MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 9 de junho de 2013

'Manual de habilidades' ajuda a tratar crianças traumatizadas pela guerra


Método tem sido usado em jovens refugiados sírios na Jordânia, que aprendem formas de lidar com memórias do conflito.

Da BBC

Ayman, de 13 anos, vive em um campo de refugiados na Jordânia. Ele e sua família são de uma aldeia perto de Homs, cenário de alguns dos combates mais sangrentos da guerra na Síria.
Neste ano, um míssil atingiu sua casa, forçando-os a fugir do conflito e unir-se a dezenas de milhares de refugiados sírios na Jordânia.
As lembranças da guerra atormentaram Ayman e sua irmã.
'Eles choravam muito. Estavam tristes e com medo', diz sua mãe, Zeinab. 'Minha filha começava a morder os dedos quando alguém batia na porta ou tocava a campainha.'
Ayman é uma entre milhares de crianças refugiadas cuja saúde mental é prejudicada pelo conflito em seus países. Agora, ele e outras crianças sírias passam por um novo método que pode ajudar a revolucionar o tratamento de vítimas em zonas de guerra.
A esperança é de que a nova abordagem amplie a quantidade de crianças tratadas após conflitos e desastres e que riscos de problemas de saúde mentais sejam identificados mais rapidamente.
Habilidades para a vida
Uma equipe treinada ensina a crianças uma variedade de estratégias para lidar com suas experiências, usando o chamado Manual de Ensino de Técnicas de Recuperação, criado pela fundação Children and War.
O manual já foi usado em jovens vítimas de conflitos em Uganda, Sri Lanka e Gaza. Agora, é aplicado em refugiados sírios.
Consiste, entre outras coisas, na prática de técnicas de visualização, para mostrar-lhes que eles podem recuperar o controle sobre as imagens invasivas em suas mentes. As crianças também aprendem como lidar com o medo e com sonhos repetitivos.
'Pode me ajudar a esquecer as coisas que me incomodam. Quero tirá-las da minha cabeça', diz Ayman.
A ideia é simples: por meio dessas técnicas, as crianças aumentam sua própria capacidade de lidar com o que enfrentaram. E os resultados até agora têm sido impressionantes.
'É como se eles recebessem uma caixa de ferramentas de habilidades. São habilidades para a vida', diz Atle Dyregov, diretor da Children and War e um dos autores do manual.
Saúde mental
Ainda que muitas crianças sobreviventes de conflitos desenvolvam suas próprias estratégias para lidar com o que viveram, só o fato de haver muitas crianças nessa situação significa que um grande número delas terá problemas de saúde mental.
Uma coisa importante sobre o novo manual é que ele reforça práticas comuns, como pedir às crianças que desenhem ou reconstruam seus traumas. Porém, não se limita a elas, diante da crença de que, por si só, essas formas não-verbais de expressão possam ser prejudiciais.
'Durante um longo período, como na guerra da antiga Iugoslávia, fazia-se muito isso de pedir às crianças para desenhar. Por si só, isso não resolve o trauma', opina Dyregov. 'Se há efeitos de trauma, você precisa fazer algo mais específico.'
As crianças aprendem a lidar com imagens e pensamentos invasivos, por meio de terapia de comportamento cognitivo e técnicas como relaxamento e visualização.
Com isso, fica mais fácil para elas revisitar seus traumas por meio de desenhos ou dramatização.
Memórias incômodas
Isso tem ajudado Ayman a deixar para trás as memórias que o incomodam.
Seu método favorito é o de projetar uma imagem traumática e manipulá-la com sua mão.
'Você pensa em algo que te assombra. Daí você começa a empurrar com sua mão. Maximiza ou minimiza o quanto quiser, e daí manda a imagem para trás até que ela suma', explica o menino.
O manual tem também técnicas de respiração e relaxamento, para ajudar as vítimas a encontrar um lugar seguro em suas mentes e buscá-lo em momentos de estresse.
No entanto, o manual não é a solução para qualquer criança vítima de guerra.
Nahmat, uma das líderes do curso em Amã, na Jordânia, que tem usado o programa, diz ter notado diferença em muitas crianças, mas não em todas.
'Muitas agora dizem ter controle completo sobre as imagens e sobre a dor', conta ela. 'Mas algumas ainda estão severamente afetadas e precisam de um especialista.'
Ainda assim, como um primeiro item na linha de defesa, o manual é útil porque requer pouca infraestrutura.
Professores e psiquiatras locais são rapidamente treinados para usá-lo em centenas de crianças e pais que, caso contrário, provavelmente sofreriam sozinhos.
Dyregov ressalta que, ao cuidar das crianças sírias, o método pode ajudar a prevenir um legado negativo de saúde mental em toda uma geração.

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