Exército de Israel: 50 anos atrás. |
Os
últimos atentados na Inglaterra expuseram para quem quiser ver
praticamente todas as páginas do manual de como um Estado poderoso e
altamente equipado pode perder para terroristas armados com facões.
A
palavra-chave é simples: medo. Medo de provocar reações negativas. Medo
de dar a impressão de comportamento abusivo. Medo de se indispor com a
“comunidade”.
E, acima
de tudo, medo de enfrentar manifestantes, advogados e políticos
dispostos a defender terroristas em potencial como se fosse vítimas de
discriminação e do sistema mau que quer impor limites às liberdades
públicas.
Imaginem
os coitadinhos que não possam viajar para a Síria, o Iraque e o
Paquistão fazer seus cursos de graduação em extermínio de crianças,
mulheres e homens. Onde fica o direito de ir e vir?
A parte
de vir envolve o retorno desses assassinos munidos de passaportes que
lhes conferem o direito inquestionável de voltar dos cursos avançados de
terror e esperar o momento adequado para por seus conhecimentos em
prática.
GANGUE DOS TRÊS
Aos que
ficam na Inglaterra mesmo, a liberdade de opinião garante que preguem a
extinção de todos os fundamentos do próprio estado de direito.
Incluindo democracia, igualdade de todos perante a lei, sexo consensual
entre quem tem idade para consentir, emancipação das mulheres. Imaginem
só, falar em emancipação das mulheres a essa altura dos acontecimentos.
As
revelações sobre o chefe da gangue dos três que tocaram o terror na
London Bridge mostram que foi denunciado por vizinhos, “entrevistado”
pela polícia, filmado num documentário sobre jihadistas com a bandeira
do Estado Islâmico.
E o que
aconteceu? O sujeito trabalhou no metrô do Londres, bem na estação de
Westminster, a do Parlamento britânico. Ao lado do lugar onde um colega
atropelou e esfaqueou cinco.
E o que
aconteceu? Foi dispensado, depois de um período de experiência, porque
faltava muito. Logo, logo descobrem que levou uma boa indenização.
Aliás, o uso de benefícios sociais e bolsas de estudos para financiar
terroristas já está bem comprovado na Inglaterra.
Vejam os
números: pelo menos 800 ultra-radicais que entraram para o Estado
Islâmico e foram praticar atrocidades na Síria e no Iraque estão de
volta à Grã-Bretanha. O total de “jihadistas”, a designação suave, é de
mais de 3 000.
Mas,
depois do homem-bomba de Manchester, vieram à tona números que mencionam
23 000 simpatizantes de alguma maneira ativos do extremismo islâmico.
TRINCHEIRA NO QUINTAL
Como os
serviços de segurança altamente formados, sofisticados, equipados e
experientes deixam passar tantos casos de extremistas que só faltam
carimbar “terrorista” na testa?
A
explicação deve estar na doutrina, não nos quadros. Entra aí uma pequena
história da espantosa Guerra dos Seis Dias, relembrada agora porque
completa cinquenta anos.
É
difícil para quem vê, hoje, a superioridade bélica, material, pessoal,
profissional, estratégica e logística de Israel imaginar que, cinquenta
anos atrás, o país enfrentava uma real possibilidade de extermínio.
Contra
Israel, nos campos de batalha, juntavam-se os exércitos de Egito, Síria e
Jordânia, mais a participação relativamente simbólica de Iraque e
Líbano. Outros sete países, além da OLP, a Organização de Libertação da
Palestina, a principal interessada, também participavam.
No livro
A Porta dos Leões, de Steven Pressfield, escritor americano que tem a
vantagem de ter sido fuzileiro naval, muitos das pessoas que relatam
suas memórias sobre os dias antes da guerra-relâmpago lembram como
ouviam um famoso locutor egípcio anunciando dia e noite pelo rádio:
“Judeus, vocês vão ser jogados no mar”.
“Cortem
as gargantas deles” era a música mais popular em Damasco, entoada em
manifestações de rua. Moradores da fronteira com a Jordânia viam,
literalmente, os tanques enfileirados da Legião Árabe. Alguns cavavam
trincheiras em jardins e quintais.
OLHO A MENOS
O
general mais famoso de Israel estava aposentado. Moshe Dayan tinha gênio
irascível, ego incontrolável, um olho a menos e pensamento estratégico.
Ou seja, o tipo de cara que um país precisa quando está em risco de
aniquilação.
Esperava
ser chamado de volta pelo primeiro-ministro, Levi Eshkol, por quem
nutria desgosto profundo. Enquanto isso não vinha, visitava o fronte por
conta própria, fardado e, claro, com um oficial de serviço.
Sua
filha, Yael Dayan, descreveu assim no livro mencionado um comentário
essencial dele: “Meu pai discorreu sobre a diferença entre ‘intenção’ e
‘objetivo’. Em qualquer ordem do dia, a intenção está acima e é mais
importante que o objetivo”.
“O
problema de Eshkol era sua intenção de preservar Israel a qualquer
custo”, continuou o general. Segundo sua interpretação, Eshkol estava
cedendo às pressões dos Estados Unidos para não ir à guerra, pensando
que assim alcançaria o objetivo de salvar Israel.
“A
intenção do primeiro-ministro tem que ser ‘preservar a nação destruindo
as forças que se alinham contra ela’”, concluiu Dayan.
Esta
visão salvou Israel e levou o país a uma expansão territorial que criou
seus próprios problemas. De forma geral, para Israel é melhor ter hoje
estes problemas do que ter sido aniquilado como pretendiam seus
inimigos.
FRAQUEZA DOUTRINÁRIA
A
vitória na Guerra dos Seis Dias , posteriormente seguida de concessões
negociadas, levou um grande líder egípcio, Anuar Sadat, e seu grande
éxercito, sob mediação americana, a assinar um acordo de paz em vigor
até hoje.
O único
equivalente é o da Jordânia, um país importante, mas muito menor que o
Egito. Só isso tem garantido que não haja uma guerra generalizada no
Oriente Médio.
É claro
que os cabeças dos serviços de segurança da Grã-Bretanha conhecem todas
as táticas e estratégias das guerras passadas, simétricas ou
assimétricas. É claro que entendem que a batalha travada pelo terrorismo
islâmico contra os países ocidentais – fora a guerra dentro das
próprias fileiras muçulmanas – ainda está no começo.
E é
claro que, como instituições democráticas, precisam lidar também com
partidos, organizações e uma fatia da opinião pública que resiste
automaticamente a suas ações.
Muitos
são treinados, doutrinados, orientados e, em muitos casos, até pagos
para repetir infinitamente que o perigo real é a islamofobia e que
qualquer reação ao terrorismo implica em injustiçar inocentes.
Mas é
claro também que tem uma fraqueza intrínseca no campo doutrinário, além
de operacional. É nisso que a teoria Dayan revela sua importância.
Querem
proteger a população britânica a qualquer custo ou levar a destruição ao
coração do inimigo? É preferível chorar de alegria em Jerusalém (mesmo
que depois enfrentar o medo das facadas) ou passar a vida esperando a
aniquilação?
Um dos
grandes avanços da civilização é quando se alcança o estágio de não ser
necessário fazer esta escolha. Não precisar escolher entre “os nossos
filhos ou os filhos deles”. Mas, se escolha for entre crianças e jovens
trucidados ou, por exemplo, expulsão compulsória de jihadistas
conhecidos, fichados e gravados, a resposta não é exatamente difícil.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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