Ex-dirigente pode perder o título de presidente de honra do Fluminense e até deixar de nomear o estádio popularmente conhecido como Engenhão
Leonardo Maia e Sílvio Barsetti - O Estado de S. Paulo
RIO – A fim de evitar a cassação do título de presidente de honra da Fifa, do qual desfrutava desde 1998, João Havelange
se antecipou a um parecer da comissão de ética da entidade e renunciou
ao posto em abril. Isso veio à tona no início da semana, quando a Fifa
confirmou o envolvimento do ex-dirigente em escândalos de corrupção nos
anos 90. Desde então, começaram alguns movimentos notadamente no Rio que
tendem a constranger ainda mais aquele que já foi o homem mais poderoso
do futebol mundial.
Felipe Dana/AP
Aos 95 anos, ex-presidente da Fifa vive recluso e não fala com a imprensa
“O Fluminense se vê na obrigação de convocar uma assembleia para retirar esse título de uma pessoa que se envolveu em corrupção, num caso de repercussão mundial. O Flu é um clube limpo e tem de se preservar”, disse Julio Bueno, líder da oposição do Tricolor.
Oficialmente, a direção clube ainda não se manifestou sobre o caso, mas vários conselheiros do Flu defendem a posição de Bueno. Já a prefeitura, por meio de sua assessoria de imprensa, revelou que a possibilidade de alterar o nome do estádio não está descartada. Ressaltou, porém, que a prioridade no momento é a recuperação do Engenhão, interditado por causa de problemas estruturais.
Já o Botafogo segue determinação de seus dirigentes e não se refere ao estádio com o nome de João Havelange. Documentos oficiais do clube o tratam como Stadium Rio. O Alvinegro não se opõe a uma eventual decisão da prefeitura de dar nova identidade ao Engenhão.
O tema promete se manter em evidência. Até dias atrás, já era público o envolvimento de Havelange no caso, mas não havia nenhum documento emitido pela Fifa ou pelo Comitê Olímpico Internacional (COI), do qual ele teve de se desligar em 2011 de seu comitê executivo também por causa do escândalo, que formalizasse sua participação em negócios ilícitos.
De acordo com a Fifa, Havelange, seu ex-genro Ricardo Teixeira (que comandou a CBF de 1989 a 2012) e o ex-presidente da Confederação Sul-Americana de Futebol, Nicoláz Leoz, receberam indevidamente US$ 22 milhões (em torno de R$ 45 milhões) entre 1992 e 2000 de uma empresa de marketing esportivo, a ISL, que “defenderia” interesses da Fifa.
O ex-presidente da Fifa – de 1974 a 1998 – está recluso e não fala com a imprensa. Poucas vezes sai de casa, em Ipanema, zona sul, deixou de ir a sua casa de veraneio, em Angra dos Reis, litoral sul do Rio, e também não frequenta seu escritório, no centro da cidade, faz mais de um ano. Mantém, porém, o local em funcionamento. Nos dias úteis, Irene Lima, sua secretária particular há 53 anos, trabalha normalmente no gabinete dele.
“Ele passa ordens por telefone. Está muito chateado com o que vocês (da imprensa) inventaram sobre ele. Merecia respeito”, disse ela ao Estado. “Conversamos sempre, ele me pede para mandar correspondências, serviço não falta, mas não toco naquele tal assunto com ele, é claro.”
Havelange esteve internado em 2012 por mais de três meses, após sofrer uma infecção generalizada. Recuperou-se parcialmente. Hoje, tem acompanhamento permanente de enfermeiros e se submete diariamente a sessões de fisioterapia, massagens e exercícios aquáticos. Pelo menos uma vez a cada 15 dias recebe a visita da neta, Joana Havelange, diretora executiva do Comitê Organizador da Copa de 2014, com quem também conversa muitas vezes por telefone.
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