MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 12 de maio de 2013

Falta de remédios pode ter vitimado pacientes em Hospital do Câncer


Em dois dias, quatro pacientes morreram.
Direção do hospital diz que pacientes estavam em estágio terminal.

Yuri Marcel e Rayssa Natani Do G1 AC

Hospital do Câncer (Foto: Yuri Marcel/G1)Quatro mortes  em apenas dois dias, no Hospital do
Câncer (Foto: Yuri Marcel/G1)
A falta de medicamentos, utilizados no tratamento contra o câncer, pode ter vitimado pelo menos quatro pacientes no Hospital do Câncer, administrado pelo Governo do Estado, em Rio Branco. Os casos ocorreram entre os dias 6 e 7 de maio, mas a direção do hospital nega que as mortes tenham sido em consequência da falta de medicamentos.

A servidora pública, Rosineide Camurça de Souza, que veio a óbito na madrugada de terça-feira (7), havia descoberto um câncer no fígado há um ano e quatro meses. De acordo com o marido, o funileiro Napoleão Maia, Rosineide ficou aproximadamente três meses, entre fevereiro e abril de 2013, sem tomar o remédio Pemetrexede, que ela utilizava em seu tratamento.

"No oitavo mês, o remédio não tinha aqui. Nessa época o fígado estava medindo 60 cm, daí ela entrou na justiça para o governo dar o remédio. O estado comprou o remédio, mas a direção do hospital achou por bem usar o medicamento que era para ser aplicado nela, em outros pacientes. Mediante isso, ela passou três meses sem tomar o medicamento e a doença evoluiu, o fígado que media 60 cm passou a medir 90 cm e chegou ao ponto em que ela faleceu por causa da falta desse remédio", conta.

O marido diz que entende que a direção do hospital poderia ter utilizado o remédio para atender outros pacientes, mas que deveria ter o cuidado de fazer a reposição para que não faltasse para Rosineide. "A gente sabia que a doença dela era grave. Não é querendo colocar a culpa em ninguém, mas adiantaram a morte dela", desabafa.

O representante comercial, Fábio Balestieri, de 30 anos, acompanhou durante dois anos a luta da esposa, Susiane Barreto Balestieri, contra um câncer de mama. Na segunda-feira (6) ela não resistiu e também morreu.

Susiane 300 (Foto: Arquivo Pessoal)Susiane Balestieri morreu na segunda-feira (6)
(Foto: Arquivo Pessoal)
O marido ressalta que Susiane teve um 'atendimento de excelência' por parte da equipe médica enquanto esteve no hospital. Porém, ainda assim, ficou entre 15 e 20 dias em fevereiro de 2013 sem receber a medicação que retardava o câncer.

"O problema foi essa falha na compra dos remédios. O remédio era para controlar o câncer, daí se você para de tomar por 15 dias, o que acontece?", indaga.
Ainda abalados, os familiares das duas mulheres não pensam, por enquanto, em mover uma ação contra o estado. "Pensei em mover uma ação, mas nada vai devolver minha esposa", diz Balestieri.

Paciente confirma falta de medicamentos
Luiz Magno faz tratamento de câncer no reto há quatro anos. Ele passou por uma cirurgia e está na fase de acompanhamento. Segundo ele, já presenciou por várias vezes a falta de medicamentos no HC.
"Hoje não tinha remédio para dor. Outro dia não tinha a quimioterapia. Acho que eles podiam dar mais uma atenção para esse hospital aqui. A gente chega, o doutor passa um remédio, a gente vai lá na farmácia do hospital e não tem. Se é para construir outros hospitais, eles têm que dar condições para o médico trabalhar, mais suporte", comenta.

'Fizemos tudo que o que podíamos fazer por esses pacientes'
Para a diretora-geral do Hospital do Câncer, Mírian Késia, as acusações de negligência no atendimento prestado aos pacientes são infundadas. Segundo ela, a unidade de saúde prestou todo o atendimento que poderia, mas os pacientes já estavam com câncer em estágios avançados e essa acabou sendo a causa das mortes.

Por mais intervenção que a gente faça, há o momento da intervenção divina"
Diretora-geral do Hospital do Câncer, Mírian Késia.
"Por mais que seja duro de compreender, mortes fazem parte da rotina de um hospital onde se faz tratamento para o câncer. Todas essas pessoas que faleceram estavam em estágios gravíssimos. A Susiane tinha metástase cerebral, era uma situação extremamente delicada.
Ela diz ainda que no caso da Rosineide, o câncer era estágio quatro no pulmão, e a medicação dela, de alto custo, foi disponibilizada. "Eram 12 frascos no valor de R$42 mil. Mas o estágio também já estava muito avançado e não tem nada a ver com a medicação. Tenho como comprovar que ela estava com a medicação solicitada pelo médico disponível e há vários meses", argumenta.

A diretora nega que atrasos nos medicamentos possam ter agravado o estado de saúde dos pacientes. "O remédio que a Susiane tomava era o Capecitabina, mais conhecido como Xeloda. Desde agosto de 2012 se passou a ter problema com a distribuição nacional desse medicamento. Porque nenhum medicamento oncológico é fabricado no Brasil, são todos importados", conta.

Ela diz porém, que quando a ação de Susiane foi ajuizada, o medicamento já estava próximo da entrega. "Não sou médica, mas acredito que o espaço de tempo que ela aguardou a chegada do Xeloda não tenha sido a causa do óbito dela, mas ela tinha um estágio muito avançado", enfatiza.

Hospital do Câncer (Foto: Yuri Marcel/G1)Ação ajuizada por Rosineide solicitando
medicamentos (Foto: Yuri Marcel/G1)
Contradizendo o relato da família de Rosineide Camurça, a diretora diz que foi solicitado o Premexede. "É um medicamento de alto custo que não se faz estoque e se compra à medida que o médico prescreve", disse.
Ela ressalta que no caso de Rosineide foram solicitados 12 frascos e, entre o período da solicitação do medicamento e a compra, a paciente ajuizou a ação. "Entendo que a ação foi proposta só para resguardar, porque quando a gente foi acionado, já tínhamos feito a solicitação do medicamento dela", conta.

A diretora se disse surpresa com a ligação feita entre a quantidade alta de óbitos e a falta de assistência aos pacientes. "Isso não procede. Por mais intervenção que a gente faça, há o momento da intervenção divina. E segundo, o estágio deles era grave. Não temos nenhum paciente que veio a óbito que estava iniciando quimioterapia. Todos eram pacientes que estavam sendo tratados há muito tempo. Então, é de se entender que não há ligação", salienta.

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