Coluna de Carlos Brickmann, publicada hoje em vários jornais do país:
A sentença de Lula
deve ser anunciada até o início de julho, se o juiz Sérgio Moro mantiver
seu rápido ritmo de decisão. Caso seja condenado, Lula irá recorrer ao
Tribunal Regional Federal de Porto Alegre, que costuma decidir em um
ano. Se condenado, Lula irá para a cadeia? Talvez não: um condenado em
segunda instância pode ser preso, mas isso não é obrigatório. A Justiça
pode aplicar a pena só após o trânsito em julgado, no Superior Tribunal
de Justiça. Aliás, isso não tem muita importância. Ninguém, exceto os
mais ferozes inimigos do PT (e boa parte da opinião pública), quer ver
Lula em Curitiba. O que não se quer é vê-lo em Brasília.
O nome do jogo é
outro: se Lula conseguirá ou não ser candidato à Presidência da
República. Condenado em segunda instância, não poderá concorrer. Mas a
condenação, para evitar que ele apareça como vítima, deve ocorrer antes
que se inicie o prazo legal para registro de candidaturas, em agosto de
2018. Os prazos, portanto, são a chave da história.
Se Lula for
candidato, terá dificuldades para se eleger. Lidera com folga as
pesquisas de opinião, mas não o suficiente para ganhar no primeiro
turno. E metade do eleitorado o rejeita, o que pode ser decisivo num
eventual segundo turno. Mas quem conseguiu eleger até Dilma e Haddad
pode dar a vitória a um candidato mais competitivo – ele mesmo. Pelo
sim, pelo não, os adversários de Lula preferem que ele fique longe das
urnas.
O abecedário petista
Se Lula não for
candidato, quem sairá pelo PT? O partido nega que esteja pensando nisso.
Mas tenta um Plano B, sim: o nome mais citado, por incrível que pareça,
é o de Fernando Haddad, que deixou a Prefeitura paulistana com rejeição
recorde e não conseguiu a reeleição. Há quem sugira o ex-governador
baiano Jaques Wagner, houve quem pensasse no governador mineiro Fernando
Pimentel. Mas Wagner tem ampla troca de mensagens com Leo Pinheiro,
então presidente da OAS, sobre liberação de pagamentos; e Fernando
Pimentel é alvo de delações premiadas.
O abecedário tucano
O PSDB, que desde o
fim dos mandatos de Fernando Henrique manteve três candidatos à
Presidência da República, uns abandonando os outros e sendo
alternadamente surrados nas eleições, enfim pensa num Plano B: sem
Aécio, nome constante de delações premiadas, e sem Serra, também
delatado e com problemas de coluna (que, segundo disse, o levaram a
renunciar ao Itamaraty), dos TCS (Três Candidatos de Sempre) só restou
Geraldo Alckmin.
Mas Alckmin não
desperta grandes entusiasmos desde que, nas eleições de 2006, teve menos
votos no segundo turno do que no primeiro. O Plano B dos tucanos é João
Doria Jr., que vem tendo forte aprovação popular como prefeito de São
Paulo. Doria foi lançado por Alckmin para disputar a Prefeitura, e já
disse muitas vezes que Alckmin é seu nome para a Presidência. Mas, se
continuar crescendo, pode ser candidato. Doria não tem esquema montado
no partido, porém já disse que o melhor candidato para os tucanos é o
que tiver melhores condições de vencer. Em política, o cheiro da
vitória é o mais atraente que existe.
O abecedário dos outros
Tirando PT e PSDB,
nenhum partido mostrou musculatura suficiente para disputar bem a
Presidência. O PMDB é forte, mas não tem candidato (e Michel Temer, hoje
com baixa popularidade, dificilmente se arriscaria a sair). Ciro Gomes
sonha com a candidatura, pelo seu PDT, ou algum outro; Jair Bolsonaro
quer ser candidato pelo PSC (embora brigado com a cúpula partidária). Há
candidatos nanicos, como sempre. Há outras possibilidades, mas só nos
sonhos de alguma legenda, sem nada articulado, como Sérgio Moro, Joaquim
Barboza, ministra Carmen Lúcia ou Luciano Huck.
Firmes…
Um fator novo é a
cada vez mais possível delação de Antônio Palocci. Palocci é gente de
dentro; conhece hábitos, costumes, manias, vícios do pessoal do PT, do
Governo e dos aliados; sabe quem doou e quem levou, como o dinheiro foi
ganho e foi gasto. Mônica Moura e João Santana, os marqueteiros de Lula e
Dilma, íntimos dos hábitos eleitorais do Planalto, fizeram delações
devastadoras. Palocci, além de íntimo, foi coordenador de campanha, foi
ministro da Fazenda, foi a conexão entre o PT e os grandes empresários.
Ele sabe o que todos fizeram no verão passado.
…como geleia
E tudo depende,
enfim, de investigações e de decisões judiciais. Nos dias 6, 7 e 8 de
junho, o Tribunal Superior Eleitoral decide se cassa ou não o registro
da chapa Dilma-Temer por abuso de poder político e econômico nas
eleições de 2014. Se o registro for cassado, Temer perde o cargo e o
Congresso elege quem completará seu mandato.
Quem? O TSE levará em conta que o Congresso está cheio de parlamentares sob investigação? (Via Chumbo Gordo).
BLOG ORLANDO TAMBOSI
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