MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 20 de maio de 2017

Sobre as refeições que Temer ofereceu


| por Luiz Fernando Lima*
O presidente Michel Temer (PMDB) ofereceu uma feijoada no Palácio da Alvorada para os aliados logo após o pronunciamento da tarde deste sábado (20). De acordo com o G1, o “núcleo duro” do gerenciamento de crise passou por lá para “apoiar” o peemedebista.
Entre os quais o líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), os ministros Mendonça Filho (DEM, Educação) e Antonio Imbassahy (PSDB, Secretaria de Governo), o líder do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PP-PI), e o deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).
Temer buscou no discurso desacreditar o empresário Joesley Batista, dono da J&F, afirmando que é um ‘falastrão’ conhecido. Afirmou ainda que, ancorado em perícia encomendada pela Folha de São Paulo, que a gravação da conversa entre ele e Joesley foi editada.
A tentativa é de evitar um esvaziamento de suas fileiras no Congresso Nacional. Conhecedor dos ritos legislativos e especialista em engrenagem das duas Casas, Temer sabe que se perder o apoio de um dos dois partidos (PSDB e DEM) que dão maior sustentação a sua gestão pode ir à falência, sendo empurrado à cassação via TSE, renúncia ou impedimento.
No pronunciamento a escolha das palavras foi metódica, como de costume, e para contrapor o que considerou um atentado ao seu vocabulário e inteligência. O tom utilizado também foi programado para ser ícone de força. Mas nos bastidores corre um pragmatismo grande. Quadros ouvidos pela reportagem do BNews afirmam que é pouco provável que a abertura de processo no Supremo Tribunal Federal esteja baseada apenas na conversa de Temer e Joesley.
Neste sentido, o contra-ataque de Temer deve ser seguido de uma reação dos delatores, procuradores e adversários. O presidente acusou ainda os donos da JBS de “gozarem” de algo que pode ser interpretado como privilégios não vistos ainda na Operação Lava Jato. Alfinetou, com isso, a Procuradoria Geral da República (PGR) e o próprio STF.
Ao comentar o que considera “o Brasil está nos trilhos” desconsiderou também segmentos da sociedade contrários às reformas propostas pelo governo federal. Com uma aprovação menor que 4% o presidente atenta contra si próprio quando afirma que as reformas estão modernizando o Estado brasileiro.
Ao que parece, a amostragem de interesse do peemedebista é a que reúne 513 deputados federais e 81 senadores. Quem está fora deste grupo não tem capacidade deliberativa direta neste momento. Esquece o presidente que estes 594 ‘eleitores’ são eleitos por 144.088.912 de cidadãos em pleito direto, se a regra não mudar, no próximo ano. A pressão popular pode fazer um estrago no governo.
Outrossim, os legisladores brasileiros têm incrustrado nas ações aquela prática de que “farinha pouca, meu pirão primeiro”. A quantidade de capitão no navio é sempre menor que a de marinheiros e ao menor sinal concreto de naufrágio quem conseguir um lugar no bote partirá sem olhar para trás e, se possível, não se furtarão em negar a presença na embarcação.
Do churrasco de carne importada no dia 19 de março à feijoada, sem água adicional, deste sábado, 20 de abril, muitas reviravoltas aconteceram no governo Temer. A próxima semana promete ser decisiva do ponto de vista da sustentação do governo.
Sem destino certo, com o ceticismo crescente e a falta de lastro político-jurídico a próxima refeição oferecida pelo presidente pode muito bem ser amarga, sem sal e solitária, uma papa qualquer. Uma coisa é certa, neste cardápio de governo pós-impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, quem pediu pizza recebeu uma resposta tradicional por aqui na Bahia: Tem, mas acabou!
Luiz Fernando Lima é editor de política do BNews

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