MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

'Medicina é igual em todo lugar, só muda o endereço', diz médico cubano


No Brasil há 13 anos, ele defende que colegas estão preparados para atuar.
Alejando Marin critica pagamento do Mais Médicos e posição do CFM.

Tahiane Stochero Do G1, em São Paulo

Há 13 anos no Brasil, o médico cubano Alejandro Santiago Benitez Marin, de 51 anos, diz não ter sentido dificuldades para clinicar no país. O epidemiologista, que atende pacientes pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Bom Jesus (SC), acredita que os colegas, que chegam por meio do convênio do Mais Médicos, não terão dificuldades de se adaptar e que não há problemas em receitar medicamentos ou fazer diagnósticos em outra língua.
“Em dois meses, eu já entendia perfeitamente tudo. As diferenças são culturais, mas eu gosto do Brasil e fiquei aqui por isso. Fazer medicina é igual em todo o lugar, só muda o endereço”, afirmou ele, em entrevista ao G1.
Info Mais Médicos V5 6.8 (Foto: Editoria de Arte/G1)
Quando deixou Havana, em 2000, em um programa de parceria entre os dois governos para desenvolvimento da medicina comunitária no interior de Santa Catarina, tinha que pagar 50% do salário para a embaixada de Cuba. Abandonou o sistema dois anos depois e teve o contrato cancelado, sendo impedido, agora, de retornar a Cuba, diz.

Marin não é contra o programa Mais Médicos, mas critica a forma como o governo brasileiro fará o pagamento aos compatriotas.

Pelo acordo firmado entre o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana de Saúde (Opas) para contratar 4 mil médicos cubanos, o governo brasileiro pagará à Opas o valor equivalente à remuneração dos demais profissionais de outras nações - R$ 10 mil - e a organização repassará esse dinheiro a Cuba. O Brasil não sabe quanto dos R$ 10 mil ficará com os médicos e quanto irá para o governo cubano.
“Eu não sou contra que eles venham, não. Os médicos cubanos são muito bons, nossa medicina é a melhor do mundo. Só não concordo com a forma como o governo quer pagar, repassando o dinheiro para Cuba e Cuba vai decidir a quantia que vai repassar. Isso não tem cabimento”, afirma Marin.

“A gente sai para ficar longe da família, enfrentar costumes e culturas diferentes. Eu acho que não falaram para eles quanto eles vão ganhar, eles se inscreveram com o objetivo de solidariedade, como é o modelo de ajuda cubano. Mas não é coerente eles não receberem a mesma coisa que os demais estrangeiros que chegam”, defende.

O médico se formou na Escola Latino-Americana de Medicina, em Havana, em 1988, e possui especializações em epidemiologia e administração da saúde, ambas realizadas em Cuba. Antes de vir ao Brasil também atuou na Angola, por dois anos, pelo mesmo programa.

“Meu salário era pago pela prefeitura de Irati (SC) direto a mim e eu tinha que repassar a metade. Ficava como o salário de uma enfermeira. Eu não concordava em repassar os 50% para a embaixada cubana (na época) todo mês. Se eu atrasava, alguém me ligava cobrando”, diz ele, que abandonou o programa em 2002.



Posição do Conselho Federal de Medicina
Marin atua como professor em Blumenau e mora em Chapecó com a mulher e quatro filhos pequenos, que vieram para o Brasil em 2006. Ele entende que há médicos cubanos “fazendo um excelente trabalho no norte e nordeste”.
O Conselho tem nos ofendido sem necessidade desde o início, chamando-nos de curandeiros, feiticeiros. Eu sou incapaz de ofender um médico brasileiro"
Alejandro Benitez Marin,
médico cubano
“O Conselho Federal de Medicina tem nos ofendido sem necessidade desde o início, chamando-nos de curandeiros, feiticeiros. Eu sou incapaz de ofender um médico brasileiro, mesmo conhecendo médicos brasileiros que cometem erros, a imprensa publica sempre. Tem médico ruim e bom tanto no Brasil quanto em Cuba. Não temos culpa do que está acontecendo no Brasil e que os médicos de fora têm que vir”, entende ele.

Ele afirma, porém, que o modelo cubano de atendimento à população é melhor que o oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), pelo qual trabalha em Bom Jesus.

“Em Cuba é bem mais fácil o atendimento, não tem esta fila que há hoje no SUS, em que há a demora de três meses para a realização de exames simples, como ultrassonografia ou ressonância. Em Cuba este exame é feito no mesmo dia ou na mesma semana. Esta demora faz o diagnóstico médico ter que esperar”, afirma.

“O sistema cubano dá 'de lavada' no SUS, tanto no atendimento normal quanto de emergência. A especialização nossa é muito boa, tanto que Cuba exporta médicos para mais de 70 países”, defende.

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