MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 24 de agosto de 2013

No Amazonas, microempresa produz aguardente de frutos amazônicos


Bebida sustentável é ideia de farmacêutico e pesquisador aposentado do Inpa.
Aguardente terá 40% de álcool e sabores como cupuaçu e açaí.

Camila Henriques Do G1 AM

Aguardentes de cupuaçu (foto) e açaí são os mais viáveis comercialmente, segundo proprietário da Sohervas (Foto: Camila Henriques/G1)Aguardentes de cupuaçu (foto) e açaí são os mais viáveis comercialmente, segundo proprietário da Sohervas (Foto: Camila Henriques/G1)
Pela primeira vez, os frutos amazônicos serão utilizados na composição de aguardentes. A iniciativa é da empresa Sohervas da Amazônia, do farmacêutico José Augusto Cabral. Pesquisador aposentado do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Cabral tem se dedicado à experimentação de aguardentes de cupuaçu e açaí, e pretende entregar o primeiro lote - também chamado de 'piloto' - do produto em 2014.
O proprietário da Sohervas recebeu o G1 na sede da microempresa, em um galpão do Centro de Incubação e Desenvolvimento Empresarial (Cide), na Zona Sul de Manaus. "Estamos fazendo um produto de nível internacional. Temos o diferencial de sermos os primeiros com esse tipo de aguardente. Já existem vários de frutas como jaboticaba, banana e uva, mas a ideia de usar ingredientes amazônicas é original", disse.
José Cabral é farmacêutico e pesquisador aposentado do Inpa. Desde 2006, é proprietário da Sohervas. (Foto: Camila Henriques/G1)José Cabral é farmacêutico e pesquisador aposentado do Inpa. Desde 2006, é proprietário da Sohervas. (Foto: Camila Henriques/G1)
Segundo o farmacêutico, a aguardente deve ter 40% de álcool. O processo de produção é semelhante ao feito para obtenção da cachaça - que nada mais é do que uma aguardente feita a partir da cana-de-açúcar. "Misturamos o extrato da fruta a um fermento biológico, que permite a transformação dos açúcares do produto em aguardente. No processo seguinte, fazemos a destilação em um alambique e a padronização, em 40%", explicou.

Obstáculos
Ainda em fase experimental, o projeto enfrenta obstáculos para chegar ao mercado. "Temos alguns problemas em Manaus, como a embalagem, que não é produzida aqui. No momento, compro embalagem no Sul do país, mas existe a alternativa de importar da Venezuela - nesse caso, teria menos problemas, já que o vidro lá sai mais barato e chega mais rápido", destacou.
A China é outra opção para a empresa. No entanto, Cabral ressaltou que precisaria de um investidor para comprar um contêiner de vidro. "Lá, o preço é bem menor. A única desvantagem é que eu necessitaria de um capital grande, porque na China só vendem em quantidade", disse.
Com o auxílio de um mestre em fermentação e uma equipe formada por farmacêuticos e químicos, Cabral deu início à produção de aguardentes com os ingredientes que julga serem mais viáveis comercialmente. De acordo com ele, o projeto será finalizado somente quando todas as opções viáveis forem experimentadas. "Fizemos primeiro com cupuaçu e agora estamos trabalhando com açaí. Temos mais quatro ou cinco ingredientes para comparar e produzir o lote-piloto do fruto que der a melhor qualidade de aguardente", revelou.
Aguardente de açaí está em fase de experimentação (Foto: Camila Henriques/G1)Aguardente de açaí está em fase de experimentação
(Foto: Camila Henriques/G1)
Quatro mil garrafas por mês
No momento, o empresário aguarda a liberação de um galpão no Distrito Industrial de Micro e Pequenas Empresas de Manaus (Dimpe), na Zona Oeste da cidade, para ampliar a produção da aguardente. Em 2011, ele ganhou, por meio de edital, uma vaga no distrito. "Preciso movimentar um volume grande de frutas e embalagens e o espaço que utilizamos no Cide não comporta isso. Enquanto aqui temos 100 metros quadrados, no Dimpe nos serão disponibilizados 400 metros quadrados", acrescentou.
Por conta do espaço menor no Cide, a Sohervas ainda não possui os equipamentos necessários para produção em larga escala. Segundo Cabral, assim que for feita a transferência para o Dimpe, os equipamentos virão de Minas Gerais para a capital amazonense.
Com um espaço maior, Cabral quer produzir em torno de dois mil litros mensais em garrafas de 500 mililitros - o que significaria quatro mil garrafas por mês.
Atualmente, Sohervas faz experimentos com aguardente de açaí (Foto: Camila Henriques/G1)Atualmente, a Sohervas faz experimentos com
aguardente de açaí (Foto: Camila Henriques/G1)
Sobre a Sohervas
Cabral teve a ideia de produzir aguardente com frutos amazônicos nos anos 90, quando fazia doutorado em Farmacobiologia nos Estados Unidos. Naquela época, ele já imaginava o que poderia fazer no futuro para produzir padrões químicos, por acreditar em uma carência nesta área no Brasil. "Todas as indústrias farmacêuticas do país importam padrões caríssimos - um miligrama custa U$ 1 mil. A biodiversidade da Amazônia é rica e pode fornecer insumos de qualidade para as indústrias farmacêuticas, de cosméticos e alimentos", ressaltou.
Desse questionamento, nasceu a Sohervas da Amazônia, em 2006. O empresário percebeu que poderia fazer mais que padrões químicos e começou a investir na produção de licores de frutas regionais. "Gastei de três a quatro anos para conseguir todos os registros e consegui que essa empresa fosse a primeira com autorização do Ministério da Agricultura para produzir esses licores", lembrou.
Além dos aguardentes, Sohervas produz licores de frutos amazônicos (Foto: Camila Henriques/G1)Além dos aguardentes, Sohervas produz licores de frutos amazônicos (Foto: Camila Henriques/G1)
Atualmente, estão licenciados vinte licores diferentes, com ênfase para dois sabores: açaí e cupuaçu. O sucesso do projeto garantiu que a Sohervas partisse para a produção de aguardente. Em 2011, a empresa ganhou investimentos do Governo Federal para colocar a ideia em prática. No ano passado, o projeto dos aguardentes amazônicos foi o primeiro colocado no prêmio Professor Samuel Benchimol, que contempla tecnologias para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
O trabalho de cunho sustentável da Sohervas é financiado pelos Governos Federal e Estadual - este último, por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

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