mundo.
“Em uma época de escassez, ele construiu uma imagem de modéstia, de proximidade com as pessoas. Foi uma jogada política muito inteligente”, disse.
ORGANIZAÇÃO – Sua capacidade de organização também é elogiada. “Ele é um engenheiro que pensa em termos de eficiência, questionando-se qual é o sistema que lhe trará mais resultados”, diz o cientista político López Levy.
Metódico, Díaz-Canel cresceu na carreira política como um “funcionário exemplar”. Em 2003, ao mesmo tempo em que ele aceitou dirigir a província de Holguín, Raúl Castro promoveu sua candidatura ao comitê central do Partido Comunista. Essa relação de “mestre e discípulo” entre o primeiro-ministro e seu sucessor, como descreve Carlo Alzugaray, é mantida até hoje.
Díaz-Canel estava no núcleo de poder estatal em 2009, um ano depois de Raúl assumir como primeiro-ministro. Acabou se tornando seu ministro da Educação.
EDUCAÇÃO – Nessa cadeira, ele organizou uma série de reuniões com quadros estudantis para conhecer a situação da educação cubana.
Luiz Carlos Bautista estava entre as dezenas de estudantes que se reuniram com o então ministro da Educação na Universidade de Havana. “Me lembro que ele era um homem sério, mas não frio. Ele parecia atento ao que ocorria em universidades estrangeiras”, disse à BBC Mundo.
A capacidade de trabalhar em equipe, muito alardeada em seu favor, deverá ser um dos recursos que terá de explorar a partir de agora. Porque, como diz Alzugaray, “de Fidel foi perdoado tudo, de Raúl quase tudo, mas de Díaz não será tão perdoado”.

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