MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 16 de julho de 2017

A Razão da Estagnação



É assustadora a confusão disseminada pelo jornalismo econômico brasileiro.
Quase todos os jornais estampam como manchete de primeira página as decisões do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sobre a taxa de “juros”.
A verdade é que ninguém sabe qual será a taxa de juros.
Para sabermos a taxa de juros teremos de esperar um ano inteiro, e aí verificar qual foi a inflação do período e descontá-la da taxa do Copom.
Só então saberemos o nível dos juros deste país, para tomar, tardiamente, as decisões financeiras apropriadas.
Aliás, uma das razões dos juros altos é justamente esta: ninguém sabe ao certo qual será o verdadeiro juro que receberá dos títulos públicos nos próximos doze meses, um absurdo monumental.
Desde 1994, o Brasil adotou o chamado nominalismo econômico, em que os juros dependem da inflação futura, abandonando o realismo econômico de até então, quando os juros eram reais e não nominais.
Depois de 1994, todo investidor é obrigado a chutar, prever, adivinhar a inflação futura embutida na taxa do Copom. Ou contratar, a peso de ouro, ex Ministros da Fazenda.
Ninguém tem mais certeza da inflação, nem dos juros.
Como fruto dessa incerteza, os aplicadores acrescentam um prêmio de risco elevadíssimo para se precaver.
Antes de 1994, para quem não se esqueceu, os títulos da dívida interna eram precificados por seus juros reais, e não pelos nominais como agora.
Infelizmente o governo FHC, não entendendo a essência do Plano Real, reimplantou o nominalismo econômico, cuja primeira consequência foi aumentar o risco e a incerteza quanto aos juros futuros.
Na era do realismo econômico os juros eram menores, justamente porque os juros reais eram transparentes e previamente conhecidos.
Quem está criando essa volatilidade toda não são os investidores estrangeiros, mas essa política econômica nominalista que permite que o juro real flutue mês a mês, de forma imprevisível, numa volatilidade made in Brazil, que aumenta nosso risco à toa.
Tenho um título brasileiro de 1907 com juros de 4,5% ao ano, quando o capital era escasso e o Brasil, um fim de mundo. E prazo para pagar de 60 anos.
Por que pagamos mais do que o dobro hoje, num mundo com capital abundante?
Os 4,5% de 1907 eram reais e não nominais.
Eram denominados em barras de ouro, na época a melhor garantia contra a inflação, e rendiam 4,5% de juros transparentes e sem incertezas.
Foi a eliminação do padrão ouro que introduziu o nominalismo econômico e resultou na recessão de 1929.
Para piorar essa situação, o governo FHC introduziu o nominalismo econômico também na taxação dos juros.
Hoje, ninguém sabe ao certo como os juros serão taxados no final da aplicação, depende da inflação futura.
O imposto se tornou volátil. Pode ser 20% do rendimento dos juros, se não houver inflação, pode ser 50%, 60% e até 80% se a inflação for elevada.
Mais um risco que o investidor acrescenta aos juros.
O nominalismo econômico foi responsável pela crise da dívida externamundial de 1983, pelo enfraquecimento do sistema bancário internacional, pelos equivocados Acordos da Basileia, pelo surgimento dos fundos especulativos, pela volatilidade do nosso Bônus 40, pela aceleração da inflação, enfim, pela maioria de nossos problemas.
O abandono dessa escola nominalista reduziria de imediato nosso juro, traria títulos com juros precificados, como todos os demais produtos deste país, com uma taxação clara e conhecida.
Temos muitos economistas competentes da escola realista, e eles são muito facilmente identificáveis.
Basta perguntar qual o juro determinado pelo Copom que eles respondem: “Honestamente, não sei”.
Daqui a um mês, quando noticiarem que o Copom “baixou” ou “aumentou” juro, lembrem-se deste artigo.
Vocês só saberão a verdade no ano que vem.

Revista Veja, Editora Abril, edição 1857, ano 37, nº 23, 9 de junho de 2004, página 23
BLOG STHEPEN KANITZ

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