Tradicional, o Madalosso que atende 3.500 pessoas no Dia das Mães.
Ela fala sobre a importância da família e dos momentos junto aos filhos.
Se, para algumas mulheres, este domingo é um dia de folga, sem preocupações quanto ao cardápio, para Flora Madalosso Bertolli, de 73 anos, é sinônimo de trabalho, de muito trabalho. Afinal, para servir todas as famílias que vão ao restaurante, ela entra na cozinha às 8h20 e sai apenas às 17h30, quando o atendimento termina. Há quase 50 anos, as receitas de dona Flora fazem sucesso. “São 49 Dias das Mães, que eu não falhei nenhuma vez. Sempre trabalhei e sempre foi o dia de maior movimento no restaurante”, contou com orgulho.
Dona Flora, fundadora do restaurante Madalosso, em Curitiba. (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
A vida de dona Flora está atrelada ao restaurante de uma maneira que
nem o tempo consegue afrouxar. “Enquanto eu tiver viva e com saúde eu
quero estar aqui sempre. Isso aqui preenche muito a minha vida. Se não
tivesse isso aqui a solidão seria ainda maior. Todos os filhos casaram e
eu perdi meu marido. Então, o que eu vou fazer da vida? Eu não sei, de
maneira nenhuma, ficar parada, sentada no sofá”, contou a matriarca que
tem quatro filhos e sete netos.Esta história de dedicação começou logo no primeiro ano de casamento. Flora conta que na época ela e o marido não possuíam patrimônio. O marido dela, Ademar Bertolli, teve a ideia de comprar um pequeno restaurante da região de Santa Felicidade chamado Florida e convidou o pai dela, Antônio Domingos Madalosso, para participar do investimento. Ela lembra saudosa desta época. “Ele veio falando para o meu pai, vamos comprar, vamos comprar. E meu pai, coitado, dizia que não podia, que não tinha condições. Meu marido conversou bastante com ele, e meu pai resolveu vender um terreno”, explicou dona Flora.
Na foto, Flora com o marido Ademar e os
quatro filho, em 1972
Foto: Arquivo pessoal)
O primeiro passo estava dado. Com o dinheiro da
negociação, o pai da dona Flora pagou algumas dívidas e emprestou uma
quantia para que ela e o marido comprassem o Flórida. Com a dona Flora
na cozinha e Bertolli como garçom, a aposta deu certo. Em pouco tempo, o
irmão Carlos Madalasso também começou a trabalhar no restaurante. “Meu
marido começou a fazer uns cartãozinhos, começou a visitar as empresas,
começou a espalhar e assim foi indo”. Logo, os demais irmãos da dona
Flora também começaram a trabalhar no restaurante.quatro filho, em 1972
Foto: Arquivo pessoal)
Em 1970, Flora e os irmãos Carlos e Severino abriram um novo restaurante, bem na frente do primeiro. Mais tarde, o antigo Flórida passou a se chamar Velho Madaloso. “Nós começamos aqui nós três. Apenas dois salões e tínhamos a alta pretensão de servir 400 pessoas no domingo, mas era uma alta pretensão para a época. Graças a Deus foi um sucesso, fomos muito bem e a cada dia aumentava o número de cliente”.
Enquanto ela, Carlos e Severino assumiram o novo Madalosso, o Velho Madalasso ficou sob responsabilidade dos outros três irmãos. O voto de confiança rendeu frutos. Dez anos mais tarde, os irmãos abriram outro restaurante na cidade e devolveram o Velho Madalosso para a irmã.
Ela recorda que na infância, a família passou dificuldade. O pai plantou muitos hectares de parreira, mas não deu certo. “Quando comecei o restaurante, percebi que poderia dar certo se todos trabalhassem com honestidade e com vontade, fui puxando um, puxando outro. Hoje estão filhos, noras, sobrinhos, irmão, cunhadas todos envolvidos na parte da gastronomia. Todo mundo está trabalhando assim, se virando assim e ensinando os filhos porque um dia a gente vai e alguém tem que ficar para tomar conta”, brincou.
Ainda que empreendedora e sempre muito dedicada ao trabalho, Flora não deixa para traz perfil de mãe italiana. Ela quer ter conhecimento de tudo que se passa na família e principalmente ter todos por perto. “Eu gosto muito de ter os filhos perto, saber onde eles estão e o que estão fazendo todo dia. E eu acho que eles gostam de mim, eles me põem lá em cima”, brincou.
Flora com seis dos sete neto, em 2006 (Foto: Arquivo pessoal)
Para esta família, o excesso de trabalho e a falta de tempo não são
desculpas. Há 15 anos, dona Flora organiza, aos domingos, um café da
tarde para os filhos, netos, noras, sobrinhos e irmãos. Além disso, toda
quarta-feira, o almoço é na casa da "mama". Sempre com muita comida. “A
gente tem que fazer alguma coisa para juntar a família, se não um vai
de um lado, outro vai de outro e nem percebe que a família está se
distanciando e a gente fica, às vezes, um mês, dois meses sem se ver.
Então, tendo o café, todo mundo sabe. Para ser uma verdadeira mãe
italiana, foi um jeito que eu achei de reunir a família, foi um jeito
que eu achei de manter a família reunida depois que a mãe faleceu”,
comentou.Emocionada, dona Flora fala com carinho da família e sente falta da época em que os filhos eram crianças. “Para qualquer mãe eu diria que a coisa mais importante do mundo é viver todos os minutos junto com os filhos. Desde o dia em que nascem. Mas, o importante mesmo é a criação deles, acompanhar tudo, acompanhar a escola, os amigos, a educação religiosa, tudo eu acho muito importante. A educação começa em casa, depois completa no colégio. Mas a verdadeira educação, o verdadeiro sentimento de amor começa em casa”. Para dona Flora, este amor apenas a mãe pode ensinar.
Ela sabe que a dupla jornada das mulheres pode interferir um pouco nesta relação. “As mães que trabalham fora têm um pouco de dificuldade. Mas, quando elas têm a chance, têm que ficar e dar todo o amor e carinho, porque a vida passa muito rápido. Hoje eles são crianças, amanhã, já estão com dez anos, depois de amanhã, já estão na pré-adolescência, casam, vão embora, e acabou”, disse.
Ela fala com propriedade, afinal, sempre trabalhou. Após os partos, o período de recuperação era curto. Dona Flora lembra que logo após o nascimento dos filhos, já voltava para a cozinha do restaurante. “Com o primeiro filho, 15 dias depois eu já voltei. Levava ele para a cozinha. Cuidava dele lá. Eu olhava para ele, querendo dar carinho para ele, pegava ele no colo. Muitas vezes fritei polenta com ele no colo”, contou. Quando o segundo filho nasceu, o descanso foi ainda menor. Do dia seguinte ao parto, dona Flora assumiu o trabalho. “Não tinha condição de pagar gente para ajudar”, justificou.
O restaurante
Divido em salões, o restaurante Madalosso tem
4.600 lugares (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
O Madalosso foi crescendo aos
poucos, até chegar à atual capacidade de 4.600 lugares. Conforme o
número de clientes aumenta, Flora investe em equipamentos, reformas e
ampliações. A estrutura por trás dos salões é compatível com o volume de
atendimento. Existe a ala do açougue, câmeras de resfriamento, sessão
de massas, de lavagem e corte de verduras, elevadores e toda uma
logistica para que os garçons levem a comida para os salões.4.600 lugares (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
Com o passar dos anos, a inovação tecnologica foi ganhando espaço na cozinha da "mama" empreendedora. Dona Flora lembra que antes as máquinas não venciam o volume de trabalho. Agora, ela investe na tecnologia para para facilitar o trabalho. “Tudo que existe em máquina, que eu posso comprar, eu compro”.
E, se por acaso, a as inovações não acompanharem as necessidades do restaurante, dona Flora se adapta. Um exemplo é a máquina de cortar polenta. “Quando não existe, a gente faz com a cabeça da gente. Eu engenhei uma máquina de cortar polenta. Antes eu gastava quatro pessoas, de três a quatro horas, para cortar polenta para 1.200 pessoas. Com esta minha máquina, que não existe, mas eu peguei uma máquina de pão e fiz uma máquina para cortar polenta, hoje em meia hora duas pessoas me cortam polenta para servir duas mil a três mil pessoas. Muito mais rápido”, explicou.
A máquina de lavar louça também passou por adaptação. Flora inseriu uma esteira na qual os funcionários colocam gavetas com louças. “Ficou muito prático e me deu muita tranquilidade”, contou.
Para facilitar a lavagem das louças, dona Flora inseriu uma esteira na máquina (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
Apesar de estar diariamente na cozinha, hoje não é mais dona Flora que
prepara as refeições. “Não sou eu que cozinho tudo, mas eu verifico
tudo. Porque hoje eu tenho 70 pessoas na cozinha”. Ela explica que o
risoto, normalmente, fica sob os cuidados dela, porque no fogão, ela
está em um lugar estratégico. “Onde eu fico enxergo todo mundo
trabalhando”.Para se ter uma dimensão do movimento provocado pelo Dia das Mães, o número de cozinheiras passa chega a 80. São necessários 130 garçons para servir toda a clientela. E a dona flora que manter esses números altos. Trabalha hoje pensando nos futuros clientes. Ela decidiu levar o parque de diversão para as crianças para dentro do salão mais tradicional do restaurante. Aideia, como ela explicou, as crianças gostem tanto do local a ponto de se tornarem, quando adultos, clientes frequentes.
No cardápio tem, por exemplo, massas, saladas, e variedades de frango (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
Inicialmente, o restaurante
servia apenas lasanha, risoto, fígado, frango e polenta frita. Com o
passar do tempo, foram feitas algumas inovações no cardápio, mas sempre a
partir desta base. “A gente sempre vai inovando o cardápio, mas com
pratos que combinem com a base que é o fígado, frango e polenta. Então,
se a gente foi colocar alguma outra coisa tem que combinar com isto”,
detalhou dona Flora.
Uma das opções é a salada de escarola com bacon (Foto: Bibiana Dionísio/ G1 PR)
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