Falta a Temer combater o
lulopetismo com suas próprias artimanhas, como fazer prevalecer sua
visão dos fatos, mesmo que estes, no caso petista, contrariem
brutalmente a realidade. Editorial do Estadão:
O PT mente com
tamanha determinação e energia que, mesmo sendo o principal responsável
pela crise econômica, política e moral que o País hoje enfrenta,
consegue aparecer, pasme o leitor, como a vanguarda da luta contra um
governo em cuja testa pregou o estigma de “corrupto” e “inimigo do
trabalhador”. Se há algo que o governo de Michel Temer poderia aprender
com os aguerridos petistas, é justamente o vigor com que eles se dedicam
à tarefa de fazer prevalecer sua versão dos fatos, mesmo que esta, no
caso petista, contrarie frontalmente a realidade. Tivesse metade dessa
garra ao defender as reformas que encaminhou e ao denunciar o descalabro
que herdou da trágica era lulopetista, certamente o presidente Temer
estaria em melhor situação.
É certo que a mentira
frequenta certos círculos políticos, mas, numa época em que,
infelizmente, a verdade aparenta importar cada vez menos, o PT parece
ter entendido muito bem o poder do discurso que seja apenas “lógico”,
isto é, que faça “sentido”, embora não guarde relação nenhuma com a
realidade. Se é de uma batalha que se trata, travada entre a realidade e
a “pós-verdade” – termo que designa as circunstâncias em que as crenças
pessoais são mais importantes do que os fatos objetivos –, o PT está
claramente muito mais bem preparado para ela do que seus adversários.
Para um partido que
foi dado como praticamente aniquilado depois do impeachment da
presidente Dilma Rousseff e da grande derrota nas eleições municipais de
2016, o PT ainda consegue atrapalhar, e muito, o necessário debate
nacional. Basta que seu chefão, Lula da Silva, empunhe um microfone para
que os grandes dilemas e desafios nacionais se reduzam a um confronto
pueril entre o bem – representado pelos petistas, naturalmente – e o
mal, encarnado no “resto”, em especial nos “golpistas” alinhados a
Temer, na mídia e nos empresários gananciosos.
É claro que,
deflagrada nesses termos, tal batalha exige muito mais do lado de quem
precisa governar, isto é, lidar com os fatos da vida real, do que
daqueles que não têm nenhuma responsabilidade. Enquanto Lula da Silva
grita por aí que “voltou a ter criança pedindo esmola” e que “nós
sabemos como fazer a economia crescer, como criar emprego, como aumentar
salário”, o presidente Temer e sua competente equipe econômica precisam
articular politicamente apoio a medidas de austeridade que são, por sua
própria natureza, impopulares. Não é difícil imaginar quem sairá mais
lanhado desse embate.
Queixar-se de que
Lula está a desferir golpes abaixo da linha da cintura e tentar
desmentir cada uma de suas patranhas, como se a verdade pudesse dessa
maneira prevalecer, é justamente o que o demiurgo petista pretende. Os
petistas em geral, e Lula em particular, têm certeza de que uma parte do
eleitorado prefere acreditar nas suas mentiras delirantes, pois elas
são um confortável refúgio ante o desafio de reconstruir o País à custa
do sacrifício de todos. É perda de tempo, portanto, chamar os petistas à
responsabilidade, porque eles nunca se dispuseram a colaborar
efetivamente para a melhora da vida nacional, dado que estão preocupados
apenas com seu projeto de poder, que está na gênese de toda essa crise.
O governo Temer faria
melhor se viesse a público com a mesma determinação de seus tinhosos
adversários petistas e defendesse de forma mais enfática as reformas
econômicas de que o País tanto necessita. Também faria melhor se
demonstrasse, ao mesmo tempo, o mal que o PT causou ao Brasil. Em
situações normais não é elegante que um governante fique a justificar
suas dificuldades citando a “herança maldita” de seu antecessor, mas
definitivamente não vivemos tempos normais.
Nada garante que essa
estratégia assegurará um triunfo completo sobre as mentiras de Lula e
sua turma, mas pelo menos arregimentará, para o governo, um apoio mais
vibrante do Brasil decente, que sabe muito bem o que o PT fez ao País e o
que é preciso fazer para sair da crise.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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