MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 21 de março de 2015

Artesãs confeccionam peças com papel reciclado e fibra vegetal no TO


Elas usam o bagaço da cana e a casca da cebola para fazer artesanato.
Em Palmas, elas sonham em conquistar o mercado internacional.

Jesana de Jesus Do G1 TO
Peças artesanais são produzidas a partir de fibras vegetais e de papel reciclado (Foto: Jesana de Jesus/G1)Peças artesanais são produzidas a partir de fibra vegetai e de papel reciclado
(Foto: Jesana de Jesus/G1)
É com o bagaço da cana-de-açúcar, a casca da cebola e a fibra da bananeira que as mulheres artesãs do Lago Sul, setor de Palmas, pretendem plantar a cidadania, fazer crescer a responsabilidade social e colher a renda e a independência financeira. Elas trabalham com artesanato desenvolvido a partir da fibra vegetal e de papéis reciclados. O que é lixo para alguns se transforma em oportunidade nas mãos das artesãs e com um ritual de trabalho que exige técnica e paciência, elas confeccionam materiais com valor no mercado.
A produção das peças se inicia na coleta da matéria-prima em vários pontos da cidade. Elas vão a feiras para buscar bagaço de cana-de-açúcar, percorrem quilômetros para obter a fibra das bananeiras, juntam cascas de cebola e de alho produzidas pelos moradores do setor e ainda colhem capim e sisal pelas ruas de Palmas. Esse material que iria diretamente para o lixo é transformado na Base Comunitária da Polícia Militar, local de encontro das artesãs.

A matéria é selecionada, passa por um processo de lavagem, cozimento e após algumas horas é triturada em um liquidificador. Na segunda etapa do processo, elas fazem a reciclagem de papéis. Eles são postos de molho em um recipiente e depois de algumas horas, também são triturados. Após o término desse processo, o lixo orgânico e o papel são misturados em uma bacia com água, como mostra a artesã Valdenice Pinheiro Rodrigues no vídeo acima.
A casca de cebola usada no artesanato é cozida e depois triturada (Foto: Jesana de Jesus/G1)A casca de cebola usada no artesanato é cozida e
depois triturada (Foto: Jesana de Jesus/G1)
A consultora do projeto e biodesign Maria da Penha de Faria explica que são necessários outros ingredientes para dar resistência ao material, como o quiabo, alimento típico da culinária tocantinense, mas que neste processo serve para dar liga e sustentação ao papel que será produzido. O alimento é colhido na horta montada na base comunitária. "Quando se cozinham as  plantas que vão dar a fibra, elas perdem uma substância chamada lignina. Então o quiabo serve para dar a liga no papel. Ele vai melhorar a qualidade e aglutinar as fibras com o papel reciclado", explicou.

Com os ingredientes misturados em uma bacia com água limpa, as artesãs utilizam telas para retirar as lâminas. Elas são colocadas ao sol, e após algumas horas, se transformam em um material de textura firme e de cores vivas, pronto para ser trabalhado. A biodesign explica que é possível clariar e pigmentar as fibras para conseguir a cor almejada. Além disso, as artesãs podem colocar pétalas de rosa que dão um toque especial ao material produzido.
As lâminas feitas a partir de fibras vegetais e papéis devem ser colocadas ao sol (Foto: Jesana de Jesus/G1)As lâminas feitas a partir de fibras vegetais e papéis
devem ser colocadas ao sol
(Foto: Jesana de Jesus/G1)
Do papel produzido a partir das fibras, as artesãs fazem inúmeros objetos. Pastas para eventos, agendas, caixas para presente, porta-guardanapos e suportes para jogos de jantar. As fibras vegetais criam um papel novo, de melhor qualidade e com uma textura diferente. O intuito do projeto 'Palmas Verde' é capacitar as mulheres e fomentar a geração de renda. Mas, além disso é "promover a cidadania, a reciclagem e fazer com que os recursos que são jogados fora, sejam transformados", acrescenta Maria da Penha.
O ambiente onde as artesãs trabalham é simples e o suporte para a produção do material é muitas vezes improvisado. O cozimento das fibras é feito em uma espécie de fogão à lenha, em um local de espaço limitado. Apesar da estrutura, a consultora ressalta que o mais importante é se dedicar no resultado final. "A precariedade não impede de fazermos algo descente. O importante é a iniciativa que visa o cuidado com o meio-ambiente e a produção de peças para fomentar o mercado".
De olho no futuro
Há quatro meses no projeto, Valdenice Pinheiro Rodrigues, de 31 anos, sonha em produzir peças com valor no mercado nacional e internacional. Ela e as outras 14 artesãs começaram a capacitação em dezembro do ano passado. De lá para cá, adquiriram conhecimento e trabalharam as técnicas e habilidades necessárias para a produção do material.
Valdenice sonha em exportar peças artesanais produzidas no setor Lago Sul, em Palmas (Foto: Jesana de Jesus/G1)Valdenice sonha em exportar peças artesanais produzidas no setor Lago Sul, em Palmas
(Foto: Jesana de Jesus/G1)
É com a atividade que a moradora de Palmas quer mudar de vida. Diarista, mãe de quatro filhos, ela chega na Base Comunitária cedo, por volta de 8h, para começar as atividades. Ela e as outras artistas são responsáveis por fazer todo o processo de transformação do material. Depois, elas dão um novo significado à tela.
As fibras vegetais deixam o papel com uma textura diferente e mais forte (Foto: Jesana de Jesus/G1)As fibras vegetais deixam o papel com uma textura
diferente e mais forte (Foto: Jesana de Jesus/G1)
O resultado impressiona até mesmo a artesã que não tinha ideia de como os resíduos sólidos poderiam ser úteis e promover a geração de renda. "Eu não tinha nem ideia do que podíamos fazer [com o resíduo sólido]. Para mim era só lixo. Depois da capacitação que descobrimos o valor que ele tem", conta com orgulho.
A expectativa dela é que o trabalho seja reconhecido e bem aceito no mercado daqui a dois anos. "A nossa intenção é que este projeto dê certo, que nós exportemos as peças e venhamos contribuir com o meio-ambiente. Ele é inovador e nós nos sentimentos reconhecidas e valorizadas".
Além dos acessórios, as artesãs estão aprendendo técnicas para confeccionar biojoias. Elas já estão fazendo as primeiras peças a partir de sementes e outros produtos originários do Tocantins. O que elas querem é diversificar e aperfeiçoar cada vez mais as técnicas. A consultora do projeto diz que a produção de biojoias será primordial para incluir outras mulheres da comunidade que não se identificaram com o artesanato feito do papel com fibras vegetais.
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Eu não tinha nem ideia do que podíamos fazer. Para mim era só lixo"
Valdenice Pinheiro Rodrigues, 31 anos, artesã
O artesanato é bem aceito no mercado, mas Maria da Penha alerta que para alcançar o sucesso é preciso superar alguns empecilhos. "Primeiro as pessoas negam a sua cultura, tem vergonha de vender o que produzem. É preciso valorizar. A partir do momento em que eu consigo me ver dentro da comunidade, eu consigo externar a minha cultura e as riquezas da minha matéra-prima", argumenta.
Depois, é preciso fidelizar a clientela e convencer o público da importância de adquirir produtos confeccinados na região, segundo a consultora. "A ideia é convencer o público de que é importante adquirir o produto que é da comunidade. Primeiro para valorizar o que é daqui, deixar o dinheiro aqui e fazer a diferença no nosso meio".
Este é o primeiro projeto de artesanato do Tocantins desenvolvido a partir de fibras vegetais e papéis reciclados. As artesãs passaram por uma capacitação de 240h. A última oficina será nesta sexta-feira (20). Depois, elas seguirão em busca de mais conhecimento. A intenção é criar uma linha de produtos focados para atender a demanda do mercado, replicar a ideia em várias regiões de Palmas, gerar renda e contribuir para a preservação do meio-ambiente.
A intenção das artesãs é produzir biojoias com matéria-prima tocantinense (Foto: Jesana de Jesus/G1)A intenção das artesãs é produzir biojoias com matéria-prima tocantinense (Foto: Jesana de Jesus/G1)
Ultrapassando fronteiras
A artesã e empresária Andrieli Pinto, de 34 anos, é um exemplo de como o artesanato pode contribuir para a geração de renda e transformar vidas.  Ela tem uma loja no centro de Palmas, onde produz e vende joias com capim dourado. Nas mãos dela, o artesanato tocantinense alcança novas fronteiras. É vendido na Itália, Espanha; em estados brasileiros, como Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Goiás, além das cidades de Araguaína, Colinas do Tocantins, Palmas e Gurupi. “Artesanato é a minha grande paixão”, diz.
Andrieli começou cedo a produzir peças artesanais e hoje exporta os produtos para a Itália e a Espanha  (Foto: Andrieli Pinto/Arquivo Pessoal)Andrieli começou cedo a produzir peças artesanais
e hoje exporta os produtos para a Itália e a Espanha
(Foto: Andrieli Pinto/Arquivo Pessoal)
A artesã conta com orgulho que as peças do capim dourado feitas por ela também conquistaram as passarelas, serviram de adorno para modelos e misses que representaram o Tocantins em concursos nacionais. Além disso, já foram usadas como figurinos na novela Global, Araguaia, veiculada no final de 2010 e início de 2011.

Mas o sucesso de agora não veio fácil. Há 14 anos, ela saiu do Rio Grande do Sul e desembarcou em Palmas com as malas e a vontade de crescer. Veio para estudar, mas para conseguir o sustento precisou de uma alternativa. Foi aí que ela conheceu artesãos em Taquaruçu, distrito de Palmas, que transmitiram as técnicas para a produção das peças. A empresária também buscou aprendizado com os cursos gratuitos oferecidos pelo setor público.
A artesã e empresário produz joias usando capim dourado, em Palmas (Foto: Andrieli Pinto/Arquivo Pessoal)A artesã e empresária produz joias usando capim
dourado, em Palmas
(Foto: Andrieli Pinto/Arquivo Pessoal)
Com o conhecimento de costura herdado da mãe, aliado ao ensino técnico, ela começou a construir suas próprias peças. Após dois anos, a artesã conseguiu seu primeiro espaço na feira do Bosque. Dali por diante, Palmas se tornou pequena. “Em todas as feiras possíveis eu estava, tentava espaço. E em toda feira conhecia uma coisa nova. A partir disso, fomos  desenvolvendo um nome, uma marca, dando significado a tudo o que fazíamos”.
Andrieli faz parte de duas associações, com 215 artesãos, sendo que 34 trabalham com capim dourado. Os outros fazem peças a partir de cerâmica, madeira, garrafa pet, tecido e crochê. Muitos produtos são revendidos na loja da empresária, no centro da capital.

A empresária vê com otimismo a aceitação do artesanato no mercado nacional e internacional. Para ela, é possível gerar renda e conseguir independência financeira a partir da economia criativa. “É um mercado promissor, mas vai depender de cada um. Você tem aquilo que você busca, não importa se é um médico, engenheiro ou artesão. Se você for bom e buscar, vai conseguir”, concluiu.
Empresária revende peças produzidas por dezenas de artesãos no Tocantins (Foto: Jesana de Jesus/G1)Empresária revende peças produzidas por dezenas de artesãos no Tocantins (Foto: Jesana de Jesus/G1)

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