MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 9 de julho de 2013

Minibibliotecas modificam a rotina de agricultores no interior do Piauí


Projeto de leitura foi instalado há quase 4 anos e beneficia 43 mil famílias.
O G1 foi até a cidade de Angical para conferir as pequenas bibliotecas.

Patrícia Andrade Do G1 PI

Pequenos móveis de madeira são recheados com clássicos da literatura brasileira (Foto: Patrícia Andrade/G1)Pequenos móveis de madeira são recheados com clássicos da literatura brasileira (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Um pequeno móvel de madeira recheado com clássicos da literatura. Essa é a característica de um projeto de leitura que tem mudado a rotina de muitos agricultores no interior do Piauí. Instalado em pelo menos 90 cidades, o Projeto Arca das Letras atende cerca de 43 mil famílias em assentamentos rurais há quase quatro anos.
O G1 foi conhecer o projeto no povoado Caldeirão, cidade de Angical do Piauí, a 129 km de Teresina. Lá os livros da ‘Arca das Letras’ são fonte de pesquisa para dezenas de alunos da rede pública, mas também incentivo para que adultos adotassem o hábito pela leitura. Alguns até aprenderam a ler após a chegada das minibibliotecas na comunidade.
Luís do Rego Monteiro, 71 anos e Maria de Jesus, 62, foram incentivados pelas filhas (Foto: Patrícia Andrade/G1)Luís do Rego Monteiro, 71 anos,e Maria de Jesus, 62, foram incentivados pelas filhas (Foto: Patrícia Andrade/G1)
É o caso dos aposentados Luís do Rego Monteiro, 71 anos, e Maria de Jesus, 62. Juntos eles dedicaram um momento do dia para folhear os livros e com a ajuda das duas filhas aprenderam a ler algumas palavras. Hoje eles confessam que o lazer passa pela contação de histórias.
Na casa dos aposentados está instalada uma das ‘arcas’ e a filha deles, Nazaré Gomes Monteiro, 42 anos, é agente de leitura responsável pela divulgação do projeto no povoado e também em administrar o empréstimo dos exemplares para os leitores.
Nazaré Gomes Monteiro é agente de leitura na comunidade Caldeirão, em Angical do Piauí (Foto: Patrícia Andrade/G1)Nazaré Gomes Monteiro é agente de leitura na
comunidade Caldeirão, em Angical do Piauí
(Foto: Patrícia Andrade/G1)
"É um trabalho voluntário mesmo. Muita gente desconhece o projeto e nós procuramos divulgar nas escolas para que as pessoas possam aproveitar os livros que temos aqui em suas pesquisas", disse Nazaré.
Como agente de leitura, Nazaré também estreitou a relação com os livros e admite ser fã da obra de Machado de Assis. Entre os preferidos está 'Memórias Póstumas de Brás Cubas', marco na obra do autor  por trazer um narrador que resolve contar sua vida depois de morto.
Também recheiam a arca clássicos de autores como Guimarães Rosa, José de Alencar, Maria Clara Machado, Aluísio Azevedo, Oswald de Andrade entre outros.
A aproximadamente 5 km do povoado Caldeirão está o assentamento São Joaquim, já no município vizinho de Jardim do Mulato, onde também tem instalada uma das minibibliotecas do projeto de leitura. Lá o responsável pela minibiblioteca é o agricultor Neil Amstrong, também agente de leitura, que tem a missão de fazer circular os livros entre as 45 famílias que vivem no assentamento.
Maria Aparecida, 56 anos, aprendeu a ler após a chegada do projeto no assentamento onde mora (Foto: Patrícia Andrade/G1)Maria Aparecida, 56 anos, agricultora e Neil Amstrong, 41 anos, agente de leitura (Foto: Patrícia Andrade/G1)
É na antiga casa sede da Fazenda São Joaquim, que deu origem ao assentamento, que Neil instalou a pequena arca e lá os leitores podem desfrutar de salas amplas para os estudos.
A agricultora familiar Maria Aparecida da Conceição Silva, 56 anos, é outro exemplo de superação. Uma das bibliotecas chegou a ficar instalada na casa dela e foi a partir daí que se sentiu incentivada a buscar na leitura mais conhecimentos. Uma de suas três filhas, Francisca Edivania da Silva, era uma das agentes de leitura responsáveis pela arca e, com o passar do tempo, incentivou sua mãe a tentar ler. “Eu só sabia ler e escrever meu nome”, lembra a agricultora.

Durante a entrevista, Maria Aparecida pegou um dos livros e leu pequenos trechos. Ela confessa que gosta de estudar a gramática."Quero aprender cada vez mais. Gosto de poesia, mas tenho lido mais os livros de português para aprender melhor a língua", disse Maria Aparecida.
Casa digital
Segundo Neil Amstrong, o programa facilitou o acesso das pessoas aos livros, no entanto ele cobra mais atenção da secretaria de educação municipal. O apoio aos agentes vem principalmente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Angical, através do presidente Oswaldo Moura.
No assentamento São Joaquim 45 famílias têm acesso aos livros da minibiblioteca (Foto: Patrícia Andrade/G1)No assentamento São Joaquim 45 famílias têm acesso aos livros da minibiblioteca (Foto: Patrícia Andrade/G1)
Para o agente de leitura, a comunidade precisa agora de laboratórios de informática para ampliar as informações conseguidas através dos livros. A antiga casa sede da fazenda, que funciona agora como um Centro Social para a comunidade, seria o local adequado para abrigar o que ele já chama de ‘Casa Digital’.

"Nós procuramos divulgar da melhor forma o projeto, mas acredito que esse é um espaço pouco aproveitado porque poderíamos atrair mais gente caso tivesse uma sala de informática", disse Neil Amstrong.
O Programa
O Programa Arca das Letras foi criado em 2003 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário como uma estratégia para ampliar o acesso da população do meio rural aos livros e incentivar a leitura. Ao todo, o programa atende cerca de 43 mil famílias no Piauí em 90 municípios por meio das mais de 530 bibliotecas entregues até dezembro de 2012.

São 1,9 milhão de livros organizados em acervos distribuídos às bibliotecas rurais, 16 mil agentes de leitura formados para incentivar a leitura e emprestar os livros voluntariamente em suas comunidades.

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