Uma das maiores loucuras permitidas sobre quatro rodas era o chamado Grupo B da FIA, que em meados da década de 1980 permitia carros de rali extremamente potentes disputando tomadas de tempo em trilhas estreitas e sem praticamente nenhum tipo de área de escape. Naquela época, Ferrari e Porsche duelavam com os modelos 288 GTO e 959. No entanto, em 1986 a FIA aboliu a categoria.
A Ferrari, que trabalhava num projeto para elevar o poder dos GTO’s, resolveu converter o carro de corridas num modelo de rua e em 1987 nasceu o F40, que levava em seu nome a marca dos 40 anos da famosa marca italiana.
Pé de boi
Extremamente simples, o carro não tinha janelas e nem mesmo maçaneta para abrir a porta. Era na base da cordinha. A caixa de fusíveis ficava à mostra diante do banco do passageiro. Ar-condicionado, rádio e ajuste dos bancos também eram ficção científica.
O argumento da Ferrari era que o F40 devolvia o espírito da escuderia e que seus carros estavam ficando muito sofisticados. Por isso, ela queria construir novamente um carro purista e de desempenho assombroso. A “conversa mole” do comendador Enzo Ferrari deu certo. Tanto que 1.311 unidades foram fabricadas, bem mais que 272 da 288 GTO, as 349 da F50, as 400 da Enzo e das limitadíssimas 209 da Ferrari.
Mas a F40 não era apenas uma sobra de projeto com interior vagabundo. As linhas agressivas do carro, com seu enorme aerofólio, tampa do motor translúcida, conjunto ótico duplo (com faróis escamoteáveis) e tomadas de ar do tipo NACA. Sob o capô imenso que se resumia a uma única peça ele aproveitava o V8 biturbo 2.9 do GTO, mas recalibrado para 478 cv. A transmissão era manual de cinco marchas.
324 km/h
Como todo supercarro, a F40 abusava de materiais leves, como fibras de vidro e carbono, o que ajudou a manter o peso abaixo dos 1.400 quilos. Com uma relação peso/potência perto dos três quilos para cada cavalo vapor, Enzo Ferrari tinha outro argumento na manga. Seu carro atingia a máxima de 324 km/h, que na época era (e até hoje é) um número invejável.
Na época, muitas publicações criticaram o carro, não apenas pelo acabamento, mas também pela performance. Um dos críticos foi o designer africano Gordon Murray, que testou o carro para uma publicação norte-americana.
Murray detonou a estrutura do carro, que se retorcia muito, e o conjunto mecânico –defasado. Coincidência ou não, seis anos depois, a Ferrari construiu um dos supercarros mais incríveis de todos os tempos, o McLaren F1. Me lembrou a motivação que levou Ferruccio a construir o primeiro Lamborghini!