Via Chumbo gordo, a coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em diversos jornais:
Pois são tempos
estranhos, estes; tempos em que se descobre que um antigo político, que
se supunha afastado do ramo desde que foi condenado pelo Mensalão,
controla um robusto partido com 37 deputados federais. O presidente
Temer, naturalmente, sabia de tudo; e sabia ainda que o preço do
ex-deputado federal Valdemar Costa Neto, Boy, comandante-chefe do PR,
era a manutenção do Aeroporto de Congonhas em mãos do Estado. Nada de
privatização: Congonhas continua estatal, prometeu Temer a Boy. Em troca
de tão patriótica atitude, Temer ganha o apoio do PR para continuar no
cargo, livre das desagradáveis denúncias da Procuradoria da República.
OK, Valdemar Costa
Neto pediu, Temer concedeu. Mas por que estará Boy tão interessado na
permanência de Congonhas em mãos do Governo?
Talvez alguma
vertente brizolista em sua ideologia, por que não? Seria novidade,
porque: a) parte dos políticos brasileiros acha que Boy não tem
ideologia, guiando-se sempre pelos resultados, estes sempre excelentes;
b) outra parte dos políticos brasileiros acha que Boy tem ideologia,
sim, mas menos brizolista e muito mais petista, da ala ligada ao
empresariadão. Talvez esteja preocupado em garantir a eficiência do
aeroporto, já que, como se sabe, as estatais tradicionalmente produzem
melhores resultados – e, sem dúvida, os bons resultados são sempre seu
objetivo, um objetivo sempre alcançado.
Temer e Boy, políticos experientes, sabem conversar.
Ventos uivantes
Nesse tipo de
bate-papo entre velhos amigos, entre xícaras de bom café e biscoitinhos,
a conversa sempre deriva para assuntos paralelos. No caso, decidiu-se
reativar o antigo aeroporto de Pampulha, em Belo Horizonte, para voos
interestaduais. Pampulha, é certo, também trará bons resultados.
Blowin’ in the Wind
Não se assuste: esta
coluna não trará aos leitores nenhuma nova versão do clássico de Bob
Dylan na interpretação de Eduardo Suplicy. Para evitar más
interpretações da história dos aeroportos, o ministro dos Transportes,
Maurício Quintella, apresentou a Michel Temer estudos da aviação civil e
análises de consultorias independentes que demonstram que, sem a
receita de Congonhas, a Infraero perde sua base financeira, e outros
aeroportos do sistema no país ficam inviáveis. Que tal privatizá-los? O
aeroporto da ilha de Santa Elena, entre América do Sul e África, está
num lugar tão ruim que só um modelo de avião no mundo, um Embraer, lá
chega e decola. É um aeroporto privado e dá lucro. A resposta, diz Bob
Dylan, é soprada pelos ventos. Mas, que pena, o aeroporto dá lucro,
embora só aos investidores!
Palavras ao vento
A procuradora-geral
da República, Raquel Dodge, disse que Geddel Vieira Lima é o chefe da
quadrilha. Renan Calheiros, que conhece tudo do partido e do Governo – o
que é preciso saber e o que nem fica bem pensar que ele sabe – rebateu:
“Engraçado. Nunca soube que Geddel era o chefe. Para mim, o chefe dele
era outro”. Renan se conteve: já pensou se ele conta e de repente
descobrimos que aquilo já não é mais surpresa?
Depois do vendaval
No interior de São
Paulo, há uma frase feita a respeito de chefe: “Quem tem chefe é índio”.
Coincidência: o presidente do Senado, Eunício Oliveira, fiel dos fieis
de Michel Temer, tem o apelido de Índio. Ele acaba de dizer que é
eleitor de Lula e é nele que, “obviamente”, deve votar nas eleições do
ano que vem, se o PMDB não tiver candidato próprio e com acordos locais
para decidir quem indica quem para cada cargo. Traduzindo, se não
estiver garantida a ele, Eunicio, uma candidatura forte ao Senado pelo
Ceará.
Livre como o vento
Segundo Eunício, o
PMDB é um partido livre. “Livre” é uma palavra bonita, uma das
preferidas deste colunista. Mas não é em todos os lugares, nem em todas
as épocas, que “livre” é uma palavra elogiosa. Conforme o lugar,
conforme a época, dizer que uma senhora tem comportamento livre é tudo,
exceto um elogio. Em certos partidos, também. Pode significar que, a
menos que haja garantias de sucesso em certas áreas, as palavras “livre”
e “traidor” se transformam em sinônimos perfeitos.
O vento sabe a resposta
E, a propósito, há
lógica na união, ao menos regional, de PT e PMDB. No Nordeste, Lula é o
político mais popular; e o PMDB tem de longe a melhor estrutura, com
mais prefeituras e mais tempo de televisão. Ambos são pragmáticos,
digamos. Unir-se e ganhar juntos, muito, é o que querem.
Onde o vento faz a volta
Aeroportos, bons
lucros – como na cobrança do transporte das malas, que segundo a Anac
geraria uma tendência para reduzir o custo das passagens. Resultado: as
passagens subiram 35,9% – cálculo da Fundação Getúlio Vargas, obtido
pelo Diário do Poder
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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