Por Caroline Gois | Fotos: Reprodução / Abtec
R$ 300 milhões em dívidas, 1.500 demitidos e um prejuízo emocional e
financeiro para os trabalhadores. "Cinco já morreram de infarto por
conta da demissão. Muitos perderam plano de saúde. A situação está
crítica", afirmou o presidente da Associação Baiana de Trabalhadores da
Ebal/Cesta do Povo (Abtec), Francis Tavares, em conversa com o BNews, na manhã deste sábado (8).
Segundo ele, a Cesta do Povo, criada em 1979, passou por graves
problemas de gestão, o que desencadeou uma crise sem precedentes. Ele
revela que, em 2015, houve a possibilidade da compra da Cesta pelo grupo
Cencosud, ação que não foi executada já que o sistema financeiro de
Nova York proibiu a aquisição. "Deixamos de vender barato, de comparar
os peços do mercado e monitorar a economia dos municípios. Hoje, quem
vai querer pagar uma dívida de R$ 300 milhões avaliada em 2016, com
fornecedores e passivos trabalhistas? Os funcionários estão há dois anos
sem receber reajuste salarial e o governo não assinou a convenção
coletiva", ressaltou Francis.
Estoque da Cesta do Povo
Em 2 de outubro de 2015, um decreto foi assinado pelo governador Rui
Costa (PT), dando seguimento ao processo de privatização da Empresa
Baiana de Alimentos S/A (Ebal). No documento, o governador aprova "a
avaliação econômico-financeira atribuída à Ebal nos termos do relatório
conclusivo elaborado, com base em estudos de consultoria especializada".
O Tribunal de Contas do Estado (TCE) calculou um rombo acumulado na
Ebal de, pelo menos, R$ 381,8 milhões no governo de Jaques Wagner. O
valor corresponde à soma dos repasses feitos pelo Estado entre os anos
de 2007 e 2014 apenas para manter a Ebal em funcionamento.
Única rede de supermercados estatal no Brasil, o empreendimento tinha
acumulado um prejuízo de R$ 750 milhões. No ano passado, a situação
piorou e a Empresa Bahiana de Alimentos – Ebal, controladora da Cesta do
Povo, amargou uma perda de R$ 158,1 milhões. O leilão público proposto
pelo governo possuía uma cláusula que permita a absorção de um
percentual mínimo de funcionários pelos novos empreendedores, mas a
estrutura de 276 lojas e 2.769 funcionários em 229 municípios, não
despertou o interesse de nenhum comprador para o lance mínimo exigido
para a venda na época, R$ 81 milhões.
Ao assumir a Sefaz-BA em 2007, Carlos Martins disse que a dívida de R$ 320 milhões, na época, era fruto de um "descalabro administrativo"
"Quero que a Cesta do Povo seja liquidada, mas que haja recolocação no
mercado dos concursados. 1.200 estão na ativa, mas precisamos da
reintegração, além de garantir o plano de saúde para todos. Isso
aconteceu com a EBDA. Os concursados foram relocados para a Fundação
Luís Eduardo Magalhães e para a recente Bahiater", explicou.
Tavares compara ainda a situação da Cesta do povo com a do Hospital
Espanhol. "A Cesta do Povo pode sim fechar as portas. Queremos garantir
os direitos com as vendas do bens", afirmou, alegando que há mais de mil
processos trabalhistas em andamento. Uma reunião está marcada na sede
do Ministério Público do Trabalho (MPT) para discutir a situação.
Leilão remarcado
Pensando na garantia dos direitos dos trabalhadores, a Associação
entrou com uma ação no Ministério Público contra um leilão de bens,
marcado para o próximo dia 11. "O leilão é sobre os bens da Ebal, no
valor mínimo de R$ 2 milhões. A Ebal contratou um leiloeiro e não
publicaram um edital com uma justificativa prévia para que seria este
leilão. Tive a informação de que este dinheiro seria para financiar
novas demissões", relatou o presidente da Abtec.
Com isso, o MP fez a recomendação à Ebal, que desmarcou o leilão. De
acordo com Francis, ainda não há uma nova data marcada. A reportagem
tentou falar com a assessoria da Secretária de Desenvolvimento Econômico
(SDE), cuja gestão atual é do ex-ministro e ex-governador Jaques
Wagner, mas as ligações, bem como as mensagens, não tiveram êxito até o
fechamento desta matéria.
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