MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Artesão que produziu peças para Chacrinha se destaca em Teresina


Mestre Luiz tem na lenda do 'Cabeça de Cuia' sua maior inspiração.
Na década de 1980 ele recebeu encomenda de troféus para Chacrinha.

Catarina Costa Do G1 PI
Teresina Heade (Foto: Adelmo Paixão/G1)
Uma das lendas mais conhecidas de Teresina é contada pelas mãos de um artista há 40 anos. A misteriosa história do 'Cabeça de Cuia', um jovem amaldiçoado após agredir a mãe e viver vagando às margens do Rio Parnaíba em busca das sete virgens, é a grande inspiração do escultor José Luiz de Sousa, de 57 anos.
Considerado o primeiro teresinense a esculpir imagens da lenda piauiense, Mestre Luiz, como é mais conhecido, revela que a motivação veio através das histórias de cordel que o tio, marceneiro, contava quando ele ainda era criança. Na década de 1980, o artista já conhecido pelo público recebeu uma grande encomenda de troféus no formato do Cabeça de Cuia para o programa do Chacrinha.
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José Luiz mostra projeto de uma escultura do Cabeça de Cuia (Foto: Catarina Costa/G1)José Luiz mostra projeto de uma escultura do Cabeça de Cuia (Foto: Catarina Costa/G1)
"Um dia eu peguei meu tio lendo o conto do Cabeça de Cuia e achei interessante, eu deveria ter uns 7 para 9 anos e tudo que via ficava imaginando um moço da cabeça grande e do corpo pequeno. No interior tem um mato chamado Cordão de São Francisco, que é composto de um talo fino e uma ponta grossa, e eu pegava vários e espalhava na estrada dizendo que era o mostro da história”, recorda.
Aos 14 anos, José Luiz começava as primeiras esculturas do Cabeça de Cuida em madeira, ainda de forma tímida e escondido do pai que o queria ajudando na roça. “Nós morávamos em São Felix, Zona Rural de Teresina. Às vezes ele me gritava, perguntando o que eu estava fazendo, mandando ir trabalhar com ele, mas ao pegar o facão ficava horas tentando montar alguma coisa”, comenta o mestre.
Escultor também trabalha com temas regionais (Foto: Catarina Costa/G1)Escultor também trabalha com temas regionais e com imagens sacras (Foto: Catarina Costa/G1)
O escultor lembra que as primeiras obras fez como diversão e certo dia um viajante ficou admirado com suas esculturas ao ver crianças da região jogando pedra num Cabeça de Cuia. “Eu me lembro bem deste dia, ele desceu e perguntou porque a gente estava fazendo aquilo com aquela obra de arte. Depois quis saber quem tinha feito e ao falar comigo disse pra continuar com o meu artesanato, que um dia eu seria famoso. Desde aquele tempo até hoje nunca mais parei de esculpir”, conta.
Apesar do dom, Mestre Luiz destaca que começou profissionalmente somente em 1974, quando passou a vender as suas esculturas na porta de casa no bairro Mafrense, Zona Norte da capital. Na década de 1980, o artista já conhecido pelo público recebeu uma grande encomenda de troféus no formato do Cabeça de Cuia para o programa do Chacrinha.
Artista carrega com orgulho carteira de registro nº 6 (Foto: Catarina Costa/G1)Artista carrega com orgulho carteira de registro nº 6
(Foto: Catarina Costa/G1)
“Em 1982 fiz também umas imagens para a Premiação do Intelectual. Atualmente sou convidado a participar de eventos em Recife, Fortaleza, Belém, recebo muitos pedidos destes lugares. Em Recife, por exemplo, participo da Ferneart. Sou muito prestigiado lá, quando não posso ir, mando as minhas peças”, revela.
Artesão destaca escultura de São Francisco de 1m50 (Foto: Catarina Costa/G1)Artesão destaca escultura de São Francisco de
1m50 (Foto: Catarina Costa/G1)
Mesmo com o sucesso, o escultor mantém o mesmo ponto comercial no Mercado Central de Teresina há 23 anos e faz questão de mostrar a carteira de registro no Prodart, que comprova o artista ser o sexto artesão no meio de 4 mil registrados no Piauí. O mestre destaca ser um dos poucos artistas brasileiros a trabalhar com a técnica do entrançado, que aprendeu com espanhóis durante um curso em Belém.
Além da lenda piauiense, Luiz produz outras obras com temas regionais e religiosos, mas revela que a do Cabeça de Cuia sempre é a mais pedida pelos clientes. “Estou há vários meses trabalhando somente ele, recentemente esculpi várias obras para Amostra Piauí Sampa. Tenho uma habilidade tão grande de fazê-lo, que pareço até uma máquina e chego a fazer três peças por dia”, disse.
As esculturas do mestre variam de R$ 10 a R$ 1 mil. Ele conta que mês atrás produziu uma imagem de São Francisco de 1,50 m e está trabalhando em seu sítio uma escultura do Cabeça de Cuia de 1,60 m.
Além de viver da venda de suas obras, o artista também ministra aulas de artesanato no interior do Piauí. "Fico feliz em repassar a minha técnica para os mais jovens e sempre reconheço de primeira quando a pessoa tem habilidade. Esta é uma esperança", avalia Mestre Luiz.

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