Vencido o primeiro
obstáculo à sua permanência no poder (o procurador Rodrigo Janot
pretende propor outros), Michel Temer ganha fôlego para mudar a imagem
ruim do Governo: até o fim do ano, aprovar a reforma tributária e da
Previdência. É provável que já tenha votos para isso: os 263 que se
expuseram e o apoiaram na impopular rejeição da denúncia contra ele (e
são maioria absoluta), mais alguns dos 62 que aceitaram a denúncia mas
apoiam as reformas e integram partidos da base governista. Se conquistar
45 votos, terá os 2/3 necessários para emendas à Constituição.
Não haverá
represálias, portanto, contra os que, embora governistas, não o
apoiaram. Primeiro, porque precisa deles para chegar à maioria de 2/3; e
porque não é seu estilo. Temer perdoa – mas não esquece quem perdoou.
A luta pelas
reformas, acredita o Governo, pode tirar o foco da opinião pública dos
políticos de quem é próximo, e que, para usar uma frase gentil, não
chegam a representar uma renovação. De velhas raposas espertas, que
passam de um governo a outro, o país se cansou. O foco do eleitorado
seria transferido para a Economia, para a inflação em baixa e, apesar da
crise, para a leve tendência de melhora no nível de emprego e nos
investimentos.
O Congresso já não
debate a luta Temer-Janot. Só se preocupa com o dinheiro público na
campanha eleitoral. Uns R$ 4 bilhões – e quem quer debater outro
assunto? Talvez só você, caro leitor, que vai pagar a conta.
Tem mais, tem mais
Não pense que a conta
vá parar nos R$ 4 bilhões para a campanha. Ainda há R$ 1,5 bilhão anual
do Fundo Partidário. Não é coisa nova, mas cerca de três anos atrás a
conta era de aproximadamente R$ 300 milhões.
Agilidade total
O Congresso tem
pressa de votar o financiamento público de campanha, ou “bolsa-eleição”,
para os íntimos. A votação, na Comissão de Reforma Política da Câmara,
deve começar na terça, dia 8, e terminar na quinta, dia 10.
Imediatamente depois, vai para votação em plenário, na Câmara e no
Senado. Estará aprovado em setembro, sem falta, para vigorar em 2018.
O voto e o candidato
Deve ser também
reformado o sistema de escolha dos parlamentares. Hoje vigora o voto
proporcional: a votação de todos os candidatos de um partido é somada e
verifica-se quantos lugares o partido conquistou. Os candidatos mais
votados vão ocupando as cadeiras. O problema do voto proporcional é que o
eleitor vota num candidato e elege outro; e os partidos procuram
pessoas populares, mesmo sem noção do que é política, para “puxar
votação”. Tiririca levou para a Câmara um bom grupo de parlamentares
puxados por seus votos. A mudança mais provável é o “distritão”: os mais
votados de cada Estado ocupam as cadeiras. Parece mais democrático; mas
os partidos perdem importância porque o candidato não depende mais do
voto dos companheiros (e o Governo é obrigado a negociar com um por um, o
que sai muito mais caro): e a tendência é que se elejam os candidatos
mais conhecidos, o que reduz a renovação. Sendo o Congresso é o que é,
imagine-se com renovação mais lenta!
Apenas um retrato…
O país sofre hoje de
pesquisite aguda: um ano e meio antes das eleições, antes que se saiba
quem serão os candidatos, sem que se saiba quais os temas em debate, já
há pesquisas até sobre segundo turno. Para dar uma ideia de quão longo é
esse tempo, no final de 1991 o senador Fernando Henrique Cardoso achava
difícil se reeleger (foi o que disse a este colunista e ao hoje editor
de livros Luiz Fernando Emediato, numa conversa em San Francisco, EUA).
Achava difícil até ser eleito deputado federal e pensava em voltar para a
vida acadêmica. Pouco mais de dois anos depois, elegia-se presidente da
República no primeiro turno, derrotando Lula.
…e como dói
A pesquisa, hoje,
mostra que 5% dos eleitores apoiam Temer – ou seja, consideram seu
Governo “ótimo” ou “bom”. Mas, como nota o excelente colunista gaúcho Fernando Albrecht,
há algo como 20% dos pesquisados que consideram seu Governo “regular”.
Ou seja, não o acham lá essas coisas, mas o aceitam com tranquilidade.
Somando tudo, dá um quarto do eleitorado. Impopular, sim; mas não se
pode dizer que Michel Temer não tenha um bom contingente a seu lado.
A reforma como ela é
Chega de achismos,
chega de análises de quem não leu a lei da reforma trabalhista mas
opina, contra ou a favor, com base no apoio ou oposição ao Governo. O
advogado trabalhista Sérgio Schwartsman, bom profissional, leu a lei e
mostra os pontos em que mudou, favorecendo assalariados ou empregadores.
Schwartsman foi escolhido pela Globonews para explicar a lei. E põe
cláusula por cláusula, por escrito.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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