MEDIÇÃO DE TERRA

MEDIÇÃO DE TERRA
MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Conheça os bastidores de um voo internacional que sai de Guarulhos


G1 acompanhou preparativos da Emirates, eleita melhor aérea do mundo.
Processo de limpeza, abastecimento, segurança e embarque dura 9 horas.

Flávia Mantovani Do G1, em São Paulo

Quem chega com duas ou três horas de antecedência ao aeroporto não imagina quanta preparação é exigida para que um avião decole.
Entre o momento em que a aeronave chega ao aeroporto e o horário em que sai novamente, ela passa por um processo longo e minucioso que envolve limpeza, checagens de segurança, esvaziamento dos detritos, abastecimento de combustível, reabastecimento de água e comida, controle de bagagem e distribuição da carga no porão.
O G1 acompanhou os bastidores de um voo internacional com saída do Aeroporto de Guarulhos. O voo escolhido foi um da companhia Emirates, eleita a melhor empresa aérea do mundo em 2013, segundo o principal ranking do setor.

Para isso, a equipe de reportagem obteve autorização para visitar áreas do aeroporto acessíveis apenas a funcionários e, ao lado de um supervisor da empresa, acompanhou a preparação nos setores administrativos, de check-in e de controle de bagagem. Também foram feitas visitas ao interior da aeronave -- um Boeing 777-300, com capacidade para 350 passageiros -- enquanto ela era preparada para a chegada dos passageiros.

Criada em 1985 em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a Emirates voa, atualmente, para 134 destinos em 77 países. Ela opera no Brasil desde 2007, e hoje tem saídas diárias de São Paulo e do Rio.

Confira a seguir o passo a passo do que acontece antes de os passageiros entrarem no avião, e conheça curiosidades da companhia que foi eleita a melhor do mundo.
Imagens mostram a situação do banheiro e da cabine após o desembarque de passageiros (Foto: Flávia Mantovani/G1)Imagens mostram a situação do banheiro e da
cabine após o desembarque de passageiros
(Fotos: Flávia Mantovani/G1)
1. Preparação começa nove horas antes
O avião, com decolagem prevista para a 1h25, pousa no Aeroporto Internacional de Guarulhos às 16h03, vindo de Dubai. Após o desembarque dos passageiros, a aeronave fica sob a responsabilidade de um engenheiro de manutenção, que faz uma checagem geral das condições do veículo.
Neste momento, o aspecto das cabines reflete o fato de terem recebido 350 pessoas durante uma viagem de 14 horas: o carpete tem restos de comida, o chão dos banheiros está molhado e com pedaços de papel higiênico, as revistas estão jogadas nos assentos.

Os cobertores e travesseiros usados são contados e colocados em sacos plásticos para serem lavados. Mais tarde, a aeronave será abastecida com novos itens desse tipo. Em seguida, o avião é rebocado para uma pista remota no aeroporto, onde ficará até pouco antes do embarque.

2. Primeira varredura de segurança
Uma equipe faz uma varredura inicial em busca de objetos pessoais esquecidos pelos passageiros ou de qualquer outro objeto fora do padrão, como sacolas ou caixas que não pertençam ao kit da aeronave.

Enquanto a aeronave está em terra, uma funcionária da segurança fica no acesso à escada que sobe a bordo, controlando a entrada de trabalhadores e passando em todos um detector de metais.
Funcionários retiram a comida que sobra, que tem que ser incinerada  (Foto: Flávia Mantovani/G1)Comida é retirada  (Foto: Flávia Mantovani/G1)
3. A comida que sobra é incinerada
As refeições servidas durante o voo são preparadas por uma empresa de catering terceirizada, que faz pratos para diversas companhias aéreas.
Um veículo dessa empresa é içado e acoplado à aeronave, para retirar a comida que sobrou. Devido às normas sanitárias do país, todos esses alimentos devem ser incinerados quando entrarem em solo brasileiro.
4. O “bebê” das funcionárias da limpeza
A limpeza da aeronave dura de uma hora e meia a duas horas e é feita por 14 funcionários, comandados por uma supervisora.
Faxineiras limpam o interior do avião (Foto: Flávia Mantovani/G1)Faxineiras limpam o interior do avião
(Foto: Flávia Mantovani/G1)
Eles se dividem de acordo com a função: passar o aspirador, limpar o banheiro, as mesas, as cabines de cada classe. Os bagageiros, em geral, são limpos por homens. Já para as “galleys” (a ‘cozinha’ do avião), a supervisora prefere mulheres, pois são “mais caprichosas”, diz.

Os faxineiros são ligeiros e seguem movimentos coordenados: os banheiros são limpos de cima para baixo, as mesinhas são deixadas abertas para secarem sem marcas de dedos, os travesseiros novos ficam nos bagageiros e vão para os assentos por último, sem amassados. A primeira classe, explicam, é a que dá mais trabalho, porque tem muitos “atributos” (detalhes e acabamentos).
Uma das funcionárias confessa que a equipe tem um apelido carinhoso para a gigantesca aeronave: bebê. “Quando o avião chega, alguém já fala: ‘Chegou nosso bebê’”, conta.

5. Enchendo um tanque e esvaziando o outro
O combustível fica em dutos subterrâneos no solo do aeroporto. Um caminhão-bomba chega, abre uma espécie de bueiro no chão e acopla um tubo entre essas galerias e os tanques da aeronave, que ficam localizados nas asas. Dessa forma, o querosene de aviação é bombeada para os tanques do avião.
(Correção: ao ser publicada, esta reportagem informava incorretamente que o avião é abastecido com gasolina aeronáutica, conforme indicado pela Emirates. A companhia posteriormente retificou o tipo de combustível usado, informando que se trata de querosene de aviação. A informação foi corrigida às 16h16.)
Funcionário coloca combustível no avião (Foto: Flávia Mantovani/G1)Funcionário coloca combustível no tanque,
localizado na asa (Foto: Flávia Mantovani/G1)
Na verdade, trata-se de um pré-abastecimento, já que a quantidade final de combustível será definida mais tarde pelo piloto, usando um cálculo complexo que leva em conta o peso da aeronave, a distância que será percorrida e as condições meteorológicas do trajeto, entre outros fatores. O próprio combustível pesa, e isso também é balanceado nesse cálculo.
Das cerca de 150 toneladas de gasolina que costumam ser colocadas, mais de 100 entram já nesta primeira etapa.
Outro caminhão acopla dois dutos a outro setor da aeronave. Um deles é responsável por trocar a água potável e o outro por esvaziar o tanque de dejetos dos banheiros. O caminhão suga todos os detritos. Durante o voo, a tripulação pode acompanhar, por um nivelador, a quantidade de água e de dejetos que resta.
As malas da primeira classe têm que ser as últimas a entrar no bagageiro e as primeiras a sair
6. Coordenar é preciso
No escritório da companhia, localizado na parte operacional do aeroporto, os funcionários coordenam todo o processo. Uma etapa depende da outra, e as atividades têm que ocorrer de forma sincronizada.
Os cobertores e travesseiros novos têm que estar na aeronave quando a equipe da limpeza chegar, as malas da primeira classe têm que ser as últimas a entrar no bagageiro e as primeiras a sair – e por aí vai. Qualquer problema nessa sequência tem que ser resolvido rapidamente.
Também é preciso checar se todas as etapas estão sendo cumpridas e enviar para Dubai relatórios detalhados, que discriminam, por exemplo, quantos minutos se passaram até que a primeira e a última mala do desembarque chegassem à esteira de bagagem.
7. Polvo, mamão, ratos e outras bagagens estranhas
O check-in é iniciado por volta das 21h e os passageiros começam a despachar as malas. Depois de entregues ao funcionário do guichê, elas descem pela esteira até uma área aberta do aeroporto, onde passam pelo sistema de raios-X.
A funcionária avalia todos os volumes (são, no mínimo, 400 por voo). Cada material aparece na tela de uma cor diferente: metal é visto em azul, vidro, em verde e comida e roupas, em laranja e marrom.
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)Funcionária identifica o conteúdo de todaa mala
despachada pelos raios-X (Foto: Raul Zito/G1)
Uma onça empalhada e um polvo foram itens encontrados recentemente nas malas. Um passageiro foi chamado para explicar a presença de sete ratos mortos em sua bagagem.
Objetos que para um leigo parecem difíceis de diferenciar são facilmente identificados pelas funcionárias. “Isso é uma garrafa de bebida, isso aqui é um par de sapatos, isso é uma latinha que parece um porta-joias”, enumera rapidamente uma delas.
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)As malas são distribuídas nos contêineres
(Foto: Raul Zito/G1)
Caso algum item não seja identificado, a mala é passada pelos raios-X novamente em outras posições, até que o conteúdo seja decifrado. Se mesmo assim não for possível, é preciso chamar um funcionário da companhia, que entra em contato com o passageiro para que ele informe do que se trata. Os trabalhadores não estão autorizados a abrir nenhuma mala.
No dia da visita da reportagem, um objeto despertou dúvidas. A funcionária achava que poderia ser um lampião ou um motor. A mala foi escaneada de novo, até que alguém matou a charada: era uma panela elétrica de arroz.
A panela é até pouco exótica comparada a outros objetos que as pessoas levam na mala: uma onça empalhada e um polvo dentro de um isopor – que impregnou o local com seu cheiro forte – foram dois itens encontrados nos últimos meses.
Um passageiro foi chamado recentemente para explicar a presença de sete ratos mortos em sua bagagem. Bravo com a desconfiança, ele explicou que se tratava de um ritual de sua tribo na África, que exigia o uso de um traje com esses animais pendurados.
Frutas, como mamão, também são “souvenirs” comuns levados pelos turistas que vêm ao Brasil.
Cães farejadores da polícia também passeiam pela área para identificar possíveis remessas de drogas. Segundo a funcionária da segurança, trata-se de algo raro na Emirates, mas tão rotineiro na companhia ao lado que os cachorros são assíduos por lá.
8. Cada mala no seu contêiner
As malas aprovadas ganham uma etiqueta de segurança e são separadas em pilhas, de acordo com o destino e a classe do passageiro. Elas vão para os contêineres, que ganham etiquetas de acordo com a distância que vão percorrer: mais curta, intermediária ou mais longa (caso dos passageiros que vão para o Japão, por exemplo).
Os contêineres têm que ser distribuídos de forma proporcional no avião, para que o peso fique balanceado. A autorização sobre a posição correta deles na aeronave vem de Dubai.
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)Funcionária da segurança checa as cabines
(Foto: Raul Zito/G1)
9. Segunda varredura de segurança
Com o interior do avião já limpo, começa a varredura mais completa de segurança.
Durante cerca de uma hora e meia, quatro funcionários percorrem cada canto da aeronave, em busca de qualquer coisa fora do previsto.
Munidos de luvas, eles apalpam cadeiras e encostos, retiram as revistas dos bolsos das cadeiras, levantam os bancos, abrem as mesas e vasculham tudo.
10. Frango ou massa?
O pessoal da empresa de catering reabastece o avião com refeições, lanches e bebidas. Um funcionário arruma cuidadosamente cestas com biscoitos, chocolates e outros mimos para os passageiros da primeira classe. As geladeiras são abastecidas com bebidas.
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)Cestas com snacks vão para passageiros da
primeira classe (Foto: Raul Zito/G1)
O cálculo de quantas refeições serão entregues em cada voo, feito pelos funcionários do escritório, é delicado. Por um lado, é preciso evitar o desperdício, já que tudo o que sobrar será incinerado, devido às normas sanitárias. Por outro, não pode faltar comida para ninguém.
E não basta levar em conta apenas a lista de passageiros. É preciso considerar que pode haver upgrades, que alguma escala pode fechar e que uma parte dos passageiros prefere frango enquanto a outra pede massa, por exemplo. As companhias aéreas têm históricos que mostram a porcentagem de passageiros de cada país que costuma preferir cada uma das opções oferecidas, e isso ajuda na conta.
11. Bule de ouro e cadeira-cama na primeira classe
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)Assentos da primeira classe são isolados e oferecem massagem e monitor de 27 polegadas (Foto: Raul Zito/G1)
Chamadas de suítes, as cabines de primeira classe têm porta elétrica corrediça, minibar pessoal, armário e assentos com sistema de massagem, que podem ser convertidos em cama acolchoada reclinável.
Na frente, fica uma penteadeira com espelho, além da TV de 27 polegadas. Os passageiros recebem uma nécessaire com os produtos da marca Bvlgari, pijama, chinelos e conjunto de papelaria.
A comida é colocada em pratos de porcelana fina e servida nas mesas retráteis forradas com toalhas de linho e decoradas com orquídeas vindas de Dubai. No cardápio, opções como caviar iraniano, peito de pato com mel e lagosta refogada com molho de feijão preto. O café árabe é servido em um bule de ouro, e o suco do café da manhã é feito com frutas frescas.
Para desfrutar desses luxos, é preciso pagar cerca de R$ 16 mil pelo trecho da viagem até Dubai – na classe econômica, o mesmo trajeto custa R$ 2,5 mil.
12. Compartimento 'secreto'
Emirates (Foto: Raul Zito/G1)Compartimendo 'secreto' para comissários tem camas com cinto de segurança (Foto: Raul Zito/G1)

Durante a visita ao avião, uma porta discreta perto de um dos banheiros revela um lugar que poucos conhecem.
A aeronave tem uma área de descanso para os comissários, acessada por uma escada atrás dessa porta.
Com o teto baixo, que exige caminhar inclinado por lá, a área tem dez cabines com cortinas. Dentro de cada uma, há uma cama com cinto de segurança, tela de entretenimento e bolsa com revistas. Os funcionários fazem uma escala e podem descansar em um período da viagem.
A luz da aeronave acompanha as horas do dia. Há iluminação que simula o nascer do sol, a manhã, a tarde e a noite estrelada, por exemplo (Foto: Flávia Mantovani/G1)Teto reproduz céu estrelado
(Foto: Flávia Mantovani/G1)
13. Céu estrelado
A luz da aeronave acompanha as horas do dia. Há iluminação que simula o nascer do sol, a manhã, a tarde e a noite estrelada, por exemplo.
14. Onde estou e para onde vou?
O avião é rebocado para a pista de onde vai partir, mais próxima do embarque de passageiros. Enquanto isso, o check-in continua. Os coordenadores da companhia ficam ao lado dos guichês, ajudando a sanar problemas e dúvidas de passageiros. Eles contam que não é incomum receber clientes que não sabem por qual companhia vão viajar – e garantem que já houve gente que não sabia nem para que cidade estava indo.
15. As moças do chapeuzinho vermelho
A tripulação, que estava descansando em um hotel, chega cerca de uma hora antes da decolagem. Com o tradicional chapéu vermelho da companhia, as 13 comissárias chamam a atenção no saguão do aeroporto.
Há ainda três comissários homens, dois pilotos e dois copilotos. As nacionalidades são variadas: Japão, Paquistão, Eslováquia, Espanha, África do Sul, Filipinas e Líbano são alguns dos países de origem. Um piloto e uma comissária são brasileiros.
aeromoça emirates (Foto: Raul Zito/G1)Comissárias chegam para o voo (Foto: Raul
Zito/G1)
Todos aprendem cuidados com a pele e maquiagem em um curso de Dubai. Enquanto os homens que trabalham em terra são incentivados a usar barba (bem-vista entre os árabes), os comissários de bordo não podem usá-la, por questão de higiene.
O lenço pendurado no chapéu feminino tem sete dobras – um para cada emirado do país de origem da empresa aérea.
As mulheres só podem usar brincos pequenos com uma pedra, aliança ou anel discreto, sombra rosada ou marrom claro e lápis de olho. O batom e o esmalte têm que ser vermelhos – não de qualquer tom, mas dos específicos indicados pela Emirates. Os coques também têm que seguir um padrão.
16. Hora do embarque
A partir daí, começa a parte a que todo passageiro tem acesso. Depois do check-in, os clientes vão para a sala de embarque e entram na aeronave. O avião decola no horário previsto, após uma preparação que durou mais de nove horas.

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