MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 17 de novembro de 2013

Autores latino-americanos discutem na Fliporto se literatura é jogo ou não


Andres Neuman, Luiz Ruffato e Andrea del Fuego comentaram mote da feira.
Conversa neste domingo abordou a importância do lúdico para o escritor.

Do G1 PE

Escritores de língua portuguesa e espanhola conversaram sobre o lúdico no ato de escrever. (Foto: Reprodução/TV Globo)Escritores de língua portuguesa e espanhola conversaram
sobre o lúdico na escrita. (Foto: Reprodução/TV Globo)
O tema deste ano da 9ª Festa Literária Internacional de Pernambuco (Fliporto), que acontece em Olinda, é "Literatura é um jogo". Neste domingo (17), os escritores Andres Neuman, Luiz Ruffato e Andrea del Fuego, que se destacam como autores contemporâneos latino americanos, discutiram o mote principal da feira com um debate, cujo ponto inicial foi "Mais que um jogo de palavras: a importância do lúdico para um escritor".
Os três tiveram opiniões divergentes. Andrea não acredita que o ato de escrever seja uma atividade lúdica. "Acho muito difícil escrever. É muito cansativo, consome a alma, consome a vida mesmo. Ao mesmo tempo, você está criando alguma coisa. Esse lúdico talvez possa estar presente no momento da ideia de um livro. É um momento muito ingênuo pensar que aquilo dá um livro", afirmou ela.
Andres Neuman rebateu. Para o escritor espanhol-argentino, o jogo e a seriedade podem estar próximos. "O jogo é o ato criativo de estabelecer regras. O jogo tem a ver com a liberdade de estabelecê-las. Não tem nada a ver com seriedade, na minha opinião", disse, ao que Rufatto fez coro. "Escrever é um jogo que se propõe entre você e você mesmo e entre você e o escritor. O próprio ato de você tentar construir histórias a partir de uma linguagem própria já é uma proposta lúdica".
Sobre o estilo da literatura latino-americana e a visão de mundo para a América do Sul, Neuman teve muito o que dizer durante sua participação. O escritor acredita que não se pode generalizar um tipo de literatura que inclua os países de língua espanhola e portuguesa como realismo mágico, apenas. "Eu não identificaria a tradição latino americana como realismo mágico. Eu acho que seria muito reducionista. Há muitos escritores do 'boom' [do realismo fantástico, nos anos 1960/70] que não eram realistas mágicos, como Mario Vargas Llosa e Clarice Lispector", alegou.
Ao fim do painel, os três conversaram sobre a visibilidade da literatura do Brasil e da América Latina no exterior. Rufatto acredita que o interesse pela literatura brasileira é meramente acidental. "O Brasil tornou-se visível no mundo por questões políticas. Houve a curiosidade de saber o que produzimos além de petróleo, minério e futebol, é claro. Se vai continuar ou não o interesse, não vai depender nem se somos bons ou maus escritores, vai depender se o Brasil vai ou não continuar sendo importante do ponto de vista político e econômico", afirmou.
Para Neuman, criado em dois países (Espanha e Argentina), o fato de não se sentir pertencente a uma comunidade é comum no dia a dia. Como Rufatto, ele acredita que o conceito de América Latina é muito desfocado. "Não interessa se você se considera ou não latino americano", afirmou, rebatendo a afirmação de Rufatto de que a literatura brasileira não se insere na literatura latino-americana. "Quando você chega em um ambiente saxão, você é obrigado a ser latino-americano, exótico, mítico. Não há diferenças entre Costa Rica, Chile, Paraguai". Ao que Andrea completou: "Eles querem o que eles não têm. Mas o que é que temos? Qual é a nossa marca?", questionou, antes de encerrar o debate.

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