Alta do dólar eleva custo de importação da Petrobrás, que pode ser compensado por reajuste de combustíveis
Mauro Zanatta e Tânia Monteiro, de O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - A demora na autorização de um novo reajuste
para a gasolina e o óleo diesel no País deve provocar um gasto adicional
para a Petrobrás de R$ 900 milhões por mês na importação desses
combustíveis, segundo cálculos do Itaú BBA. Mas a presidente Dilma,
apesar de decidida a autorizar o reajuste, quer esperar que o câmbio e a
inflação estejam sob controle para definir o aumento.
Dilma quer ter segurança sobre o "espaço na inflação" que o governo terá para amortecer seu efeito nos índices de custo de vida. O adiamento do reajuste é uma aposta na "convergência" dessas variáveis para estreitar o aumento. O governo já "precificou" que, a partir de agosto, a inflação medida pelo IPCA voltará a subir. "Todo ano é assim. Por isso, vamos esperar essas duas variáveis para decidir o tamanho do reajuste", informou a autoridade.
Esse "espaço" será decisivo para dimensionar o aumento nos preços na refinaria, uma medida considerada altamente impopular, mas necessária para reduzir as perdas da petroleira estatal com esses combustíveis.
Custo. A Petrobrás deverá gastar cerca de R$ 900 milhões mensais com importações sem esse aumento, avaliou relatório do Itaú BBA divulgado ontem. Esse gasto adicional, calcula a corretora, elevará a relação dívida líquida/Ebitda (lucro antes de juros, imposto, depreciação e amortização) para 4,2 vezes até o fim de 2014 e a relação dívida líquida/capital total a 46%.
O óleo diesel já foi reajustado duas vezes neste ano - 6,6% em janeiro e 5% em março. A gasolina teve aumento de 5,4% na refinaria em janeiro. A Petrobrás alega perdas com a defasagem entre os preços internos e a cotação internacional de derivados de petróleo, cotado em dólar - a moeda americana caiu 0,71% e fechou ontem a R$ 2,37.
O governo não tem mais espaço para neutralizar um novo aumento, já que zerou o imposto da gasolina (Cide) e elevou ao teto a mistura de etanol.
Volatilidade. A presidente avalia que a instabilidade do dólar impede, neste momento, qualquer projeção ou cálculo para o reajuste da gasolina e do óleo diesel. Por isso, o governo vai esperar o dólar flutuar de maneira mais suave. "Quando ficar em um intervalo durante um período mais longo, pode ser o momento de reajustar", disse a fonte. Mas os ruídos externos, com a iminência de mudanças na política monetária dos EUA, mantêm as dúvidas sobre essa variação menos brusca.
Dilma também avalia que é mais prudente esperar eventuais efeitos de nova seca nas principais regiões agrícolas americanas antes de definir. Isso pode alterar o quadro global de oferta e demanda de alimentos, puxando ainda mais para cima os preços dessas commodities. O reflexo do problema climático na inflação de alimentos pode alterar todo o panorama inflacionário neste semestre. Em 2012, quando ocorreu uma seca nas lavouras americanas, houve forte pressão dos alimentos no IPCA. "Temos de ter certeza sobre isso", disse a fonte.
Impactos. A estimativa do Itaú BBA mostra os potenciais impactos de uma alta dos preços na economia. Um reajuste de 10% no diesel e na gasolina tem impacto de 0,27 ponto porcentual no IPCA de 2013. A redução de alíquotas de PIS e Cofins pode neutralizar esse impacto ao consumidor final, mas custaria cerca de R$ 4 bilhões ao Tesouro. Isso reduzindo o superávit primário em 0,1% do PIB, o que é significativo, já que cumprir a meta atual de 2,3% já parece difícil, diz o relatório.
O cálculo da corretora não inclui o impacto indireto em toda a cadeia de valor da produção, o que poderia adicionar cerca de 0,10% do PIB em período mais prolongado.
"Acrescente a isso o risco de protestos de rua e greves de motoristas de caminhão, ou uma possível reação dos prefeitos de cidades como São Paulo ou Rio, que estão pedindo o restabelecimento da Cide sobre a gasolina para financiar a redução das tarifas de transporte público", avaliam os analistas Paula Kovarsky e Diego Mendes. / COLABOROU BETH MOREIRA
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