A vocação dos
brasileiros para santificar picaretas não é novidade. Se fosse, o conto
do vigário pornô não teria durado 13 anos. "Quanto
a vocês, ex-virtuosos em situação de surfe, vocês que sabem como poucos
o que está se passando de fato no país, vocês que conhecem exatamente o
tamanho da fraude narrativa e o custo criminoso disso para a
recuperação nacional, boa sorte em seus projetos particulares. O Brasil
não parou, e talvez até nem caia nas mãos de um idiota em 2018. Apesar
de vocês". Artigo de Guilherme Fiuza, publicado pelo Globo:
O gigante está se
guardando pra quando o carnaval eleitoral chegar. A opinião pública —
essa entidade simpática e distraída — deu um tempo da dura realidade,
que não leva a nada, e saiu aprontando suas alegorias para 2018. Funaro
Guerreiro do Povo Brasileiro é uma das preferidas.
Funaro é aquele
agente do caubói biônico escalado para “fechar o caixão” do mordomo,
conforme áudio divulgado para todo o Brasil. Mas nessa hora o Brasil
estava ocupado com as alegorias, e não ouviu os bandidos bilionários
confessando a armação da derrubada do governo com Rodrigo Janot — outro
guerreiro do povo brasileiro.
Vejam como o Brasil é
sagaz: seu despertar ético está depositado numa denúncia bêbada
(leitura obrigatória, prezado leitor) urdida por Joesley (preso), Janot
(solto), Miller (solto e rico) e Fachin (solto e dando expediente na
Suprema Corte), todos cacifados política e/ou financeiramente pela
quadrilha que depenou o país por 13 anos. Como se diz na roça, é a ética
que passarinho não bebe.
A vocação dos
brasileiros para santificar picaretas não é novidade. Se fosse, o conto
do vigário pornô não teria durado 13 anos, fantasiado de apoteose
social. A novidade — tirem as crianças da sala — é a adesão dos bons.
Isso sim pode ser o
fechamento inexorável da tampa do caixão — não de um presidente ou de um
governo, mas desse lugar aqui como tentativa de sociedade. Os bons não
são esses heróis de história em quadrinhos tipo Dartagnol Foratemer, que
transformam notoriedade em gula eleitoral e sonham ser ex-BBBs de si
mesmos. O que dizer de um aprendiz de Janot, que poderia ter Sergio Moro
como inspiração, mas preferiu o truque de demonizar os políticos para
virar político?
Os bons não são
ex-tucanos patéticos como Álvaro Dias e demais reciclados, que ressurgem
sob slogans espertos tentando perfumar o próprio mofo. Nem os ainda
tucanos (e ainda mais patéticos) como Tasso Jereissati, com seu
teatrinho de dissidência ética. Os realmente bons são os que sabem que,
após a ruína administrativa do PT, se impôs a agenda da reconstrução —
defendida desde sempre por eles mesmos.
Agora, o escárnio:
mesmo testemunhando os resultados inegáveis, a restauração de
indicadores socioeconômicos para ricos e pobres, as perspectivas
repostas a duras penas por gente que trabalha sério (eles conhecem cada
um), dos juros/inflação ao risco/investimento, essa minoria esclarecida
resolveu surfar no engodo. Os ex-virtuosos também estão se guardando
para quando o carnaval eleitoral chegar.
Fim de papo, Brasil.
Um réquiem para o espírito público e todos à praia. Espírito público?!
Pode gargalhar, prezado leitor. Melhor do que ir ao Google checar
quantos nomes insuspeitos do meio acadêmico e da administração pública
estão dando sangue neste governo de transição, virando noites para
enfrentar o estrago dos cupins de Lula (solto), e vendo seus melhores
parceiros intelectuais virando a cara, colocando os óculos escuros e
dando uma surfadinha no foratemer, que ninguém é de ferro. Não vá ao
Google. Chega de história triste.
Ponha seus óculos
escuros e assuma imediatamente seu lugar ao sol. Você também é filho de
Deus, e Ele há de consertar essa porcaria toda. Peça uma caipirinha e
fique gritando contra tudo isso que aí está, porque a essa altura
cogitar que haja alguém trabalhando sério em Brasília pode até dar cana.
Já que os picaretas são maioria, faça como a maioria: finja que ninguém
presta, que só você e sua caipirinha são confiáveis. Grite para que
ninguém seja reeleito — que era mais ou menos a mensagem de Adolfinho na
Alemanha dos anos 30, e a limpeza que ele imaginou também era arretada.
Mas diga aos
sorveteiros que você é contra a ditadura, contra a censura (que censura?
Procurem saber), a favor da beleza e também da felicidade. Você é
contra o sistema, contra o que é velho e a favor do que é novo. A sua
modernidade está provada inclusive no seu apoio à causa gay — que já tem
meio século, mas os revolucionários do Facebook não precisam saber
disso.
Grite que está
cercado e sufocado por famílias conservadoras decrépitas, finja que os
dias são assim e você é a contracultura! Se precisar, defenda a pílula
anticoncepcional contra os celibatários malditos. Quem sabe até alguém
te convida para um convescote noturno com Dartagnol Foratemer e a alegre
tropa de choque da Dilma (bota choque nisso).
Minta como todo
mundo: finja que o governo de transição pertence à gangue do Cunha e
ignore a salvação da Petrobras da gangue do Dirceu. Isso pega bem. E é
claro que a sua luta cívica contra a corrupção jamais terá qualquer
campanha lamuriosa pela prisão de Lula e Dilma. Eles esfolaram o Brasil,
mas são do bem.
Quanto a vocês,
ex-virtuosos em situação de surfe, vocês que sabem como poucos o que
está se passando de fato no país, vocês que conhecem exatamente o
tamanho da fraude narrativa e o custo criminoso disso para a recuperação
nacional, boa sorte em seus projetos particulares. O Brasil não parou, e
talvez até nem caia nas mãos de um idiota em 2018. Apesar de vocês.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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