O que os petistas
fizeram contra o povo brasileiro, diz José Nêumanne no Estadão, é
imperdoável. "Nunca antes na história houve nada igual":
A manchete do Estadão
de domingo – Dezoito ex-ministros de Lula e Dilma são alvo de
investigação por desvios – é a constatação factual do principal pecado
do chamado “presidencialismo de coalizão” e da distinção entre a
corrupção corriqueira de antes e o saque sistemático e completo de todos
os cofres disponíveis da República.
O pacto da
“governabilidade”, eufemismo caridoso para justificar a ocupação dos
ministérios por grupos de políticos profissionais que controlam o
Congresso Nacional, não resulta de uma parceria de programas partidários
para uma gestão de qualidade, atendendo a interesses republicanos, mero
pretexto retórico. Mas, sim, da divisão de verbas orçamentárias para
subvencionar interesses grupais e paroquiais de chefões de legendas,
interessados apenas na permanência no poder, nos melhores casos, ou no
enriquecimento pessoal, nos mais deletérios deles.
Na embriaguez da
popularidade inesperada, o primeiro presidente eleito pelo povo depois
da ditadura, Fernando Collor, confrontou esse paradigma e deu com os
burros n’água por não aceitar dividir com os dirigentes partidários o
butim dos cofres da “viúva”, chegando a perder a Presidência na metade
do mandato. Seu vice e sucessor, Itamar Franco, beneficiário de um
acordão multipartidário, saiu de seu mandato-tampão ileso e ilibado, já
que impôs a um Gabinete dos que apoiaram o impeachment do titular da
chapa a execução de uma gestão austera dos negócios de Estado. Se não o
fizesse, não teria deixado para a posteridade a maior revolução social
da História, o Plano Real, baseado na responsabilidade fiscal. Esta não
resistiria à dilapidação patrimonial da poupança pública, lema que
elegeu o ministro da Fazenda que a planejou e realizou, Fernando
Henrique Cardoso, para dois mandatos, legitimados por vitórias no
primeiro turno. Mas ele perdeu a legitimidade ao forçar a barra da
aliança parlamentar formada para gerir a gestão compartilhada na luta,
eivada de suspeitas de corrupção, para obter a reeleição.
O desgaste causado
pelas dúvidas sobre o segundo mandato ajudou a alçar o Partido dos
Trabalhadores (PT) ao poder. Nele ex-dirigentes sindicais, “padres de
passeata”, “freiras de minissaia” (apud Nelson Rodrigues) e
ex-guerrilheiros, doutrinados por Marx a desafiar a ganância
capitalista, justificando a “apropriação” da “mais-valia”,
aproveitaram-se das vantagens do acesso aos cofres da República. A
propina dos corruptos de antanho foi, então, substituída pelo método do
saque, mais premeditado e planejado do que propriamente organizado, do
patrimônio público. Para realizar essa mudança contaram com uma oposição
omissa, a prerrogativa de foro e a camaradagem no Supremo Tribunal
Federal.
Nenhum tipo de
corrupção deve ser perdoado. Se a denúncia do empreiteiro da Engevix
José Antunes Sobrinho à Advocacia-Geral da União (AGU) for comprovada,
os receptadores de comissões nas gestões estaduais paulistas dos tucanos
José Serra e Geraldo Alckmin receberão com justiça tratamento penal
igual ao dado a réus da Lava Jato. A notícia, publicada pela revista
Época, revela o acerto da distinção feita no parágrafo anterior e põe
por terra o mantra, exaurido pela esquerda pilhada em flagrante delito
de furto, de que há delação premiada seletiva contra seus larápios de
estimação. Da mesma forma, se não é aceitável a ladainha usada pelo PT e
seus aliados de que as gorjetas dadas aos partidos configuram doações
legais consignadas na lei eleitoral, idêntica desculpa amarelada não
serve para tucanos de mãos leves pilhados.
Como também as
citações de dirigentes do PSDB (o morto Sérgio Guerra e o vivo Aécio
Neves) na Lava Jato não podem servir de pretexto para a fanfarra
parlamentar, militante ou acadêmica da esquerda “delinquentófila”
usá-las como justificativa para a ação deletéria de seus ícones do
socialismo, cujos delitos causaram a maior crise da História do País.
Há defensores de
pobres e oprimidos que falam e agem como cúmplices dos gatunos. A
Associação dos Engenheiros da Petrobrás e os sindicatos do setor nada
disseram contra o desmanche da estatal pelo superfaturamento de
contratos em troca de “adjutórios” para petroleiros, políticos e
legendas receptadoras de doações.
Nenhum sindicato de
bancários cobrou explicações sobre os financiamentos bilionários,
investigados na brasileira Lava Jato e na Operação Marquês, portuguesa,
para a obra da hidrelétrica de Cambambe, na Angola do ditador comunista
José Eduardo dos Santos, pai de Isabel dos Santos, a mulher mais rica da
África. Aliás, a juíza Maria Priscilla Ernandes Veiga, da 4.ª Vara
Criminal paulista, processou o ex-presidente da cooperativa dos
bancários (Bancoop) João Vaccari Neto por ter usado o patrimônio da
entidade para financiar o PT e bancar apartamentos na praia para
petistas ilustres, entre eles Lula. E a Central Única dos Trabalhadores
(CUT) não deu um pio em contrário.
Dos 18 ex-ministros
de Lula e Dilma citados neste jornal no domingo, dois foram da Fazenda.
Um, Guido Mantega, é acusado de ter achacado empresários no gabinete. E
Paulo Bernardo responde por ter cobrado propina de servidores do
Ministério do Planejamento, sob seu comando, que pediram empréstimos
consignados. Algum socialista reclamou?
Que nada! O PT, a
defesa de Lula e parte daintelligentsia comparam Sergio Moro, da Lava
Jato, ao dominicano Savonarola e dizem que, por ser moralista e
intolerante, ele “persegue” o três vezes réu. Só que este também
responde por corrupção, lavagem de dinheiro, tráfico de influência e
organização criminosa, e não por crime político, a outro juiz, Vallisney
Oliveira, de Brasília.
Nunca antes na
História houve nada igual. É hora de aceitar a realidade, processar e
punir os responsáveis. E sanar as distorções que desempregaram ou
subocuparam 16,4 milhões de brasileiros (16% da força de trabalho). Não
dá mais para perdoar ignomínias desse jaez.
blog orlando tambosi
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