É aqui mesmo, Tomahawks: Kim Jong-Un e sua gangue não vão rir por último, mesmo com a guerra de 1 milhão de baixas e 1 trilhão de dólares. |
Vilma Grysinski, curta e certeira, sobre o exemplar da terceira geração de tiranos comunistas da Coreia do Norte: "não
faz mais sentido perguntar qual a estratégia do idiota no poder na
Coreia do Norte. Ele preparou a cama e agora vai ter que se deitar
nela":
A guerra pode ser a
salvação para os norte-coreanos, escravizados pelos japoneses durante a
II Guerra e depois por seus próprios líderes, a dinastia Kim. Para os
coreanos em geral, terá, obviamente, um custo terrível. Para o mundo,
será um tranco danado.
Mas a hipótese de uma
escalada catastrófica que levaria a uma intervenção da China, a
terceira maior potência dos nove países que têm armas nucleares, é
relativamente exagerada.
Os riscos não podem
ser minimizados, mas também não devem ser superdimensionados. Isso
costuma acontecer porque, de certa maneira, como os generais, muitos
analistas também “lutam a última guerra”. Ou seja, aplicam as lições do
último conflito a uma situação que parece replicá-lo.
Existem,
evidentemente, muitos paralelos com o conflito que começou em 1950 e, de
várias maneiras, continua até hoje. O mais impressionante é o da
“auto-contenção”, a opção política do presidente Harry Truman para não
bombardear o Exército do Povo, que havia entrado diretamente na Guerra
da Coreia, e, principalmente, não usar bombas atômicas para virar um
jogo que parecia perdido.
Detalhe
importantíssimo: em 1950, só os Estados Unidos tinham bombas de plutônio
operacionais. A União Soviética havia feito o primeiro teste nuclear um
anos antes, mas não tinha como lançá-las.
CASUS BELLUM
Truman, que havia
autorizado as bombas de Hiroxima e Nagasaki para obter uma rendição que,
com armas convencionais, teria causado enormes baixas entre os
americanos, seguiu a política de autocontenção na Guerra da Coreia.
Exatamente o mesmo
termo foi usado pelo atual comandante das forças americanas na Coreia do
Sul, general Vincent Brooks, para explicar o único motivo pelo qual
ainda não foi desfechada uma ação militar contra o Norte.
A justificativa para o
casus bellum é a sequência de testes com mísseis usados como veículos
para bombas nucleares. O ápice foi o foguete que voou durante 40
minutos, habilitando experimentalmente o regime de Kim Jong-Un a atingir
o Alasca.
O limiar é
inadmissível para os Estados Unidos e ponto final. Quem quiser, pode
ficar discutindo se é certo ou errado. Mas a realidade não vai mudar por
causa disso. Kim Jong-Un recebeu todos os avisos, os alertas, as
advertências, as ameaças. Outros ainda serão feitos, em termos mais
urgentes. Não ouviu nem ouvirá? Que aguente.
A divisão da
Península Coreana em dois países é a única que persiste no mundo
pós-Guerra Fria, como aconteceu com a unificação da Alemanha, ou guerra
quente, no caso do Vietnã.
MONSTRO PREFERIDO
A separação foi
consequência da II Guerra, que chegou ao fim com uma área de ocupação
americana, o sul, e outra sob controle soviético, ao norte. O avô do
ditadorzinho atual, Kim Il-Sung, com 26 anos de exílio, tinha sido
criado pelos soviéticos e escolhido para dominar a Coreia liberada por
ninguém menos que Laurenti Beria, o monstro preferido de Stalin.
A propaganda
soviética também produziu o mito de uma luta heróica contra o domínio do
Japão, instaurado em 1910 e levado a extremos de brutalidade, incluindo
a escravidão sexual, quando o império entrou no conflito mundial. Na
verdade, Kim Il-Sung havia lutado com forças chinesas contra os
japoneses, não em solo pátrio.
A associação da
ideologia comunista com nacionalismo independentista aconteceu em vários
países, mas na Coreia do Norte produziu um regime bizarro que viria a
romper com todos os aliados comunistas, embora continuasse recebendo
ajuda soviética até o fim. Literalmente, 1991.
A Coreia foi também o
único caso em que um levante comunista-nacionalista redundou em guerra
direta com os Estados Unidos, embora com mandato da ONU (no Vietnã, os
americanos davam “assessoria militar” ao governo do Sul).
Por ordem da URSS
stalinista e de um novo líder supremo chinês chamado Mao Tsé-tung, sob o
comando de Kim Il Sung, forças norte-coreanas e chinesas invadiram o
Sul. Os americanos, desmobilizados, só não levaram uma sova maior porque
o general Douglas MacArthur sabia uma coisa ou duas sobre guerra.
GENERAL ESTRESSADO
Só não sabia seus
limites: entrou em tantas brigas com o presidente Harry Truman, que foi
demitido, em pleno conflito, no maior caso de confronto entre um
presidente americano e um dos generais mais estrelados – e estressados –
da história. MacArthur queria bombardear diretamente a China e usar
armas nucleares.
Foi este o caso que
também produziu a melhor frase de Truman, um político sem carisma que
havia assumido a presidência pela primeira vez com a morte de Franklin
Roosevelt duas semanas antes da rendição da Alemanha, em 12 de abril de
1945.
“Eu não o demiti
porque ele é um filho da mãe tapado, embora ele seja”, disse Truman
sobre o legendário general. O termo usado não foi exatamente filho da
mãe.
A autocontenção de
Truman, praticada também em nome da preservação de vidas americanas,
redundou na transformação da divisão provisória em permanente. Kim Il
Sung transformou-se numa espécie de ditador por direito divino, usando
mitos religiosos para fundamentar um totalitarismo de matriz racial.
Gênio da Filosofia e
Gênio da Música foram alguns dos milhares de títulos criados para ele e,
depois, transmitidos para o filho, Kim Jong-Il. O povo, doutrinado em
padrões que fariam o ápice do maoísmo parecer uma sociedade libertária,
só tinha uma opção: obedecer. E louvar a própria miséria como um padrão
de vida sem igual no mundo todo.
MORTOS DE FOME
Uma rápida
comparação. Quando, com o fim da União Soviética, também acabou a mesada
dos estados-clientes, Cuba entrou no “período especial” de falência
alimentar. Os cubanos emagreceram em massa, mas o regime forçado
diminuiu em até a metade a morte por doenças cardiovasculares e diabetes
tipo 2, associadas à alimentação. Na Coreia do Norte, o número estimado
dos mortos de fome, pelo mesmo motivo, é de 500 mil.
Mas até pelos padrões
norte-coreanos de lavagem cerebral a figura de Kim Jong-Il é associada,
mesmo que nos mais profundos recônditos, à grande fome dos anos 90. É
por isso que seu filho, o baby Kim, procura acentuar a semelhança física
com o avô – inclusive, plantam os sul-coreanos que monitoram os irmãos
inimigos, com cirurgias plásticas.
Kim Jong-Un também
tem um programa de obras públicas vistosas e obras privadas mais
visíveis ainda, como mandar matar o tio, por rivalidade política, e o
irmão que vivia exilado, mas poderia ser uma alternativa de poder.
Mas seu projeto mais
espetacular é o da aceleração do programa nuclear bélico, iniciado pelo
pai. A cada novo teste, Kim e seus generais são fotografados em poses
efusivas, dando risada. Depois do ateste com o míssil que voou 940
quilômetros sobre o mar, ele mandou dizer que haveria mais “pacotes de
presente”, grandes e pequenos, para “os ianques”.
Donald Trump pôs na
mesa uma série de argumentos para a China cortar as linhas vitais que
permitem ao baby Kim sobreviver e ainda tripudiar. O novo presidente da
Coreia do Sul, Moon Jae-In, também tentou uma política de acomodação,
mandando suspender a instalação dos mísseis interceptadores americanos
que incomodavam a China.
Existe ainda espaço
para uma saída diplomática? Acreditar que sim faz parte do jogo,
especialmente diante dos custos de uma guerra. Um dos cálculos mais
citados é o de um ex-comandante americano na Coreia do Sul, general Gary
Luck: um milhão de baixas em custo humano e um trilhão de dólares em
perdas econômicas.
É poder saber que os
adversários farão de tudo para não sofrer estes custos que baby Kim ri e
tripudia deles. Até que passe do limite claramente especificado. Daí,
só Tomahawk dá jeito. (Veja.com).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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