Artigo impiedoso de José
Nêumanne, publicado hoje no Estadão, aborda o prostíbulo que o maldito
lulopetismo legou ao país - e que envolve os três Poderes da República:
A entrada dos irmãos
Batista de Anápolis, Goiás, no noticiário político-policial com a visita
de Joesley ao presidente Michel Temer no porão do Jaburu inicia uma
devastação de reputações. A primeira é a do anfitrião, Temer, que já
havia sido citado em delações e se comporta de forma permissiva com seus
sete ministros delatados. No caso dele, parecia ponto pacífico que não
seria atingido por investigação policial, acusação do Ministério Público
nem condenação judicial, pois só pode ser incriminado por delitos
cometidos no exercício da Presidência.
Com a delicada
situação política e a necessidade de confiabilidade para conduzir a
economia à recuperação, parecia difícil ele se arriscar a um flagrante. A
visita de Joesley surpreendeu a todos, pois nada a justifica, a não ser
a certeza absoluta da impunidade e o total desprezo pela inteligência
alheia. No entanto, deu-se o que menos se esperava: uma delação premiada
(!) dos acionistas e executivos da holding J&F e uma ação
programada da Polícia Federal (PF) e do Ministério Público Federal (MPF)
flagraram Temer ouvindo um delinquente, acusado em cinco operações
policiais, a confessar delitos que levantam suspeitas claríssimas de
crimes cometidos de corrupção passiva, organização criminosa e obstrução
da investigação. Mas, em vez de negar com fatos as acusações, Temer
mostrou-se obsessivo em ficar no governo, alegando que precisa completar
sua cruzada contra a recessão e tendo a seu favor a indefinição quanto à
sua substituição.
Após O Globo ter
noticiado o prêmio excessivo aos irmãos Batista, a Veja informou que a
Agência Brasileira de Inteligência (Abin) foi encarregada de encontrar
algum deslize na biografia do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF)
Luiz Edson Fachin, que homologou a delação premiada. Isso para evitar
que ele relate a investigação pedida pelo procurador-geral da República,
Rodrigo, Janot, que acusa Temer de tais delitos. E Eliane Cantanhêde
relatou a descoberta de grampo em telefone da Procuradoria-Geral da
República (PGR).
Em nota oficial, o
Palácio do Planalto assegurou que o presidente jamais mandou a Abin
investigar Fachin e também que “o governo não usa a máquina pública
contra os cidadãos brasileiros, muito menos fará qualquer tipo de ação
que não respeite os estritos ditames da lei”. A revista identificou a
fonte como um auxiliar do presidente “que pediu para se manter no
anonimato porque não está autorizado a falar publicamente sobre o
assunto”. Mas a presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra
Cármen Lúcia, retrucou, também em nota, que é “inadmissível a prática de
gravíssimo crime contra o Supremo Tribunal Federal, se confirmada a
informação divulgada pela revista”. Para ela, essa prática é “própria de
ditaduras”.
O procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, por sua vez, divulgou nota afirmando que, “a
se confirmar tal atentado aos Poderes da República e ao Estado de
Direito, ter-se-ia mais um infeliz episódio da grave crise de
representatividade pela qual passa o País”. Segundo ele, na hipótese de
confirmação da notícia, “em lugar de fortalecer a democracia com
iniciativas condizentes com os anseios dos brasileiros, adotam-se
práticas de exceção”.
Todos têm alguma
razão, mas ninguém a tem por inteiro. Absolvido por 4 x 3 pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), o presidente saiu ileso na Justiça Eleitoral
em episódio conhecido como “o enterro das provas vivas”. E tergiversa ao
responder às acusações que lhe são feitas. Em vez de explicar seu
mutismo perante o visitante “falastrão”, usa argumentos paralelos que em
nada o inocentam. E não respondeu às 82 perguntas da Polícia Federal no
inquérito sobre a visita de Joesley, preferindo representar o papel de
Lula perante a Lava Jato e Moro: o de humilhado e ofendido, que não lhe
cai bem. Mas a unanimidade popular que o reprova também não aceita a
anistia dada pelo MPF e pelo STF aos criminosos confessos da J&F.
Fachin ainda não
desmentiu categoricamente os cochichos de corredor que narram suas
visitas a senadores para ser aprovado para o STF acompanhado por um dos
delatores premiados da J&F, Ricardo Saud. Se todos os ministros do
Supremo fizeram idêntico périplo na vez deles, também devem explicações
ao distinto público. E decerto não cabe a Cármen Lúcia tentar tapar com a
peneira da ditadura as evidências solares de que o acordo feito com os
delatores foi benéfico demais para eles. Há mistérios demais nesse caso,
que não comporta falta de transparência. Diz-se que os irmãos Batista
foram ameaçados de morte e por isso lhes foi concedida fuga protegida
para o exterior. Mas até agora ninguém apresentou uma evidência sequer
de tais ameaças e isso protege ao mesmo tempo as eventuais vítimas e
seus possíveis algozes. Joesley teve a ousadia de gravar a maior
autoridade do País, mas não fez o mesmo para comprovar as ameaças que
teria recebido.
Para fazer justiça,
urge pôr essas conversas todas a limpo, sem continuar escondendo suas
verdadeiras motivações. Antes de flagrado, Temer disse que quem, como
ele, foi secretário de Segurança de São Paulo e presidente da Câmara dos
Deputados não pode ser acusado de ser ingênuo. Agora, a única
justificativa que encontrou para explicar as causas e circunstâncias de
sua conversa suspeita em palácio foi ingenuidade. Está na hora de
esclarecer tudo, partindo de um pressuposto comum: não há ingênuo algum
nessa presepada. Nenhuma das personagens citadas é tolinha nem pode
fingir-se de quadro de São Jorge em prostíbulo, metáfora usada por
Gilmar Mendes. Nesse prostíbulo metafórico onde atuam todos não há
quadros de santos nas paredes. Apenas cartazes de “procura-se”.
E que ninguém me
venha com essa patacoada de que não há substitutos para os mandatários
dos três Poderes atingidos no tiroteio. Há, no mínimo, 200 milhões de
brasileiros honestos o suficiente para substituí-los nas tarefas que
poucos deles não desonraram.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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