Juan Arias, que foi
correspondente do El País no Brasil bem antes de sair a edição
brasileira do jornal espanhol, faz boas considerações sobre a situação
política e se pergunta: "a quem
serviria um desenlace forçado e polêmico, com os três Poderes em guerra
e com uma sociedade inclinada a substituições de inspiração autoritária
ou populista?":
Talvez o presidente Michel Temer se arraste legalmente até 2018, mas seu mandato e seu governo estão mortos. Estão sendo sepultados pelas investigações da Lava Jato
e pelo esforço de todos para fazê-la naufragar. O que fazer? A renúncia
de Temer acalmaria os ânimos de uma sociedade cada dia mais perplexa e
que começa a desconfiar até da justiça, que parecia o último baluarte de
esperança para regenerar o sistema? Dizem que alguns partidos e
políticos importantes prefeririam que Temer chegasse sangrando a 2018.
Isso interessa ao país? Existe, sem dúvida, o problema pessoal do
presidente, que só ele pode resolver segundo sua consciência, e existe o
que seria melhor para o país, para sua economia e para sua estabilidade
democrática.
O dilema não é fácil
e, apesar de faltar pouco mais de um ano para as novas eleições
presidenciais, pode se tratar de um tempo infinito que acabe minando
ainda mais instituições já cambaleantes. Hoje, até seguidores de Dilma
duvidam se não teria sido melhor, para ela e para o país, ter
renunciado antes de se submeter ao duro, polêmico e lento ritual de
impeachment. Teria sido um gesto que a teria enaltecido. E diante do que
hoje vive o país, uma decisão que tivesse economizado na época, com
eleições diretas, o embaraço por que passa não só a presidência de Temer
mas quase toda a classe política.
Se Temer renunciasse, assegurando uma sucessão tranquila por parte do Congresso,
que respeitasse a atual equipe econômica e preparasse sem sobressaltos
as eleições presidenciais de 2018, talvez o país pudesse deixar de
sangrar. Já é grave a possibilidade de que a crise econômica se
aprofunde, arrastada pela incerteza da guerra aberta entre Poderes do
Estado, e uma nova saída forçada do presidente da República, desta vez
por motivos de corrupção, poderia criar uma crise sem precedentes desde
os tempos obscuros da ditadura. A quem serviria um desenlace traumático
com os três Poderes do Estado em guerra e com uma sociedade inclinada a
substituições de cunho autoritário ou populista?
O mundo tem os olhos
postos no Brasil e com não com pouca apreensão. Não é uma alegria para
ninguém, dentro ou fora do país, ver um gigante econômico, no qual
tantas esperanças foram depositadas, cambalear agitado por uma crise
interna plena de incertezas lúgubres. Temos ao lado a Venezuela,
o rico país vizinho que se desgarra e se desfia todo dia atormentado
pela teimosia de políticos que preferem o caos, e até a miséria das
pessoas, a apear de um poder que se sustenta à força, contra a vontade
da maioria. Os analistas mais serenos concordam que o Brasil ainda está
em tempo de dar marcha ré da loucura que o agita e oferecer à sociedade a
possibilidade de decidir em paz sobre seu destino em eleições livres em
2018.
Se o grau de
responsabilidade depende da força do poder de quem preside as
instituições, neste momento cabe a Temer, que está no fim de seu longo
caminho político, até ontem sem máculas, oferecer ao país uma saída o
menos dolorosa e perigosa possível, por mais difícil que lhe seja
pessoalmente. Li que, depois de se conhecer as fatídicas conversas que
hoje o incriminam, Temer chorou pensando no que dizer amanhã a seu
filho. A seu filho e a todo um país, cansado de uma classe política que
parece ter se esquecido da dor das pessoas, preocupada e absorta como
está em como acabar com a Lava Jato
para salvar a própria pele. Os brasileiros comuns, os que continuam
sustentando o país com seu trabalho duro e honrado para que não se
afunde ainda mais, sabem o que querem e estão à espera. E todos sabemos,
pela História antiga e recente, onde pode desembocar a ira dos que se
sentem traídos.
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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