A Europa
nunca foi flor que se cheirasse, mesmo antes de implantar a tal de União
Europeia, cultivadora da ideologia globalista, confundida com
globalização, que é, na verdade, um processo objetivo, ocorrendo há
séculos, independentemente de partidos e nações. A propósito, escreve Vilma Grysinski: "a alta
burocracia europeia recorre a intimações e ultimatos ao país que mais
apoia a unificação, mas não cede na questão de aceitar imigrantes
muçulmanos". Do jeito que a coisa anda, a submissão da Europa ao
islamismo não levará mais de meio século:
Os dois
políticos mais poderosos da Polônia não ocupam nenhum cargo público. A
briga entre eles é brava e tem um alcance muito além das eternamente
complicadas fronteiras polonesas.
Um deles
é Donald Tusk, o alto, alinhado e elegante presidente do Conselho
Europeu. Ele foi primeiro-ministro da Polônia e só pensa em voltar a
ser. Seu partido, a Plataforma Cívica, é da estirpe vagamente de
centro-esquerda, alinhado com o ideário supra-nacional das elites
urbanas e globalizadas.
Tusk,
que é de uma minoria étnica, a dos pomerânios, deu o mais agressivo dos
muito recados violentos da União Europeia a seu país: existe um “ponto
de interrogação” sobre a permanência da Polônia na União Europeia.
O
responsável por esta dúvida, ele não precisa nem pode dizer, é o
político que realmente tem o poder na Polônia: o baixinho, irascível,
nacionalista e conservador Jaroslaw Kaszcinski.
Ele é o
líder do Partido da Lei e da Justiça. O mesmo da primeira-ministra Beata
Szydlo, discretíssima em suas funções executivas, e do presidente
Andrzej Duda.
Também
muito discreto em seu cargo quase que cerimonial, Duda chacoalhou as
águas da política ao vetar dois de três projetos de lei aprovados pelo
Parlamento relacionados a uma reforma no Judiciário.
Com um
dos raros sobrenomes poloneses pronunciáveis por não-eslavófilos, Duda
foi uma supresa na eleição presidencial de 2015. Quando assumiu, deixou o
Partido da Lei e da Justiça, mas é quase impossível imaginar um futuro
político em que sobreviva a um confronto com Kaszcinski.
VIOLÊNCIA DESPROPORCIONAL
É a
reforma parcialmente vetada pelo presidente que tem dado pretextos para a
burocracia europeia ameaçar a Polônia até de expulsão. Não tem nada de
autoritária, intrinsecamente, ao tornar postos nas altas cortes sujeitos
a indicações do executivo. É um sistema parecido com o vigente nos
Estados Unidos e também no Brasil.
Mas é
claro que qualquer mexida no Judiciário sempre provoca críticas de
partidos de oposição e suspeitas generalizadas de ânimos
intervencionistas.
Mesmo
com a aprovação perfeitamente democrática das reformas, o comando da
União Europeia deu no começo do mês um prazo de trinta dias para a
Polônia voltar atrás, um ultimato de violência desproporcional e sem
precedentes.
Ainda
por cima, a ameaça foi feita pelo nada diplomático Jean-Claude Juncker, o
presidente da Comissão Europeia abominado pelos eurocéticos. “Se o
governo polonês continuar a ameaçar a independência do Judiciário e o
estado de direito, só nos restará a alternativa de invocar o artigo 7”,
disse Juncker, com a crueza habitual.
CONTOS DE FADA
As ameaças contra o governo polonês envolvem até uma questão em princípio obscura de manejo florestal.
Está
certo que a floresta é a de Bialoweza, um tesouro natural onde
sobrevivem carvalhos milenares e outras árvores que formam um ambiente
escuro e cerrado, exatamente como nos contos de fada, com ursos e lobos.
Bialoweza
é um dos último remanescentes da floresta ancestral que recobria toda a
região da Europa do Norte e do Leste há mais de dez mil anos. Como a
Polônia, seu destino foi de resistência em meio a imensas tragédias.
Russos
czaristas ou soviéticos e alemães imperiais ou nazistas a ocuparam.
Durante a I Guerra Mundial, tropas alemãs caçaram o último dos bisontes.
A população dos magníficos animais depois foi recomposta a partir de
exemplares mantidos em zoológicos, chegando aos 800 bisontes atuais.
Segundo o
governo polonês, um inimigo minúsculo hoje a ameaça, um tipo de besouro
vermelho que vive sob a casca das árvores. Muitas estão sendo
derrubadas para combater a praga ou por questão de manejo, para apressar
a recuperação florestal.
A
questão da floresta de Bialoweza, que seria um ponto de confronto entre o
governo e os relativamente poucos militantes ambientalistas, também
serviu de pretexto para a União Europeia fazer outra ameaça das bravas.
Por que a União Europeia, numa fase de enfraquecimento depois do Brexit, ataca tanto um país como a Polônia?
Extremamente
favorecida depois da miraculosa recuperação da independência e do fim
do comunismo, a Polônia sempre retribuiu o apoio, as verbas e a política
de livre circulação da União Europeia com os maiores índices de opinião
positiva sobre a entidade supranacional.
ESQUECER, JAMAIS
Os
problemas começaram, justamente, pelo mais supranacional dos aspectos
das regras comuns: a exigência de que a Polônia aceitasse imigrantes da
Síria e de outros países muçulmanos.
A
proposta é tão impopular que até o partido de Donald Tusk, quando estava
no poder, fez corpo mole – e continua a não defendê-la abertamente. A
única circunstância que faz uma pequena maioria de poloneses – 51% – ser
a favor de sair da União Europeia seria na hipótese de sanções pela
rejeição às cotas.
Outros
países que foram satélites da União Soviética e se beneficiaram do
acesso à União Europeia também se opõem às cotas. Polônia, Hungria,
República Checa e Eslováquia formaram o Grupo de Visegrad para fazer uma
espécie de frente unida contra a imposição.
Viktor
Orban, o primeiro-ministro da Hungria, é o mais eloquente ideólogo do
grupo. Mas nenhum outro país tem um político como Jaroslaw Kaszcinski.
Nada preocupado em dar uma embalagem intelectualmente sofisticada à
rejeição à política de cotas de imigrantes, ele é da escola de jamais
esquecer e muito menos perdoar.
Compra
brigas com teimosia e ferocidade. Depois de anos de aproximação e
recomposição de relações com a Alemanha, ele simplesmente tocou fogo nas
pontes. Agora, o governo polonês passou a exigir indenizações de
guerra, um assunto que parecia pertencer ao passado.
GÊNIO DO MAL
Kaszcinski
tem outra briga, muito maior, com outro inimigo permanente da Polônia, a
Rússia. Baseada numa tragédia pessoal e nacional, a inimizade declarada
decorre da morte de seu irmão gêmeo, o presidente Lech Kaszcinski, num
acidente de avião.
Lech
Kaszcinski estava indo para uma visita oficial à Rússia, com uma
delegação do mais alto nível, justamente para um encontro que marcaria a
aproximação com a Rússia. O Vladimir Putin da época era bem diferente
do atual e havia feito uma série de críticas aos horrores cometidos
contra a Polônia na época do regime soviético.
O gêmeo
sobrevivente jamais aceitou o resultado das investigações russas sobre o
acidente que matou 96 pessoas em 2010, sobre uma combinação de mau
tempo e piloto ruim como causas. Muitos poloneses concordam com ele.
Jaroslaw
e Lech, que chegaram a fazer um filme infantil quando crianças, eram
unidos com o elo irreproduzível dos gêmeos no catolicismo fervoroso, na
oposição ao comunismo e no nacionalismo político. Jaroslaw não se casou e
é satirizado num programa humorístico der televisão como uma espécie de
gênio do mal, com um gato como única companhia.
Sua
coleção de inimigos até agora é formidável: Alemanha, Rússia e União
Europeia. Sem contar Donald Tusk, cuja reeleição para o Conselho Europe
tentou sabotar de todas as maneiras. Só outro Donald, Trump, mostrou uma
formidável simpatia e solidariedade com a Polônia. Com os Estados
Unidos de Barack Obama, a relação era estremecida.
Ao
contrário da sátira, Jaroslaw Kaszcinski não tem nada de gênio do mal,
mas a solidão é uma característica inegável. Tudo o que não pode fazer
é, na sua paixão pela pátria, transformar o que acredita ser a defesa
dos interesses – e do orgulho – nacionais em isolacionismo.
A Polônia com seus gatos pingados, embora tão valorosos, não pode ficar sozinha de novo.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
Nenhum comentário:
Postar um comentário