MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 23 de novembro de 2017

“Ballet” do Banco Mundial ilumina o palco do Brasil com números delirantes


Charge do Arionauro (Arquivo Google)
Pedro do Coutto
É antiga a frase de que o papel aceita tudo. O computador nem tanto. A realidade dos fatos muito menos. Reportagem de Marta Beck, Sérgio Fadul, Geralda Doca, Bárbara Nascimento e Cristiane Jungblut, em O Globo, destaca números e teses divulgadas pelo Banco Mundial voltados para recuperação da economia brasileira num espaço de tempo que começa hoje e se estende até a 2026. Uma distância de nove anos que se baseia em conotações matemáticas difíceis de serem decifradas em termos lógicos da economia política do país. O BIRD, por exemplo, propõe a diminuição pela metade dos vencimentos do funcionalismo público em relação aos salários dos empregados regidos pela CLT. Metade? Eis aí um corte impossível.
É o caso de soluções e teorias econômicas geradas por representantes do conservadorismo. Como diminuir à metade? Qual o parâmetro? Os salários daqueles que são regidos pela CLT variam de empresa para empresa. Como seria feita, portanto, a comparação?
INCONSTITUCIONAL – Além do mais, o corte de 50% nos vencimentos é absolutamente inconstitucional. Portanto, não seria possível e tampouco possui o menor cabimento. Além disso, é estimada uma redução de despesas, com isso, da ordem de 8,3% do Produto Interno Bruto Brasileiro. Como o PIB, em 2017, está calculado em torno de 5,8 trilhões de reais, a fração cintilante do Banco Mundial representaria algo em torno de 550 bilhões.
Surge uma dúvida: se tal importância seria anual ou resultaria de reflexos do corte ao longo dos próximos 9 anos, ou seja 2026. É necessário, a meu ver, que o Banco Mundial esclareça melhor esse ponto. Porque, inclusive, o valor do Produto Interno Bruto varia de ano para ano e o documento chamado de esforço pela reforma não inclui projeção sobre tais variações. No ballet dos números, esses lances da dança não se encontram bem iluminados, dando a impressão que o programa proposto baseia-se numa visão impressionista que colide com a realidade.
ARTES DO POSSÍVEL – Se a política é a arte do possível, a economia também se inclui no mesmo contexto. Até porque é impossível separar a política da economia. Não estou falando de economia política, porque esta pode ser interpretada e traduzida à base de pensamentos ideológicos diversos.
Para o ex-ministro Delfim Neto, por exemplo, sua visão estrutural parte de um princípio determinado. Para os reformistas, outro deve ser o caminho. Para os ultraconservadores, a visão também se altera. No fundo da questão encontra-se o desafio de se estabelecer o denominador comum entre o capital e o trabalho.
Isso explica, sobretudo, uma realidade pouco aparente. O reformista de hoje transforma-se com grande frequência no conservador de amanhã. O ex-presidente Lula, por exemplo, era um reformista até chegar ao poder nas urnas de 2002. Transformou-se num político conservador a partir de sua posse no Planalto em 2003.  Montou uma estrutura voltada para a corrupção, chegando ao ponto de dividir partidariamente as diretorias da Petrobrás. Em seu período, o BNDES forneceu créditos a juros favorecidos, como no caso de financiamentos à Odebrecht e a JBS. Nada mais conservador do que a corrupção.
DESIGUALDADES – Um reformista deveria lutar pela redistribuição possível de renda. Nada mais concentrador de renda do que a corrupção. A metamorfose atinge em cheio os políticos. Fernando Henrique Cardoso, logo após a vitória nas urnas de 1994, avisou ao eleitorado: esqueçam tudo que escrevi no passado. Mas as contradições são próprias do processo humano. O líder do Movimento Militar de 64, Carlos Lacerda, terminou cassado pelo processo que desencadeou.
Voltemos À dança dos números que o Banco Mundial exibe no palco de nosso país. Se fosse possível resolver os problemas universais com colocação de teorias, não haveria problema algum no Planeta Terra. A verdade é extremamente diferente. Colorir visões numérica não muda a cor da realidade.
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