Artigo de Alexandre Borges, publicado na Gazeta do Povo
(para o renitente esquerdismo acadêmico, sempre de costas para as
lições da História, trata-se de um jornal "reacionário", "direitista"
etc.), chama a atenção para os reveladores dados da recente pesquisa do
Instituto Ipsos. Alerta que os políticos devem tomar cuidado, pois há um
ovo da serpente sendo chocado pelos jacobinos do Grotão:
A pesquisa do Instituto Ipsos divulgada na última semana
traz alguns dados que merecem atenção. Levantamentos que medem o clima
da opinião pública costumam falar mais nas entrelinhas do que aparentam
aos leitores apressados.
A
imprensa deu destaque à associação que o brasileiro faz, não sem motivo,
do PT com os escândalos e crimes revelados pela Lava Jato. Nada menos
que 64% dos entrevistados associaram, de forma espontânea, o partido que
governou o Brasil entre 2003 e 2016 à operação, enquanto o PMDB,
segundo colocado, mereceu 12% de menções. O PSDB vem em terceiro com
ínfimos 3%.
O PT,
como “marca”, foi dizimado, o que as eleições municipais do ano passado
já mostraram. Lula, como sempre, está descolado do partido para uma
parte significativa da opinião pública, assim como a esquerda como
projeto político e ideológico não saiu chamuscada pela revelação da
bandalheira petista. Não há motivos para comemorar, já que petistas
criaram novos partidos, mudaram o discurso de outras siglas e estão por
aí como se não tivessem nada com a pilhagem dos cofres públicos
realizada nos últimos 14 anos.
Lula é
lembrado como ligado aos escândalos de forma espontânea por 57% dos
entrevistados, muito acima de Aécio Neves (44%) e Michel Temer (43%), o
que coloca um teto claro nas suas aspirações como presidenciável. Lula
hoje tem muito mais chance de ser escolhido indiretamente pelo Congresso
do que pelo voto popular, o que explica a campanha de parte da imprensa
e políticos pela queda imediata de Temer. Quando uma lista de políticos
é apresentada, Lula pula para 87%, empatado tecnicamente com Temer
(90%) e Aécio (88%).
A
percepção geral é que toda classe política atual é corrupta e precisa
ser substituída, investigada e punida por seus crimes. É o “pega pra
capar” que criminaliza a política em vez de apenas sanear seus quadros
pelas vias institucionais normais e democráticas. Basta considerar que
82% dos entrevistados acreditam que todos os partidos estão envolvidos
em crimes para se entender o humor da população. A popularidade de
Michel Temer é quase tão baixa quanto do goleiro Bruno.
O
brasileiro tem uma devoção quase religiosa em relação à Operação Lava
Jato, o que diz muito sobre o momento do país e que serve de recado
claro para quem quiser ter alguma idéia sobre os desdobramentos
possíveis do momento do país. Quase todos os brasileiros (95%) acham que
a Lava Jato deve continuar mesmo que traga “instabilidade” política e
econômica.
Não há
dúvida que o cidadão perdeu completamente a fé no atual establishment
político e pede mudanças, justiça, lei e ordem. O apoio incondicional à
Lava Jato mostra que o país sonha com uma cruzada moralizante e
redentora que coloque líderes percebidos como honestos e intolerantes
com a corrupção no poder. Não é a economia, estúpido.
O Brasil
sofre as consequências devastadoras da maior recessão econômica da sua
história e o eleitor quer, como solução, probidade, retidão de caráter,
patriotismo, altruísmo e coragem para combater as “máfias” do poder. O
país se sente roubado e está chamando a polícia.
Quanto
mais desordem, mais clamor por ordem. Enquanto o governo Temer busca
soluções econômicas para a crise, o Brasil vai ficando cada vez mais
frágil politicamente. Contra o clima de desesperança que se instala aos
poucos, a solução é política. O governo, que deveria liderar o combate à
corrupção com gestos claros e medidas de impacto, é cada vez mais refém
do clima jacobino de parte da imprensa, vive na defensiva e se mostra
incapaz de ditar a narrativa e a agenda do país.
A
população, cada vez mais cética, não vê saída clara para seus 15 milhões
de desempregados e 60 milhões de inadimplentes. Ela acredita, com
razão, que o judiciário não funciona do mesmo jeito para a elite
política e para o ladrão de margarina do mercado. O acordo de delação
premiada de Joesley Batista foi o último tapa na cara de um povo que
sabe que há algo de muito errado, injusto e corrompido na maneira como
os donos do país são responsabilizados por crimes, quando são.
A Lava
Jato é vista como uma tábua de salvação de um povo à deriva num país
afundando no mar de lama. O apoio à operação é a mensagem clara de quem,
antes de qualquer outra discussão, quer a tal “ordem” escrita na
bandeira e que vem antes do “progresso”.
Sem
entender o grito atual por justiça e o ceticismo em relação ao
establishment, a classe política do Brasil vai namorando com o caos
enquanto seus formadores de opinião e a imprensa invertem prioridades,
obcecados com a imposição de uma agenda social radicalmente impopular
que só interessa às elites urbanas hedonistas e inconsequentes.
Se o
Brasil quer mesmo brincar de França de meados do séc. XVIII, vai acabar
ganhando de presente jacobinos tardios e depois um Napoleão para
“colocar ordem na bagunça”. Ou o poder entende e aceita que precisa
fazer gestos claros e urgentes em direção à investigação e prisão de
corruptos, que passou da hora de se criar novas regras para coibir o
saque de dinheiro público como feito nos últimos anos, ou o final dessa
história não vai ser nada divertido.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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