Por Folhapress | Fotos: Reprodução / Google
Quando chegou a São Paulo para prestar vestibular, na década de 1960,
Rodrigo Rocha Loures, pai e homônimo do filho deputado preso em
Brasília, não conseguia dormir por causa do barulho. "Aquele barulho de
trem, de bonde", contou, numa palestra a estudantes.
Nascido em Curitiba, de tradicional família paranaense, seu destino era
cuidar das fazendas dos Rocha Loures no Norte do Paraná -pelo menos
assim queria o pai. Em vez disso, o jovem que sonhava em ser
empreendedor cursou administração e foi um dos fundadores da
Nutrimental, empresa de alimentação com faturamento de R$ 300 milhões,
pioneira em barrinhas de cereal no Brasil.
O filho, atualmente detido no presídio da Papuda sob suspeita de
receber propina da JBS, integrou um importante capítulo da história da
empresa, que hoje vive um período de vacas magras -mas não por causa da
prisão de Rodriguinho, afastado da diretoria desde 2002. Ele foi o
responsável, como gerente de marketing e novos mercados, por encampar a
ideia da barrinha nos anos 1990, que virou o carro-chefe da empresa.
"É o Zé Alencarzinho do Paraná", cunhou o presidente Lula sobre o então
candidato a vice-governador do Paraná, na chapa de Osmar Dias (PDT),
que perdeu a eleição. A comparação com o vice-presidente, o industrial
José Alencar, parecia apropriada.
À época, a Nutrimental registrava recordes de faturamento. Fundada em
1968, ela foi uma das principais fornecedoras de merenda escolar no
país. "Nós inventamos uma sopinha bem brasileira", costuma dizer Rocha
Loures, o pai, sobre o processamento de pó de feijão, cebola, alho e
macarrão. A mistura, feita com tecnologia inédita, foi vendida em todo o
Brasil por pouco mais de 20 anos.
Em 1991, suspeitas de superfaturamento suspenderam os contratos da
empresa e de outras concorrentes com o governo federal. O TCU (Tribunal
de Contas da União) relatou sobrepreço, pagamentos antecipados e
aditivos em excesso. O governo deixou de pagar o que devia, e a maioria
das empresas quebraram. A barrinha foi a salvação da Nutrimental,
inspirada em um "pé de moleque gringo".
PÉ DE MOLEQUE
Quem levou a sugestão foi a antropóloga Mary Allegretti, que trabalhava
com comunidades amazônicas e experimentou barrinhas de castanhas
brasileiras nos EUA. Ela queria desenvolver produto semelhante numa
empresa nacional, usando castanhas amazônicas e revertendo parte da
renda aos produtores. Allegretti não conhecia Rodriguinho. "Bati na
porta e quem me atendeu foi o próprio", conta à reportagem.
Recém-formado em Administração, ele tinha 24 anos. Foi "muito receptivo"
à ideia, diz a antropóloga, e chegou a viajar ao Acre e Amapá para
conhecer a produção de castanhas. "A equação era: a menor quantidade de
castanha ao maior valor agregado possível", contou o deputado, numa
entrevista concedida em 2009. A ideia era preservar a floresta, sem
extrair matéria-prima excessivamente.
A Nutrimental tinha tecnologia para isso: poucos anos antes, havia
desenvolvido alimentação desidratada para o navegador Amyr Klink, que
atravessou o Atlântico. Ao longo dos últimos 20 anos, a empresa se
profissionalizou. Proibiu a ocupação de cargos executivos pelos sócios
ou seus herdeiros, como forma de proteger a companhia, e instituiu um
sistema de gestão horizontal, em que os funcionários participam das
decisões. Pai e filho se afastaram da direção.
Demonstrando inclinação à política, o patriarca foi presidente da
Federação das Indústrias do Paraná por oito anos e concorreu à
prefeitura de São José dos Pinhais, sede da Nutrimental, em 2012. Ficou
em terceiro lugar. "A empresa que só pensa no lucro é pobre. Não tem
grandeza. A causa é que move as pessoas", afirmou, em entrevista
recente, Rocha Loures pai, que é considerado uma referência em
sustentabilidade e inovação. Hoje, se dedica à defesa do filho. Com a
crise, a Nutrimental reduziu os investimentos a quase zero e cortou
funcionários. O prejuízo nos últimos anos é de R$ 31 milhões.
Ainda é, porém, líder no mercado de barrinhas. Em 2016, parou de
fornecer à administração pública brasileira -mercado que "não tem mais
importância econômica para os negócios da empresa", segundo a diretoria.
Na sua última campanha para deputado, em 2014, Rodriguinho esteve na
Nutrimental. Circulou pela fábrica e distribuiu santinhos aos
funcionários. Não se reelegeu.
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