MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 14 de julho de 2013

Produtores conseguem controlar amarelão em laranjais de São Paulo


Quase 22 milhões de árvores já foram arrancadas no estado.
Brasil controla melhor a doença do que o maior concorrente, os EUA.

Do Globo Rural

Vinte e dois milhões de árvores foram arrancadas por causa de uma doença. Esse é o tamanho do estrago provocado pelo amarelão ou greening nos laranjais de São Paulo, o principal estado produtor do país. O número é assustador, mas o Brasil está conseguindo controlar melhor a doença do que o nosso maior concorrente, os Estados Unidos.
É bonito ver do alto. De perto, os pomares escondem um problema difícil de enxergar, mas não de reconhecer. O responsável pelo estrago que já atinge mais de 60% dos laranjais de São Paulo, principal estado produtor do Brasil, tem três milímetros.
É um inseto da família dos psilídeos, transmissor de uma doença conhecida por três nomes: HLB, greening ou amarelão. O principal sintoma de um pé atacado são as folhas amareladas. O fruto fica ácido ou azedo, mas o consumo não faz mal. A doença ataca apenas a planta.
Uma das primeiras propriedades onde a doença foi registrada no Brasil é o Sítio São Bento, em Santa Lúcia. Havia 30 hectares de laranja. A produtividade era boa, de quatro caixas por pé. No início dos anos 2000, os proprietários começaram a perceber que havia alguma coisa estranha surgindo no pomar. Só quatro anos depois, os técnicos conseguiram descobrir: era o amarelão.
Osvaldo e Lazara Padovani, veteranos no cultivo da laranja, tiveram que arrancar todos os pés. Guardam, no jardim, o material usado naquela época. Agora é tudo cana e lembrança. Foi assim com o casal Padovani, foi assim com muita gente que não teve outra saída. Até porque, com o amarelão, arrancar as plantas doentes é obrigatório. Faz parte do manejo.
Primeiro, é bom entender como os laranjais ficam doentes. O amarelão é uma doença causada por bactéria. O transmissor é o psilídeo, a Diaphorina citri, e o hospedeiro é o pé de laranja.
O inseto procura a planta para se alimentar. Se estiver infectada pela bactéria, ele se contamina, voa para outra planta, e ao se alimentar novamente, passa a bactéria para a planta sadia.  A bactéria se multiplica e é transportada para o todo o pé por meio do fluxo da seiva. Não se sabe como a bactéria chegou pela primeira vez ao Brasil.
É possível ver as várias fases do psilídeo, em uma criação para pesquisa, em outra planta hospedeira, a murta. Os pontos amarelos são os ovos. O psilídeo, ao se alimentar da seiva da planta, se posiciona em um ângulo de 45 graus. É nessa hora também que, na natureza, se adquire a bactéria.
“O adulto pode sobreviver, depois que ele vira adulto, em torno de três meses. Daí a importância de se efetuar esse controle desse inseto, porque senão ele vai estar por um período de três meses disseminando a bactéria em diferentes pomares. Ele é um inseto bastante migratório, não fica restrito a um pomar”, diz o agrônomo Marcelo de Miranda.
As imagens foram registradas no laboratório do Fundecitrus, o Fundo de Defesa da Citricultura, uma associação privada mantida por produtores e pelas indústrias de suco, que fica em Araraquara, São Paulo.
Os pesquisadores do Fundecitrus realizaram um estudo inédito: sequenciaram o genoma da bactéria que causa o amarelão. Um trabalho difícil, já que ninguém, até hoje, conseguiu reproduzi-la em laboratório.
“A maior dificuldade da bactéria é você estudá-la, porque você não consegue cultivá-la em meio de cultura. Normalmente, as bactérias crescem em meios ricos. Você pode estudar o crescimento, tolerância a temperatura, antibióticos, estudar o genoma dessa bactéria de forma mais maleável, mas a bactéria causadora do greening só cresce dentro da planta ou dentro do inseto. Isso limita muito a maneira como nós conseguimos trabalhar com essa bactéria”, afirma o biólogo Nelson Wulff.
Por causa dessa dificuldade para desvendar os mecanismos de ação da bactéria, as atenções estão voltadas para o inseto. No laboratório do Fundecitrus, estão sendo desenvolvidas várias pesquisas com o objetivo de combater o psilídeo. Um estudo, por exemplo, aposta no poder de atração do inseto. Os pesquisadores já descobriram que a planta muito atacada pelo amarelão libera um odor que o psilídeo adora, mas é um cheiro que a gente não consegue perceber.
Já o inseto sente direitinho. Em um olfatômetro, de um lado do tubo só tem ar puro, filtrado, e do outro, os odores das folhas contaminadas pela bactéria. O teste é repetido várias vezes para não deixar dúvidas. “Ele tem uma atração pela cor, mas como a gente observa com armadilhas que usam só a cor, é uma eficiência muito baixa, e a gente tem, inclusive, alguns testes em campo com atraentes e que aumentam consideravelmente a captura de insetos.”, explica o agrônomo André Signoretti.
Os estudos apostam também no poder que o cheiro tem de afastar o inseto. No Vietnã, foram encontrados pomares de laranja, tangerina e goiaba plantadas em consórcio, onde a incidência de amarelão era muito baixa. Logo, desconfiou-se que a goiabeira podia ser um repelente natural do psílideo.
O Fundecitrus fez uma parceria com a Esalq, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da USP, para se aprofundar no assunto. O entomologista José Maurício Bento, especialista no estudo de insetos, explica que a descoberta foi animadora.
“Já sabemos quais são esses compostos, já estão identificados. Já estão patenteados. A ideia é não se plantar goiaba. A ideia é justamente utilizar essa substância que foi isolada, identificada, para repelir esse inseto, seja por forma de um liberador ou seja manipulando geneticamente as plantas de citrus e introduzindo esse genes na planta, para que ele expresse essa substância e, dessa forma, possa repelir o inseto no pomar”, diz Bento.
Enquanto essas inovações não saem do laboratório, a  única forma de manter o amarelão sob controle é fazer um manejo rigoroso no pomar.  No município de Matão, uma das grandes produtoras de laranja da região, a fazenda Cambuhy, está conseguindo diminuir a população do psilídeo em seus seis mil hectares.
São  feitas até nove inspeções por ano nas plantas. Os pragueiros usam plataformas para não deixar nenhum ramo sem verificação. A planta que  tiver sintoma da doença é marcada com uma fita amarela.
Um inspetor de moto fica responsável pelas bordas da fazenda. Geralmente, é por onde o psilídeo chega. Armadilhas foram espalhadas, inclusive nos pomares vizinhos.
A pulverização com inseticida químico é feita a cada três semanas. Nas bordas, é feita a cada 15 dias. Essa é uma medida de prevenção, mas, quando não se consegue evitar a chegada da bactéria, a medida é drástica: o corte da árvore doente.
Até hoje, a fazenda Cambuhy já erradicou 350 mil plantas por causa do amarelão. 7% do custo de produção são gastos com o controle da doença. O gerente agrícola da fazenda explica que 1% desse investimento é gasto nos pomares vizinhos.
Depois da mudança de estratégia, o nível de infestação caiu de 3,5% para 1,5%. Pesquisas e manejo rigoroso fazem do Brasil uma referência mundial no controle do amarelão. O país chama atenção principalmente do nosso concorrente mais forte na produção de laranja, o estado norte-americano da Flórida, que já divulgou uma redução de cerca de 10% na safra deste ano por causa da seca e dos estragos causados pela doença.
“Noventa por cento do suco do mundo é produzido no estado de São Paulo e Flórida. São tem uma incidência de 7% de greening contra 30% do estado da Flórida. Uma diferença grande para uma doença que praticamente foi detectada no mesmo momento. Por que isso? Porque São Paulo adotou uma medida rigorosa de manejo desde o primeiro momento em função da cultura que já existia por parte do citricultor, que comprou a ideia e vestiu a camisa no controle da doença. Na Flórida, levou tempo para que o citricultor entendesse a importância de se inspecionar, eliminar as plantas doentes e controlar o inseto. Com isso, a doença avançou rapidamente. É uma vantagem competitiva que nós temos nesse momento, que deve ser aperfeiçoada e perseguida”, diz Juliano Ayres, diretor do Fundecitrus.
Desde que a doença foi identificada, em 2004, os Estados Unidos já gastaram US$ 73 milhões em pesquisas de combate ao amarelão. Os gastos do Brasil foram de US$ 30 milhões, menos da metade, e estamos fazendo mais com menos. Nossos resultados são muito melhores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário