MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Propaganda da Telex Free usa Ferrari financiada por estelionatário, diz MP


Ex-ambulante aparece como proprietário em campanha da empresa.
MP de Mato Grosso revela que o carro estava em nome de estelionatário.

Renê Dióz Do G1 MT

Inquérito instaurado pelo Ministério Público Estadual de Mato Grosso revela que a Ferrari Spider utilizada pela empresa Telex Free em uma de suas campanhas sobre "cases de sucesso", na qual um ex-vendedor ambulante aparece como proprietário do veículo de luxo, consiste na verdade em um carro financiado pelo Banco do Brasil e que estava em nome de um estelionatário do estado do Rio Grande do Sul atualmente em liberdade provisória.
Empresa nega atuação por esquema de pirâmide, considerado ilegal. (Foto: Reprodução / TVCA)Empresa nega atuação por esquema de pirâmide
(Foto: Reprodução / TVCA)
Avaliada em cerca de R$ 2,5 milhões, a Ferrari Spider figura em um dos inúmeros vídeos atualmente disponíveis na internet com o intuito de divulgar a empresa Telex Free, investigada em pelo menos cinco unidades da federação por engendrar suposto esquema de pirâmide financeira, modalidade vetada pela legislação.
No video, o ex-vendedor ambulante Inocêncio Pereira Reis Neto, conhecido como "Pelé Reis", conta uma história de superação. Natural de Nanuque (MG), ele recorda sua mudança em 1998 para o estado do Espírito Santo, cuja capital Vitória abriga a sede da Telex Free no Brasil. Passando por dificuldades financeiras, no novo estado Pelé chegou a vender queijo na praia e também montou uma barraca de churrasquinho.
Depois que começou a trabalhar na divulgação da Telex Free, sua vida mudou. Relata que conseguiu comprar um apartamento à beira-mar em Vitória, num lugares mais "badalados". Chegou até a trocar de carro duas vezes em quinze dias e, numa viagem ao município de Novo Hamburgo (RS) para um evento da empresa onde trabalharia para orientar os divulgadores, teria recebido proposta de um conhecido para comprar uma Ferrari à disposição em uma loja da cidade.
Dizendo-se tentado pela visão do veículo vermelho, Pelé conta no video que não resistiu e chegou a perder um vôo marcado para ver o carro. Quando deu por si, lembra, já estava pagando uma parcela da Ferrari.
Com este depoimento, o ex-ambulante faz um apelo para os internautas para que acreditem na lucratividade prometida pela Telex Free. "Se o Pelé conseguiu, por que eu não?", convida a refletir.
Inquérito
A história contada por Pelé não corresponde à apurada pelo Ministério Público (MP) por meio de inquérito ainda em andamento. Segundo a promotora Fernanda Pawelek, da comarca de Lucas do Rio Verde (município a 360 km de Cuiabá), em entrevista concedida ao G1 em 13 de março, durante a investigação a Ferrari utilizada na propaganda não constava como propriedade de Pelé Reis.
Na apuração sobre a empresa, o MP chegou à informação de que o veículo se encontrava em alienação fiduciária (ou seja, financiado) pelo Banco do Brasil em nome de uma outra pessoa, natural de Passo Fundo (RS), a qual atualmente encontra-se em liberdade provisória pelo crime de estelionato. Aliás, o próprio Inocêncio é investigado pelo mesmo crime, segundo o MP. "Se o negócio é tão rentável como eles dizem, porque é que eles precisam se valer de uma mentira para vender esse negócio?", questiona a promotora Fernanda Pawelek.
Registro do veículo
Após o apontamento do fato feito na imprensa pela promotoria de Justiça do município de Lucas do Rio Verde, divulgadores se manifestaram afirmando que o MPE se equivocou, pois documentos publicados nas redes sociais por meio de uma conta individual com o nome de "Pelé Reis" traziam justamente o registro da Ferrari em seu nome.
Os documentos seriam o certificado de registro de veículo e o certificado de registro e licenciamento de veículo, ambos expedidos pelo Detran do Espírito Santo, em Vila Velha, na data de 13 de março de 2013, mesma data que a promotora Fernanda Pawelec concedeu entrevista ao G1 e repassou informações sobre o documento do carro, as quais haviam sido obtidas em fevereiro (de acordo com trecho do inquérito, as últimas informações disponíveis a respeito do carro eram da data de 1º daquele mês).
A aquisição do veículo, segundo apurou o MPE, ocorreu no dia 11 de dezembro do ano passado. No dia 19 de fevereiro, a situação do veículo em alienação fiduciária ainda era válida e foi registrada em certidão da assistência ministerial da promotora de Lucas do Rio Verde.
No dia 20, houve comunicação do MPE com o Banco do Brasil a respeito do caso. Ao longo do inquérito, também houve requisição de informações por parte do MPE à própria Telex Free, a qual ainda não foi respondida, informou a promotora. Depois disso, com investigações em curso e de conhecimento dos próprios líderes da Telex Free, ocorreu a transferência de propriedade do veículo.
Em consulta ao site do Departamento Estadual de Trânsito do estado do Espírito Santo no dia 16 de março de 2013, consta que a Ferrari está registrada em nome de Inocêncio Pereira Reis Neto.
A reportagem do G1 não conseguiu contato com Inocêncio Pereira Reis Neto para comentar a apuração do MP. Contudo, internamente, os líderes da Telex Free já comentam as investigações em andamento, defendendo a idoneidade da empresa perante os próprios investidores e potenciais divulgadores em reuniões de recrutamento.
Em uma delas, realizada recentemente, um dos representantes pela divisão de marketing da empresa, Carlos Costa, aponta num mensagem em video que as investigações são benvidas para "separar o joio do trigo" e ressaltar o lado positivo da empresa, que se diz séria e sólida.
Já um palestrante chega a desdenhar das investigações do MP, sugerindo que os promotores têm sanha por investigar a Telex Free porque seus divulgadores ganham muito mais dinheiro que eles, que tiveram de estudar para tornarem-se membros da instituição.
Ao G1, o advogado da Telex Free,  Horst Fuchs, já negou veementemente que o negócio consista em pirâmide financeira. “Nós temos hoje uma forma de bonificação, uma forma de remuneração aos divulgadores da Telex Free que premia o desempenho, assim como qualquer vendedor, por exemplo, é premiado de acordo com o que ele vende”, argumentou.

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