MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 10 de novembro de 2013

Escultor faz arte com fio de cobre na Bahia

Franco Adailton
A TARDE
  • Marco Aurélio Martins | Ag. A TARDE
    Nel Gama, morador de São Sebastião do Passé, produz figuras humanas e equinas
Em um modesto ateliê na casa número 65 da rua Eutíquio de Lima, em São Sebastião do Passé (Grande Salvador), o escultor Nel Gama, 48 anos,  exercita o  talento de transformar fios de cobre em obras de arte.
Aos poucos, as peças tecidas fio a fio - a maioria  inspirada em formas humanas e cavalos - dão vida ao imaginário do artista com o uso de agulhas de crochê e alicate. "Comecei a modelar algumas coisas aos 4 anos, com cera de abelha", conta.
Segundo Nel,  o incentivo para que começasse a esboçar as primeiras obras de arte veio da mãe.
"Ela fez uma caravela com uma caixa para eu brincar. Pedi que me ensinasse", relata. Nel não fez nenhum curso para dominar a  técnica de tecelagem com cobre.
Já adulto - não lembra exatamente com que idade - o artista buscou aprimorar a sua técnica escultural ao frequentar uma oficina de modelagem em argila, ministrada pelo renomado artista baiano Israel Kislansky.
Riqueza
Em meio à diversidade de obras produzidas pelo artista, destacam-se um São Sebastião (em homenagem ao santo que dá nome à sua cidade natal) e uma mulher amamentando, ambas em tamanho real. As peças impressionam pela riqueza de detalhes, como a expressão facial.
"Luiza", como se chama a escultura de mulher, recebeu esse nome inspirada em uma canção composta pelo músico Tom Jobim. Foram mais de 400 dias para que ficasse pronta".
"Algumas músicas ficam na minha cabeça. Mesmo com o passar do tempo, continuam atuais e me inspiram a compor as peças", explica.
Nel costuma levar de cinco a sete meses para concluir as peças de cobre com até 15 horas de dedicação por dia. "Às vezes, acordo no meio da noite, com uma ideia na cabeça que não me mais deixa dormir", revela.
Sem incentivo
Artistas populares, como Nel, têm dificuldades para dar  visibilidade às criações, ainda mais quando estão  longe dos grandes centros urbanos. O material, ele compra com o que ganha na venda de peças e oficinas que ministra.
"De modo geral, falta incentivo à cultura no país. A gente se vira como pode", lamenta o artista,  que já expôs trabalhos no Tribunal de Justiça da Bahia (TJ), no projeto "Salões Regionais de Artes Visuais", da Fundação Cultural do Estado, e em   galerias.
Amigo de infância do artista, o professor de inglês Roberto Francisco, 52, é um dos conterrâneos que ajudam a divulgar o trabalho de Nel no Brasil e no exterior. "Não podemos assistir a um talento da terra ter o trabalho desperdiçado", elogia.
O professor é quem fica responsável por fazer fotos e vídeos das obras do artista para, depois, contatar amigos que possam ajudar na rede de comunicação. São os amigos também que se mobilizam para ceder os veículos que transportam as peças maiores, em caso de exposição.
A iniciativa dos amigos já rendeu convite a Nel para expor em Paris, mas foi recusado devido ao pouco tempo para organizar tudo.
"Teria apenas dez dias para concluir algumas obras e encaixotá-las. Não posso arriscar danificá-las. São peças únicas. Não tem como reproduzir", diz.
Mesmo sem nunca ter tido um projeto contemplado em editais de cultura, Nel sonha  em voar mais alto. "É  o mesmo sonho de qualquer artista: expor no museu do Louvre", diz, apresentando um certo  brilho nos olhos.

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