MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Homem transforma residência em casa de apoio a pessoas doentes


Edivaldo Paes largou carreira no Exército para realizar trabalho social.
Casa de Apoio recebe doentes do interior do Acre e outros estados.

Yuri Marcel Do G1 AC

Edivaldo Paes abriga pacientes vindos do interior em sua casa (Foto: Nathacha Albuquerque/G1)Edivaldo Paes abriga pacientes vindos do interior em sua casa (Foto: Nathacha Albuquerque/G1)
Em um terreno simples no bairro Taquari, na periferia de Rio Branco, Edivaldo Freitas Paes se tornou 'pai' de muitas pessoas, algumas até mesmo mais velhas que o artesão de 45 anos. Há 21 anos, ele largou o Exército e uma possível carreira como médico para acolher e ajudar pessoas doentes transformando sua própria residência em uma casa de apoio.

A vida que Paes tinha começou a mudar quando em 1992 ele foi a um seringal para visitar parentes de sua esposa. "Fui para dentro da Reserva Chico Mendes, quando ela ainda nem tinha esse nome e vi aquele povo todo abandonado e eu com tanto conhecimento na área de saúde não poderia ficar sem fazer nada. Voltei para casa e com um mês pedi afastamento com a ideia de voltar para lá", conta.

Na Reserva ele ajudou a fundar uma escola e um posto de saúde, porém, teve que voltar para Rio Branco por causa dos três filhos. A partir de então, foram os seringueiros que começaram a viajar para a casa dele.

"Começou a aparecer de vez em quando um seringueiro com saco de estopa nas costas, atrás de tratamento de saúde. Aí começamos a dar esse auxílio e foi aparecendo mais gente. Hoje temos pessoas até do interior do Amazonas e Rondônia, além do Peru e Bolívia que são acolhidos na casa", diz.

Aos poucos o local foi sendo ampliado e hoje tem espaço para 40 pessoas. "Fomos adaptando, todo ano a gente constrói um pouco. Até três meses atrás morávamos aqui, agora fizemos outra casa no mesmo terreno", fala.

'Para mim é como um pai'
Gente simples que vem em busca de tratamento ou até mesmo gente que precisa apenas de um teto por um tempo, todo mundo é bem-vindo na casa. Esse é o caso de Francisco Evangelista, mais conhecido como Ceará, de 31 anos.
Francisco Evangelista (Foto: Nathacha Albuquerque/GE)Francisco Evangelista chegou no local há dois meses
(Foto: Nathacha Albuquerque/GE)
O cearense chegou a casa há dois meses precisando de ajuda para tratar um problema que lhe afetou a audição e conta que foi bem recebido. "Somos iguais, se a gente tem uma coisa ninguém mexe, somos como uma família. Estamos aqui um para ajudar o outro", ressalta.

Outra que também diz ser grata a seu Edvaldo é a dona de casa Francisca de Oliveira, de 53 anos. Ela veio do município de Feijó acompanhando o marido que se feriu após um disparo acidental de espingarda.

"Quando saí de casa minha família disse que eu ia ficar jogada na rua porque não tinha parente aqui e eu disse que encontraria uma pessoa para me ajudar. Vim para cá e eles são muito bons para nós. Para mim é como um pai e uma mãe", diz.

Família
A família de Edivaldo Paes embarcou no sonho do ativista, apesar de uma resistência inicial da esposa Rosélia de Aguiar Paes, a Nena. "No início não tinha costume com esse movimento todo, aí adoeci e fiquei cinco anos doente e foi muito difícil. Quando fiquei boa agarrei a causa, porque vi que se para nós que moramos na cidade é difícil conseguir tratamento imagina para quem vem do interior", diz.

O casal acabou até mesmo adotando mais dois 'filhos', ambos com deficiência mental. O primeiro, José da Silva, de 58 anos, ficou sob responsabilidade deles quando a mãe morreu.

"Ela tinha vindo fazer um curso e no último dia passou mal e morreu, o Ministério Público (MP-AC) ainda tentou encontrar algum parente, mas não conseguiu e ele acabou ficando conosco", conta dona Nena.

O segundo filho possui 34 anos e tem uma história triste. A mãe alcoólatra havia tentado matá-lo, ele acabou sendo internado no Hospital de Saúde Mental do Acre (Hosmac), mas teve que ser retirado de lá, após sofrer abusos por parte de outros internos.

O dono da casa confecciona artesanatos com pneus velhos para ajudar nas despesas    (Foto: Yuri Marcel/G1)O dono da casa confecciona artesanatos com pneus
para ajudar nas despesas (Foto: Yuri Marcel/G1)
Artesanato
Comprovando a tese de Platão de que 'a necessidade é a mãe da invenção', Edvaldo passou a fabricar peças de decoração e móveis feitos com pneus para manter a casa em funcionamento. "Fazemos bonecas, bolsas de garrafa pet, cadeiras e mesas de pneus e várias outras atividades, todas para trazer benefício para a instituição", salienta.

Ele até mesmo passou a realizar parcerias com escolas para arrecadar alimentos em troca de cursos de artesanato.

"Uma vez estávamos com 60 pacientes aqui na casa e no dia seguinte não tinha nada para comer, uma professora me viu dentro do ônibus e perguntou sobre a técnica de artesanato e me convidou para dar uma oficina na escola. Hoje mantemos a casa assim, vamos nas escolas, mostramos nosso trabalho e as escolas fazem campanha enquanto minha equipe vai dar oficina de artesanato", explica.

Necessidades
Coordenador do Conselho Nacional de Economia Solidária no Acre, ele lamenta apenas não receber apoio do estado. "Fui convidado para passar quatro anos em Canoas (RS) e desenvolver um projeto de artesanato lá. Enquanto meu estado não dá valor para o nosso artesanato", lamenta.

Com a ajuda da Central de Articulação das Entidades de Saúde (Cades) a casa passou a ser ter um reconhecimento oficial como casa de apoio, recebendo um auxílio de R$1,5 mil para alimentação e compra de produtos de limpeza.
As acomodações são humildes, mas todos os pacientes tem onde dormir (Foto: Yuri Marcel/G1)As acomodações são humildes, mas todos os
pacientes têm onde dormir (Foto: Yuri Marcel/G1)
"Foi a Cades que ensinou a nos organizar e cadastrar os pacientes, para as pessoas começarem a ver nosso trabalho. Tínhamos que nos organizar para saber quantos pacientes recebemos, quantos idosos, quantas gestantes, quantas pessoas com deficiência", salienta.

Porém, a verba ainda não é suficiente para suprir todas as necessidades dos pacientes. Ele diz que atualmente sua maior ambição é conseguir um veículo para poder fazer o transporte dos pacientes até as unidades de saúde.

"Temos um transporte que hoje pifa e amanhã não funciona e mantemos com muita dificuldade, temos idosos, cadeirantes, pessoas que fazem quimioterapia e não temos como levar essas pessoas de ônibus. Precisamos de um transporte nosso", enfatiza.

Segundo Edivaldo, com a venda de um conjunto de mesa e quatro cadeiras feitas de pneus até conseguiria juntar R$ 5 mil para dar entrada em um veículo, mas não teria como manter uma regularidade no pagamento das parcelas.

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