MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Síria: as opções militares do Ocidente



Caça F18 Hornet no porta-aviões Nimitz | Foto: Reuters
Ataques punitivos são opção mais provável de interveção ocidental
Todos os sinais emitidos por Washington e Londres sugerem que uma ação militar contra a Síria é agora uma forte possibilidade. Planos de contingência estão sendo elaborados, listas de alvos potenciais estão sendo revisadas e diversos ativos militares estão sendo colocados em posição.
A Marinha americana está reposicionando diversos de seus navios de guerra, incluindo quatro destróieres com mísseis de cruzeiro no leste do Mediterrâneo e possivelmente um submarino com capacidade de lançamento de mísseis.
Um submarino nuclear britânico classe Trafalgar é outra plataforma potencial de lançamento de mísseis.
Se mais poder de fogo for necessário, dois porta-aviões americanos podem lançar ataques aéreos. Baseas aéreas na Turquia e no Chipre também podem ser usadas. E a França também está disposta a enviar aeronaves militares para reforçar a ação.
Mas que tipo de ação militar está sendo proposta? Quais são os riscos envolvidos? Qual é a análise racional que embasa tal ação? E quanto uma ação militar ocidental pode contribuir para a resolução da crise na Síria?

Forças disponíveis para um eventual ataque à Síria

PAÍS UNIDADES MILITARES
Estados Unidos Quatro destróieres - SS Gravely, USS Ramage, USS Barry and USS Mahan ─ no leste do Mediterrâneo, equipados com mísseis de longo alcance
Mísseis de cruzeiro podem ser lançados de submarinos nucleares posicionados na região
Bases aéreas em Incirlik e Izmir, na Turquia, podem ser usadas para lançar ataques
Dois porta-aviões – USS Nimitz e USS Harry S Truman estão na região
Grã-Bretanha Mísseis de cruzeiro podem ser lançados de um submarino britânico classe Trafalgar
A Força-tarefa de Resposta da Marinha Real ─ que inclui o HMS Illustrious (porta-helicópteros), e as fragatas HMS Montrose e HMS Westminster ─ está na região para uma missão agendada previamente
Base aérea no Chipre pode ser usada para lançar ataques
França Porta-aviões Chales de Gaulle está em Toulon, no oeste do Mediterrâneo
Caças Raffale e Mirage podem operar a partir da base aérea de Al-Dhahra, nos Emirados Árabes Unidos

Ação militar

As opções militares dos líderes políticos americanos e britânicos são variadas, desde um pequeno ataque restrito a determinados alvos na Síria (a opção mais provável) até uma intervenção em grande escala, incluindo tropas terrestres, para tentar acabar com a guerra civil no país.
A invasão não está na mesa de negociações, mas é uma possibilidade que permanece latente nos batidores do processo político.
Aqueles que estão céticos sobre um engajamento militar maior temem, porém, que qualquer ação possa caminhar para uma escalada. As forças ocidentais podem ser arrastadas para uma luta mais prolongada, um atoleiro sem fim que muitos temem se tornar um novo Iraque ou Afeganistão.
Então quais são as opções militares?
O general americano Martin Dempsey, principal conselheiro militar de Barack Obama, deu sua visão mais detalhada sobre o assunto por meio de uma carta ao senador Carl Levin, no meio de julho.
Ela é o mais importante documento público sobre o assunto, que dá uma visão das possibilidades avaliadas pelo Pentágono.
Vamos dar uma olhada em cada uma delas, não necessariamente na ordem proposta pelo general Dempsey. É preciso ter em mente que elas não são mutamente excludentes; combinações de diferentes opções podem ser empregadas simultaneamente.

1. Ataques limitados à distância

Alguns podem chamar essa opção de "ataques punitivos". O objetivo seria chamar a atenção do presidente Assad e persuadi-lo a não recorrer a armas químicas no futuro. Os alvos podem incluir instalações militares muito ligadas ao regime ─ como quartéis generais e bases de unidades militares de elite, por exemplo.
Unidades de produção de mísseis podem ser atingidas. Porém, isso teria que ser feito com cautela para não atingir instalações de fabricação de armas químicas e para evitar vazamentos que poderiam causar danos significativos à população.
Complexos de defesa aérea e centros de comando podem inclusive ser atingidos como uma advertência e demonstração das capacidades militares ocidentais.
O atrativo dessa opção é que ela poderia ser colocada em prática rápido e de uma forma na qual os riscos às forças ocidentais envolvidas seriam baixos. A principal arma escolhida para a tarefa seria o míssil terra-terra Tomahawk ─ lançado de navios de guerra dos EUA e possivelmente de submarinos americanos e britânicos.
Essa ação pode sofrer uma escalada para bombardeios aéreos. Porém, as ações seriam feitas à distância, ou seja, os aviões lançariam seus mísseis e bombas de fora do espaço aéreo sírio. Bombardeiros britânicos e franceses poderiam atacar alvos na Síria operando de suas bases nacionais, como fizeram durante a crise na Líbia, e ─ no caso da França ─ no Mali.

2. Aumento da ajuda à oposição síria

O general Dempsey considera essa a principal opção. Isso envolveria força não letal para elevar o treinamento e a orientação para elementos da oposição. O processo seria uma extensão do trabalho que já vem sendo feito no país.

Quais são os modelos para uma possível intervenção?

  • Iraque 1991: Coalizão global liderada pelos Estados Unidos e baseada em leis internacionais; mandato explícito do Conselho de Segurança da ONU para expulsar as forças iraquianas do Kuwait.

  • Balcãs 1990s: Armamentos americanos foram fornecidos para a resistência anti-sérvia na Croácia e na Bósnia, apesar de um embargo de armas da ONU estar em vigor. Mais tarde, uma campanha aérea foi liderada pelos americanos contra paramilitares sérvios. Em 1999, caças americanos realizaram 38 mil voos pela Otan (aliança militar ocidental) contra a Sérvia para tentar impedir massacres em Kosovo. Elas foram consideradas legalmente controversas.
  • Somália 1992-93: O Conselho de Segurança da ONU autorizou a criação de uma força internacional com o objetivo de facilitar a chegada de suprimentos humanitários com o colapso do Estado. Um envolvimento militar americano gradual e sem objetivo claro culminou com o disastre das quedas dos helicópteros Blackhawk em 1993. O episódio levou à retirada das tropas americanas do país.

  • Líbia 2011: França e Grã-Bretanha pediram autorização do Conselho de Segurança da ONU para fazer uma intervenção humanitária em Benghazi em 2011. A Rússia e a China se abstiveram, mas não vetaram a resolução. Ataques aéreos continuaram até a queda de Khadafi.
Entretanto, essa opção está naufragando devido às crescentes divisões dentro da oposição e ao medo crescente no Ocidente de que algumas das unidades militares rebeldes mais poderosas venham de grupos ligados a organizações semelhantes à Al-Qaeda.

3. Criação de uma zona de exclusão aérea

O objetivo aqui seria evitar que o governo sírio use sua aviação para atacar unidades rebeldes terrestres e abastecer bases isoladas com suprimentos. Para isso, provavelmente seria necessário desmantelar o sistema de defesa aérea da Síria. Além disso, forças teriam que estar disponíveis para atacar aviões sírios que tentassem decolar.
Esse tipo de zona de exclusão aérea vem sendo discutida há um ano e geralmente tem sido rejeitada. Falou-se muito do sistema de defesa aérea da Síria, que antes da guerra civil era extenso e bem integrado. Ele é composto de um grande número de armas da era soviética atualizadas com tecnologia moderna russa.
Porém, a eficiência desse sistema como um todo é uma dúvida. As perdas territoriais do regime podem ter provocado furos no sistema de defesa e a força aérea israelense já demonstrou ser capaz de atingir alvos dentro da Síria impunemente (apesar desses ataques terem sido feitos com armas disparadas à distância).
O que está claro é que estabelecer uma zona de exclusão aérea envolve muito mais riscos iniciais aos pilotos americanos e seus aliados e requer a mobilização por prolongado período de tempo de uma força significativa ─ não apenas de caças e bombardeiros, mas de aviões de reabastecimento, de radar, de comando e de controle, e assim por diante.

4. Estabelecimento de zonas de segurança

A ideia aqui seria estabelecer zonas seguras na Síria ─ provavelmente perto de suas fronteiras com a Turquia e a Jordânia ─ a partir de onde forças rebeldes poderiam operar e refugiados poderiam receber suprimentos. Contudo, essa proposta também já havia sido discutida e descartada.
Essas zonas seguras necessitariam do estabelecimento de zonas de exclusão aéreas limitadas e há várias dúvidas sobre como elas seriam defendidas no solo. O que aconteceria, por exemplo, se o governo Sírio disparasse contra essas regiões?
Outra ideia discutida foi a implementação de áreas de restrição ao movimento para limitar a ação das forças terrestres de Assad. Mas nesse caso, intervenções aéreas também seriam necessárias e a operação começaria a se parecer cada vez mais com uma guerra de larga escala na Sìria.

5. Controle do arsenal de armas químicas da Síria

Essa foi uma das sugestões do general Dempsey com foco em prevenir o uso e a proliferação de armas químicas. Isso poderia ser feito por meio da destruição parcial de estoques de armamentos da Síria, dificultando sua movimentação ou capturando instalações estratégicas. Mas isso requiriria um envolvimento massivo dos Estados Unidos, incluindo tropas terrestres, por um período indefinido de tempo.
O que aparece claramente na carta do general Dempsey (e também em um texto que ele enviou recentemente a um outro parlamentar americano) é sua extraordinária relutância em embarcar em qualquer tipo de ação militar.
Mas isso ocorreu antes do suposto uso de armas químicas na Síria, que levaram o presidente Barack Obama a ser forçado a dar uma resposta à comunidade internacional após a "linha vermelha", que ele disse ter sido cruzada.
O cenário mais provável, se o uso da força for necessário, é o número 1: Um ataque pequeno e de caráter punitivo para mandar uma mensagem ao regime sírio. Mas qualquer decisão para agir levanta uma série de questões:
Em que grau novas evidências ─ se houver alguma ─ serão solicitadas aos inspetores de armas da ONU antes que uma ação militar seja desencadeada?
Qual será a legalidade desse tipo de ação em termos internacionais ─ especialmente após a Rússia e a China terem se oposto resolutamente no Conselho de Segurança da ONU a apoiar qualquer ideia de ação militar?
Mas talvez a questão mais importante de todas seja o que fazer depois de uma eventual ação militar. Em que medida essa operação aproximará a Síria da paz? Que tipo de política, ou combinação de políticas, pode fazer isso? A dinâmica da crise síria será alterada após um ataque dos EUA e seus aliados? Uma ação militar ocidental não pode tornar as coisas muito piores na Síria?

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