Um estudo
feito por pesquisadores estrangeiros chegou a uma conclusão que, se
correta, é aterradora: dos 31 países analisados, o Brasil é o único que
teve uma queda no QI (Quociente de Inteligência). A lista inclui nações
de todos os continentes, do pobre Quênia à próspera Dinamarca. A
pesquisa comparativa foi feita por Jakob Pietschnig e Martin Voracek, da
Universidade de Viena.
Os
pesquisadores reuniram diferentes pesquisas de QI realizadas nesses
países por entre 1909 e 2013. Os dados do Brasil foram compilados com
base em dois estudos. Um deles foi conduzido pela professora Denise
Ruschel Bandeira, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul),
que encontrou uma queda de 0.04 pontos de QI por ano entre 1987 e 2005
em crianças de Porto Alegre.
Ela diz
que o resultado contrariou expectativas: dois métodos diferente foram
usados, e ambos apontaram na mesma direção. “Percebemos que não houve
avanço. Inclusive houve essa pequena queda no QI, que não chega a ser
significativa, mas que chama atenção”, diz.
A
conclusão é assustadora porque o chamado Efeito Flynn, consenso na área,
prevê uma tendência de evolução nos índices de QI com a natural
melhoria em fatores como nutrição e na renda.
O Brasil
ficou mais rico e a nutrição melhorou no período analisado. Ou seja:
para que tenha havido uma queda, é preciso que as escolas não só não
tenham melhorado, mas piorado de qualidade.
“No meu
entendimento vai muito nessa linha da qualidade da escola, porque
notamos isso em outros estudos de desenvolvimento infantil”, diz Denise.
A
psicóloga Maria Clementina Menghini, que foi responsável técnica pelo
Centro Psicologia Aplicada da UFPR, concorda. Para ela, a escola atual
não consegue nem mesmo assegurar uma estrutura segura para o ensino: “Os
alunos estão preocupados porque colegas estão sendo baleados em sala de
aula. Falta segurança, respeito, estrutura pedagógica e acadêmica”.
Divergência
A outra
pesquisa citada por Jakob Pietschnig e Martin Voracek comparou dados de
1930 com 2004, entre crianças de Belo Horizonte. Apesar de os números
compilados pelos pesquisadores estrangeiros apontarem uma queda de 0.12
pontos de QI por ano no período, a professora da UFMG (Universidade
Federal de Minas Gerais) Carmen Flores-Mendoza, que participou do
estudo, tem uma interpretação diferente: ela diz que não é possível
falar em piora do QI com base em seus dados.
Uma
explicação possível é que os autores estrangeiros tenham usado dados de
populações diferentes citados na pesquisa de Carmen: moradores da zona
urbana de 1930 com habitantes de áreas rurais em 2004 – em vez de
comparar equivalentes, como seria o caso.
A
professora Carmen afirma também que, em uma pesquisa mais recente,
detectou uma evolução no QI: “Estamos escrevendo outro pequeno estudo
realizado em um intervalo de 12 anos (2002 - 2014), utilizando a Escala
Weschler de Inteligencia (Escala Verbal) e o teste Raven em crianças de 7
a 9 anos de idade. Encontramos aumento de escores”, explica.
A também
professora Cristiane Faiad de Moura, da UnB (Universidade de Brasília),
vê a comparação entre países com cautela e não acha adequado falar em
“emburrecimento” dos brasileiros: “Não é possível comparar os países. Há
variáveis que precisam ser cuidadosamente avaliadas, como o tipo de
medida utilizado, a qualidade do instrumento de medida e características
da amostra avaliada”, afirma.
Fato é
que o Brasil continua em desvantagem na comparação com outros países em
temas como o desempenho dos alunos na escola. E, mesmo quando outras
escalas são utilizadas, os resultados são muito ruins.
A
professora Orly Zucatto Mantovani de Assis, da Unicamp, não concorda que
o QI seja uma boa medida para avaliar a inteligência. Ainda assim, em
décadas de pesquisa, ela chegou a conclusões semelhantes às da
professora Denise Ruschel Bandeira: atraso, estagnação e involução. “O
sistema educacional é o responsável”, sentencia.
Falta de pesquisa
As
diferentes visões sobre a queda no QI dos brasileiros se devem, em
parte, à falta de pesquisas abrangentes sobre o tema. Especialistas
concordam que o país não dá atenção devida ao assunto.
Denise
Ruschel Bandeira afirma que o governo deveria investir em estudos
continuados, de longo prazo, para identificar de forma mais precisa as
variações no QI da população. Carmen Mendoza-Flores também defende uma
ampliação desse campo de estudos. “Esta é uma linha de investigação que
deveria mobilizar não apenas acadêmicos do país todo, mas também contar
com compreensão e apoio governamental. O assunto, por enquanto, é
comentado somente em pequenos círculos acadêmicos”. (Gazeta do Povo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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