MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 11 de junho de 2017

Quem é Rocha Loures, o homem da mala, e por que ele vai delatar Temer. Por Geraldo Muniz


 
Temer e Rocha Loures
POR GERALDO MUNIZ, de Curitiba.

É da Boca Maldita, o folclórico e tradicional quarteirão no centro curitibano, frequentado por políticos, empresários, boateiros conhecidos, os desocupados de sempre ou simples curiosos, que vem a certeza absoluta e irretorquível: “Rodriguinho” delatará.
Rodrigo Rocha Loures, o filho, foi criado como príncipe. Todos o viam assim. Educado, elegante, extremamente simpático e prestativo. Filho de uma tradicionalíssima família curitibana, daquelas cujo sobrenome abre portas, independente do dinheiro, cheio de primos e de tios, frequentador dos dois clubes da elite local, o Graciosa Country e o Curitibano etc e etc.
E Rodriguinho, um bom sujeito, trazia um segredo conhecido e pouco dito pela elite local. Príncipe herdeiro de uma família respeitada e querida, ele é o filho do único Rocha Loures. Antes de ser anteparo para Michel Temer, Rodriguinho serviu para limpar a barra do pai.
Encontraremos Rodrigo em São Paulo, em 2000, voltando da Europa com as barrinhas de cereal e dinamizando a empresa do pai, empresário polêmico e falido. Lança as barrinhas “Nutry” e dinamiza a empresa que seu velho havia quebrado alguns anos antes ao perder contratos do governo federal.
A primeira experiência empresarial de Rodriguinho foi exitosa e feliz. E mostrou aos curitibanos e à própria família uma diferença imensa entre ele e o pai. Apesar de profundamente ligados, numa relação quase perfeita, o filho demonstrava mais cuidado nas relações humanas e mais seriedade no trato empresarial. Passaram a ser o Rodrigo bom e o Rodrigo mau.
A Nutrimental, que viveu o seu auge na ditadura militar, protegida pelo ex-ministro da educação Ney Braga, donatário da capitania paranaense durante o regime de 64, fartou-se em dinheiro do MEC fornecendo misturas lácteas indigentes para a alimentação escolar.
Rodrigo, o pai, fez-se milionário. Tempos depois, sequer atendia os telefonemas do velho cacique que tanto o ajudou e morreu profundamente magoado com o ex-protegido.
A vistosa sede da Nutrimental em São José dos Pinhais, na avenida que liga o aeroporto ao centro de Curitiba, transformou-se em um mausoléu, abandonado e entregue ao mato que crescia. Enquanto isso, os Rocha Loures, pai e filho, inauguravam duas coberturas espetaculares em São Paulo, próximas ao aeroporto de Congonhas. Quem já teve a chance de ir até lá as classifica como verdadeiras homenagens à arte do bem viver e morar.
Recuperada a Nutrimental e o caixa de pai e filho, em 2003 Rodrigo filho assume a chefia de gabinete do governador Roberto Requião (PMDB). Sua presença simpática e suave na antessala do polêmico Requião foi um bálsamo para os paranaenses.
Resolveu conflitos, serviu a Requião com discrição e competência, fez amigos e… ajudou o pai. Com a máquina oficial nas mãos, colocou o secretariado estadual para pressionar os sindicatos patronais e federações industriais do Estado e desalojou da poderosa FIEP, a Federação das Industrias do Estado do Paraná, o rico empresário e ex-senador José Carlos Gomes de Carvalho, o pitoresco “Carvalhinho”.
Rodrigão, entronizado na vistosa sede da FIEP, uma espécie de pirâmide que os curitibanos admiram e os arquitetos e experts abominam pelo evidente mau gosto, traiu um a um os apoiadores.
“Rodrigão foi rejeitado pela CNI e pelas lideranças locais. Se deu bem, mas foi mamoeiro tuberculoso, só deu uma safra”, conta um destacado líder dos produtores de artefatos de madeira do Estado.
“O filho, coitado, está pagando o carma dele. Há sujeitos aqui no Paraná que você não pode e não deve chegar perto. O Roberto Bertholdo, que é o operador do Ricardo Barros lá no ministério da Saúde, já foi preso e está condenado pelo Sérgio Moro e solto por um HC do Lewandowsky; o Luis Abi, primo e operador do Beto Richa, que foi preso; o Giovani, que elegeu o Greca… Essa turma vive olhando o dinheiro público com olhos de ratazanas”.
“Rodriguinho nunca fumou maconha, nunca mentiu, nunca ficou de recuperação, nunca tirou nota baixa, foi um menino exemplar, estudou no exterior, era o genro que toda sogra sonhava. As tias velhas estão sedadas, tá todo mundo de óculos escuros na família Rocha Loures, um chororô geral. É como se encontrassem o papa Francisco numa boate gay na periferia de Roma”, afirma um político paranaense que me recebeu sob condição de preservar o anonimato.
“Quando o Temer disse que ele tem boa índole, talvez tenha dito a única verdade em toda sua vida!”. 
Rodriguinho, depois de fazer do pai o presidente da poderosa FIEP, se elege deputado federal em 2006 pelo PMDB. Uma campanha bem fornida e organizada. Foram milhões de reais em centenas de municípios paranaenses, onde pingaram seus votos.
Em Brasilia o rapaz educado, discreto, elegante, bem-vestido, com fama de bom caráter, generoso e sempre pronto a pagar a conta do restaurante e dar boas gorjetas aos garçons, se torna amigo e sombra do presidente do partido e futuro vice-presidente Michel Temer.
Torna-se um homem forte e, paradoxalmente, começaria aí a sua desgraça.
Na eleição municipal seguinte, para surpresa do mundo político e empresarial paranaense, Rodrigão, o pai, resolve ser candidato à prefeitura da cidade de São José dos Pinhais, exatamente onde ficam grandes empresas, o aeroporto de Curitiba e a sede da sua Nutrimental.
Campanha rica, muito cara, o empresário de sucesso, o dândi que viajava em jatinhos e vivia em São Paulo visitando bairros periféricos e pedindo votos a pessoas que nunca o viram em toda sua vida.
Michel Temer, já amigão do filho deputado, deixa o Jaburu e despeja suas mesóclises em comício movimentado na periferia da cidade industrial, prometendo mundos e fundos pela eleição do amigo pai do amigo. Terceiro lugar. 
Em 2010, o PMDB do senador Roberto Requião indica Rodriguinho para ser o vice-governador na chapa do senador Osmar Dias (PDT), irmão do belicoso senador Álvaro Dias (PV), em coligação no segundo turno com o PT da senadora Gleisi Hoffman.
Saíram todos pelos sertões paranaenses numa caravana rolidei incrível, em aviões e helicópteros, carreatas e comícios, em campanha tão milionária quanto a do tucano Beto Richa, que acabou vencendo por muito pouco.
Sem mandato, Rodriguinho, que ia ser vice-governador do Paraná, virou assessor do vice-presidente da República. Nada mau. Tornou-se onipresente e poderoso. Em 2014, tenta se eleger deputado federal novamente. Campanha milionária, arrecadação imensa (por fora, segundo se comenta no meio político paranaense), e fica como primeiro suplente.
Isso, agora, será a sua desgraça.
Magoado, Osmar Serraglio recusou o Ministério da Transparência e abriu a porta da cadeia para o Rodrigo bom. De-li-be-ra-da-men-te. 
Rodrigo Rocha Loures Filho era o falso príncipe herdeiro da falsa aristocracia de um Estado em evidente decadência política, social e econômica. Era uma das figuras exponenciais de uma cidade provinciana que se crê semelhante a Milão, Barcelona ou Paris.
Pois é. Em muito poucas horas, pelas trapaças da sorte e pela caneta de outro curitibano, o ministro Edson Fachin, ele deixará de ser príncipe para ser um sapo.
Um sapo na gaiola, por obra e graça das imagens inesquecível de algo nada nobre: a corridinha malandra, a mala cheia de dinheiro sujo, na porta de uma pizzaria, no bagageiro de um táxi, na noite paulistana.

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