Em sua coluna publicada na revista Época, Guilherme Fiuza
comenta o anacronismo da divisão entre esquerda e direita, que, depois
da queda do Muro de Berlim e da implosão da União Soviética, perdeu
qualquer base de sustentação. A distinção, hoje, é entre liberalismo e
estatismo. As manifestações de junho de 2013, a chamada Primavera Burra,
queriam mais Estado:
A tal denúncia
redentora contra o presidente foi feita pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot – um personagem do qual você ainda vai ouvir
falar muito. Janot é herdeiro do sucesso da Operação Lava Jato, um
arrastão virtuoso contra a corrupção montada no coração do Estado
brasileiro pelo PT. O detalhe é que esse mesmo procurador-geral protegeu
quanto pôde os maiores caciques desse mesmo PT contra essa mesma Lava
Jato – conseguindo, por exemplo, a façanha de evitar que a investigação
de Dilma Rousseff fosse autorizada no exercício do mandato presidencial,
quando uma torrente de evidências do petrolão apontava sua
responsabilidade nos movimentos da quadrilha.
Já quanto a Michel
Temer, Janot produziu uma denúncia em tempo recorde, a partir de uma
delação obscura do tubarão das carnes anabolizado pelo BNDES de Lula –
aquele que nomeou o procurador, sendo devidamente refrescado por ele
enquanto pôde.
Na tese bombástica de
Joesley Batista, abraçada instantaneamente por Janot sem a devida
participação da Polícia Federal ou mesmo da força-tarefa da Lava Jato,
Temer é o chefão de toda a quadrilha – “a mais perigosa do país”, nas
palavras dramáticas do açougueiro encampadas por Janot. Naturalmente o
Brasil que ainda tem algum juízo não caiu nessa – porque acreditar que
aquele vice obscuro e decorativo de Dilma mandava e desmandava em Lula,
Dirceu e companhia era um pouco demais. No entanto, essa literatura
malpassada e gordurosa foi homologada, também em tempo recorde, pelo
companheiro Edson Fachin – ministro do STF que subia em palanques
eleitorais de Dilma Rousseff, a presidente afastada.
Pois bem: nessa
denúncia que despertou o gigante para o brado cívico dos 342 votos
contra o mordomo do mal, está escrito que Temer patrocinou um “cala a
boca” a Eduardo Cunha, o Darth Vader do PMDB. O detalhe é que não há
sequer vestígios demonstrando o tal patrocínio, apenas uma interpretação
livre e imaginativa do companheiro Janot. Você ainda vai ouvir falar
muito dele.
A denúncia fatídica
também traz a alegação de que Temer levou grana para mandar o Cade
favorecer a JBS, do companheiro Joesley. Com outro pequeno detalhe
tríplice: o suborno ao intermediário de Temer resultaria mais caro que a
vantagem a ser obtida (!); a “operação controlada” misteriosamente não
seguiu o dinheiro até Temer; e o Cade (oh, não!) recusou a vantagem
pretendida pela JBS...
Essa é a denúncia
histórica que mobilizou o gigante pela nova campanha da moralidade no
país. Como pano de fundo, temos o governo intrigante do mordomo, que
enxotou todos os ladrões da Petrobras bancando na presidência da empresa
um executivo que não transige com falcatrua. Medida estranha para um
chefão supremo de quadrilha. Enquanto isso, o ex-presidente da empresa
que obedecia ao PT é preso pela Lava Jato.
Vá montando o
quebra-cabeça aí, querido gigante. Aliás, seu último grande despertar
foi em junho de 2013, na chamada Primavera Burra – que não fez nem
cócegas no governo que estava arrancando as suas calças. Quer saber?
Durma bem, gigante!
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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