MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O fim da apatia

Patrícia Moreira*

Estava meio que engasgado este grito que ganhou as ruas de repente. Começou sob a forma de protesto contra a tarifa de ônibus, em São Paulo, e em defesa do passe livre, este último, o ingrediente utópico da reação popular numa sociedade capitalista. Fala-se, na grande imprensa, que o movimento foi gestado entre militantes de partidos políticos radicais, reproduzindo por aqui atos recentes ocorridos no mundo. Mas há algo novo no ar e a multidão que ganhou as ruas das principais capitais do país vai além do simples interesse de partidos radicais de esquerda, que pouco têm conseguido falar, de fato, às massas.
As imagens pela televisão mostraram a movimentação nas principais avenidas do centro do Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Brasília e Salvador. Se tudo começou, como tem sido nas grandes mobilizações nacionais, alimentada pela rebeldia da juventude ou pela insuflação dos esquerdistas mais radicais, nestes atos que marcaram a segunda-feira, no País, o que se viu foi a adesão geral de uma sociedade cansada de tanta bandalheira. Na resposta que veio de 10 capitais, a insatisfação contra os gastos desmedidos para as Copas das Confederações e do Mundo; a indignação contra a política suja e o Congresso movido a grana e a constatação de que em educação e saúde neste país se faz muito, mas muito pouco.
Talvez, o protesto reflita o humor do povo das metrópoles brasileiras, exausto de ter que encarar horas de engarrafamento em cidades imobilizadas pela falta de investimento em infraestrutura urbana e em transporte público de qualidade. Basta citar o caso de Salvador, que nem metrô tem, e onde se paga caro para pegar ônibus sujo, desconfortável e lotado.
Ou será que o grito das ruas é simplesmente porque se morre fácil neste país, onde a violência está banalizada e a vida vale um celular ou alguns trocados? O que se viu nas avenidas e repercutiu no mundo inteiro é o fim da apatia e da sensação de que vivemos no País das Maravilhas. Parece que se foi o tempo em que este povo verde-amarelo era movido a carnaval e futebol.
* Jornalista, moreirapatriciac@gmail.com

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