MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 12 de maio de 2013

Vendedoras do Pará garantem renda familiar com produtos da Amazônia


Conheça histórias de mães que sustentam os filhos com produtos do Pará.
Segundo Dieese, 800 mil mulheres são chefes de família no estado.

Thais Rezende Do G1 PA

O Ver-o-Peso é um dos pontos turísticos mais conhecidos do Pará e chama atenção pela diversidade de cores e sabores das iguarias regionais. Por trás das barracas de venda de frutos e produtos, muitas mães tiram o sustento da família. Guerreiras, elas assumem papel de chefe de família e levam uma rotina árdua de trabalho para garantir comida, estudo e conforto para os filhos.
Rosa Maria, 64 anos, trabalha no Ver-o-Peso há mais de 20 anos. (Foto: Thais Rezende/ G1)Rosa Maria, 64 anos, trabalha no Ver-o-Peso há mais de 20 anos. (Foto: Thais Rezende/ G1)
Cerca de 2.500 pessoas, entre consumidores e trabalhadores, circulam no Ver-o-Peso por dia, segundo a Secretaria Municipal de Economia de Belém. Dona Rosa Maria Silva, de 60 anos, frequenta o mercado há mais de 20 anos. Depois da separação do pai de seus três filhos, ela precisou trabalhar com a venda de tucupi, caldo feito da mandioca usado em pratos típicos no estado.
“Criei meus filhos com o dinheiro do tucupi"
Conce Silva, vendedora.
“Gosto de trabalhar aqui, é daqui que eu vivo, vou ficar até me aposentar”, conta a vendedora, que apesar dos 64 anos, ainda tem energia para atender a todos os seus clientes. Atualmente os filhos de Rosa já são todos chefes de suas próprias famílias, mas ela conta que, quando eles eram pequenos, o dinheiro das vendas no Ver-o-Peso ajudou bastante nas despesas da casa.
Ser pai e mãe não parece tarefa fácil, especialmente quando é preciso conciliar com a profissão de vendedora do Ver-o-Peso. Há 22 anos, o marido de Conce Silva, 60 anos, morreu e ela precisou assumir a barraca do esposo para garantir o sustento dos filhos, na época com 7 e 9 anos. “Criei meus filhos com o dinheiro do tucupi. Tirava para pagar colégio, trabalho da escola, uniforme e as contas da casa”, lembra Conce, que além do tucupi, também vende pimenta.
Cecília é da 4ª geração de erveiras, ela teve filhos aos 13, 14 e 16 anos.  (Foto: Thais Rezende/ G1)Cecília é da 4ª geração de erveiras, ela teve filhos aos 13, 14 e 16 anos. (Foto: Thais Rezende/ G1)
Na feira do Ver-o-Peso, os conhecimentos passam de mãe para filha. Cecília Barros, de 33 anos, é da quarta geração de erveiras da família. Ela herdou a barraca de sua mãe e trabalha na feira há 17 anos, com a venda de ervas medicinais que ela aprendeu a fazer com sua mãe.
Fui mãe aos 13 anos, tive o segundo com 14 e a terceira aos 16 anos. Sou mãe solteira, mãe guerreira, sustento meus filhos"
Cecília Barros
“Fui mãe aos 13 anos, tive o segundo com 14 e a terceira aos 16 anos. Sou mãe solteira, mãe guerreira, sustento meus filhos. Pago colégio, contas da casa, passagem de ônibus para os meus filhos”, afirma Ceclília, que se orgulha da profissão que escolheu.
Cecília acorda cedo, pega um ônibus e chega na barraca às 7h, para sair somente às 20h. “Já vi de tudo e mais um pouco aqui. Minha segunda casa é o Ver-o-Peso. Tomo café, almoço e janto aqui. Minha filha, de 15 anos, vem me ajudar aos finais de semana”, conta a vendedora.
Disseminadora da cultura paraense para turistas e nativos que procuram a barraca, Cecília vê nos filhos o motivo para trabalhar todos os dias. “Me sinto uma mãe realizada, são minha razão de viver, o motivo para eu vir para cá todo dia. Tenho o privilégio do meu filho me abraçar, me beijar, dizer que me ama e que eu sou tudo pra ele!”, ressalta a erveira.
Jane Costa precisa deixar os filhos com a mãe para trabalhar. (Foto: Thais Rezende/ G1)Jane Costa precisa deixar os filhos com a mãe para trabalhar. (Foto: Thais Rezende/ G1)
A venda de maniva, matéria prima da maniçoba, prato muito apreciado na cidade, também movimenta a feira. Uma das barracas que oferece o produto é a que Jane Santos, 33, mantém com marido. Mãe de dois meninos de 10 e 17 anos, ela ajuda o esposo para garantir uma vida melhor para os filhos.
“Venho trabalhar para dar conforto para eles, o melhor do vestir, calçar e ainda dá para ajudar a minha mãe”, diz a vendedora de maniva. Por conta da puxada rotina de trabalho, os filhos de Cecilia passam a semana na casa da avó e só retornam para casa no final de semana.
Pará tem 804 mil mulheres chefes de família
Um levantamento do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) revela que o Pará tem o maior número de mulheres chefes de domicílios entre os estados da região Norte. Cerca de 804 mil mulheres são responsáveis pela principal fonte de renda de suas famílias no estado.
O estudo mostra que no Norte, das cerca de 4,8 milhões de famílias, aproximadamente de 1,8 milhão (36,97%) são chefiados por mulheres. No Pará, de um total de 2,3 milhões de famílias, cerca de 804 mil (35,38%) são chefiados por mulheres.
Apesar de assumir um papel de grande responsabilidade, a remuneração das mães chefes de família é baixa, segundo as análises do Dieese. Cerca de 45% das mulheres ocupadas de todo o Pará ganham até um salário mínimo de remuneração máxima.
A antropóloga Denise Machado, da Faculdade de Ciências Sociais da UFPA, explica que este é um fenômeno consolidado na sociedade e atribui a vários fatores. “Pela inserção no mercado de trabalho, por questões econômicas, às vezes são separadas, mães solteiras e precisam sustentar a família. Algumas, mesmo com o marido, trabalham para complementar a renda familiar”, explica Denise.
Mas os filhos não devem ficar preocupados. De acordo com a antropóloga, mulheres que assumem papel de pai e mãe não deixam a características de femininas de lado. “Ela continua a ser a mãe, a companheira, a amiga, mesmo trabalhando fora para contribuir na renda familiar”, afirma.

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