MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Cuidado! Perigo!

Maria Stella de Azevedo Santos*

  • Cau Gomez | Editoria de Arte | A TARDE
    Mito do leão
Sempre fui alertada pelos meus orientadores espirituais a ter cuidado, em minha caminhada religiosa, ou melhor, em minha jornada de vida, com três importantes "coisas", que quando utilizadas de maneira não consciente podem arruinar todo um processo. Ouvi e hoje digo: Cuidado, muito cuidado com sexo, dinheiro e poder.

Um mito nos conta que Leão, Touro e Búfalo eram irmãos no Céu. Quando o pai deles partiu para a Terra, precisou escolher um dos três filhos como seu sucessor, o qual deveria receber o título de Rei dos Animais. Sabiamente, Leão buscou os conselhos do divinador de seu pai, que lhe avisou para fazer um sacrifício e uma oferenda para Exu. Leão seguiu totalmente a orientação recebida, acreditando fielmente que receberia o título de seu pai. Acontece que Touro era o mais velho dos filhos e pela lei de primogenitura foi, neste meio tempo, coroado Rei dos Animais.

Exu, que já tinha recebido a oferenda de Leão, encontrou um jeito de beneficiar seu protegido: ele descobriu que a então rainha, esposa de Touro, tinha conseguido algo que não lhe era de direito; Exu acusou, publicamente, de roubo, a esposa de Touro. Com medo de uma punição sagrada, Touro optou por abdicar ao trono e fugiu para a Terra com sua esposa. Tinha chegado a vez de Búfalo - o segundo filho. Como ele não era primogênito, nunca teve a aspiração de ser coroado rei. Búfalo foi pego de surpresa, por isto não buscou ajuda de um divinador.

Búfalo abusou de seu poder, era um rei muito cruel, que não tinha a paciência necessária ao cargo: sempre que dois ou mais animais pediam-lhe que decidisse uma disputa, ele chifrava o queixoso e matava o culpado. Búfalo passou a ser um rei odiado e temido. Leão não entendia por que não tinha sido ele coroado rei, já que os deuses fizeram esta previsão. Leão foi questionar o divinador, que lhe orientou a exercitar a paciência. Leão, pacientemente, esperou que os desejos dos deuses se cumprissem. Como os animais estavam indignados com o reinado agressivo e destrutivo de Búfalo, também foram ao divinador para consultar o que fazer para pôr fim ao reinado de terror de Búfalo.

O divinador disse aos animais: "Vocês só terão paz depois que trouxerem de volta para a floresta as três crianças que Búfalo, precocemente, baniu de seu reinado". As crianças eram: Ote (Cume), filha de Ìlara (Inveja); Ogoro (Ponto mais alto), filha de Olodé (Senhor da Coroa); Jù (Mais do que) filha de Ijarere (Luta a distância). O divinador também avisou aos animais que eles encontrariam seu verdadeiro rei dentro de uma caverna na floresta. O divinador indicou o local onde o verdadeiro rei estava vivendo. Os animais, rapidamente, foram até lá. Ao verem Leão, os animais em vez de se unirem a ele para combater Búfalo, o espancaram, pois ficaram com medo do feroz animal.

Os animais, então, formaram um exército e expulsaram Búfalo do trono. Assustado, Búfalo também fugiu para a Terra. Só então os animais resolveram ouvir a orientação do divinador e foram buscar as crianças: "Cume" teimou em ser carregado em alguns ombros; "Ponto mais alto" também insistiu em ser levado para casa em algumas cabeças; "Mais do que" foi levado de volta para casa em algumas mãos.

Leão foi, por fim, coroado rei e trazido à cidade em procissão triunfal com um pano enrolado em seu pescoço. Já instalado em seu trono, Leão permaneceu por três dias sem proferir uma palavra: o silêncio e a paciência são armas valiosas no exercício do poder. Só depois de ouvir, silenciosamente, seus súditos, avaliar com justiça a situação do reinado, Leão começou a falar. Leão foi um rei firme, sereno, justo e decidido.

O mito citado dispensa comentários. Cada um faça uso dele como melhor lhe prouver, analisando o momento e a situação em que precisa exercer o tão perigoso e difícil exercício do poder. Os mitos são como os sonhos: falam de assuntos vividos por toda a coletividade, porém são individuais. Os sonhos são como nós: indivíduos coletivos. O poder, ao contrário, parece individual, mas para que seja exercido corretamente precisa ser coletivo.
*iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

Nenhum comentário:

Postar um comentário