MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quinta-feira, 25 de julho de 2013

'Não há solução definitiva para caso dos tubarões', diz pesquisador em PE


Fábio Hazin foi calorosamente aplaudido nesta quarta (24), na SBPC.
Em palestra, ele mostrou causas da presença de tubarões no estado.

Lorena Aquino Do G1 PE

Palestra sobre tubarões de pesquisador Fábio Hazin na SBPC ficou lotada (Foto: Lorena Aquino / G1)Palestra sobre tubarões do pesquisador Fábio Hazin na
SBPC ficou lotada (Foto: Lorena Aquino / G1)
 A discussão sobre o problema dos frequentes ataques de tubarões no litoral pernambucano está em alta, especialmente depois da morte da jovem Bruna Gobbi na praia de Boa Viagem, Zona Sul do Recife. Para o vice-presidente do Comitê de Pesca da FAO/ONU, Fábio Hazin, não há uma solução definitiva para o problema sem levar a espécie à extinção - uma medida inconcebível para o pesquisador. Hazin ministrou uma palestra na manhã desta quarta-feira (24), em um auditório lotado no 65º Encontro Anual da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife.
De acordo com Fábio Hazin, é possível estudar as causas do problema e entender o meio ambiente, mas não há como resolver a situação, apenas tentar evitar os ataques. "Devíamos pensar também que não se resolve o problema de picada de cobra, ou abelha. Não resolve", afirmou o pesquisador. O Complexo Portuário de Suape pode ter alterado o ecossistema da região, levando os tubarões a procurarem outra forma de completar o percurso de sua migração na direção Norte. "Não temos dados de tubarões antes da construção do porto, então não temos como provar o impacto na espécie. Temos como comprovar nos peixes, no entanto. Sabemos que a densidade populacional deles reduziu em 80%. A obra resultou num impacto significativo na reprodução das espécias que ali habitavam", esclareceu Hazin.
Hazin relata que os tubarões são atraídos pelos navios e, quando as embarcações entram nos diques, os tubarões desviam o percurso e procuram a corrente mais próxima na direção norte. Esta corrente os leva ao Estuário do Rio Jaboatão, onde há banhistas e, consequentemente, risco de vítimas.
Fábio citou o Porto de Suape como exemplo, mas o próprio palestrante reconheceu que não há uma única causa para o aumento dos ataques de tubarão. Entre as causas explicadas durante o evento estão a degradação dos ecossistemas costeiros, a elevação no número de surfistas e banhistas, a topografia submarina da região, saneamento básico precário e as alterações climáticas dos últimos anos. "Não há uma causa isolada para os ataques. Eles começaram a acontecer por conta de vários fatores que atuaram de forma sinérgica".
Em pouco mais de uma hora e meia, Hazin encontrou tempo para várias reflexões a respeito do assunto. Desde o começo, o professor quis tentar mostrar que é possível substituir a relação de raiva dos animais por uma situação de respeito, compreendendo a importância deles para o ecossistema. "O mar é a casa dos tubarões, a praia é a casa dos seres humanos. Quando entramos no mar, invadimos a casa deles", afirmou. Ele se mostrou contra algumas medidas bastante populares, como a vontade de pescar e sacrificar os tubarões que se aproximarem do litoral ou fechar as praias da Região Metropolitana do Recife ao banho. "Não há necessidade de sacrificar os animais. Também não acho que haja fundamento o fechamento das praias e, se forem fechadas, que seja por afogamento, que mata muito mais do que os tubarões ao longo do ano", disse.
"Fomos nós que causamos esse problema, nós é que temos que resolvê-lo. O estado se beneficiou de Suape, então devemos construir uma solução que permita que os animais vivam em seu ecossistema de forma harmônica. A solução passa primordialmente pela conscientização da população, é mais que educação. As pessoas não entram no mar por desconhecimento", finalizou o professor.
Estatísticas
Entre 2004, ano de criação do Comitê Estadual de Monitoramento de Incidentes com Tubarões (Cemit), e 2012, foram capturados quase 400 tubarões na costa pernambucana. Não há dados oficiais sobre os ataques de antes da década de 90, mas entre 1992 e 2013 houve o registro de 59 vítimas e 24 mortes, incluindo a da jovem paulistana Bruna Gobbi, na segunda (22). "Antes disso, evidentemente houve ataques esporádicos, mas eles aconteceram da mesma forma que acontece em todo o mundo", disse Hazin.
Das mortes registradas no estado, quatro eram surfistas e 28 banhistas. "Os surfistas têm mais risco de ser atacados porque ficam mais tempo expostos no mar aberto, mas por estarem sobre uma prancha eles se protegem melhor e são atingidos normalmente nos membros superiores e inferiores. Os banhistas são capturados muitas vezes pelo tronco, uma lesão mais letal", explicou.
O Cemit foi pensado para fazer pesquisa e monitoramento, coordenados pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), educação ambiental, vigilância e fiscalização pelo Corpo de Bombeiros e recuperação ambiental. Fábio Hazin foi presidente do Cemit entre os anos de  2004 e 2012. O órgão utiliza alguns métodos de afastamento de tubarões da costa e da área de banhistas. O monitoramento é realizado com anzóis posicionados em alto mar, para evitar que os tubarões se aproximem da costa. Caso eles cheguem mesmo assim, há linhas de espera para captura dos animais, posicionadas de forma isolada dentro do canal entre a costa e um banco de algas calcárias, região mais profunda da costa que empreende a faixa entre as praias do Pina, no Recife, e de Candeias, em Jaboatão dos Guararapes.
Quando capturados, os animais são levados dentro de um barco conhecido por Sinuelo e soltos em alto mar. A embarcação estava parada desde dezembro de 2012 e deve retornar às atividades ainda este mês. "A primeira reação dos tubarões depois de soltos é se afastar da costa. Ele busca áreas mais profundas. A segunda reação é seguir para o Norte, em seu movimento regular de migração", disse.
Com o monitoramento, a taxa de ataques de tubarão diminuiu em 90%. As análises apresentadas pelo pesquisador durante a palestra indicam que o risco de ataques diminui 14 vezes durante os períodos de monitoramento pelo Cemit, se comparado com o tempo em que a operação ficou desativada por falta de renovação de contrato e financiamento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário