MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 4 de maio de 2013

Em Nuremberg, cervejarias conectam passado e presente



Russ Juskalian / Nuremberg - THE NEW YORK TIMES - O Estado de S.Paulo
"Isso será fácil de ver", disse Annelise, nossa guia, apagando as luzes na fria adega de cerveja com paredes de arenito que fora convertida em abrigo antiaéreo durante a 2.ª Guerra Mundial. Uma pequena placa na parede brilhou com a fosforescência da cal: ela indicava a saída de emergência para os 50 mil civis que haviam se refugiado - dois por metro quadrado - nesse misto de adega e bunker durante os bombardeios dos Aliados.
Albrecht Dürer: vida e obra do artista em sua própria casa - Divulgação
Divulgação
Albrecht Dürer: vida e obra do artista em sua própria casa
A placa era um lembrete pequeno, mas pungente, de como centenas de anos de fabricação de cerveja em Nuremberg - uma cidade que foi 90% destruída durante o conflito - conectavam passado e presente.
A pouco mais de uma hora de trem de Munique, Nuremberg tem uma população de 510 mil pessoas e é a segunda cidade da Baviera - embora seja desprezada. Os moradores locais dizem, é claro, que a Baviera tem pouco a ver com o lugar; a lealdade maior é com o distrito administrativo menor da Francônia Central, que tem seu dialeto, história e culinária próprios. Para não mencionar a cerveja.
Muitos visitantes só pensam em Nuremberg associando a cidade ao seu significado na 2.ª Guerra Mundial. Foi ali que Hitler discursou em comícios imensos ao longo dos anos 1930 e onde foram instaurados os tribunais militares que julgaram os nazistas depois do encerramento dos combates.
Mas a cidade tem muito mais a oferecer do que uma história sombria: há um magnífico castelo da era do Sacro Império Romano; uma rica tradição cervejeira; talvez o melhor biscoito de gengibre do mundo; e, em dezembro, o mais célebre mercado de Natal da Alemanha.

Um bom lugar para começar é subterrâneo. Há mais de 700 anos, as cervejarias locais precisaram manter adegas extensas para preparar as lagers de fermentação lenta em baixa temperatura, preferidas na região, e aquelas caves abarcam hoje mais de 2,5 hectares serpenteando por baixo de boa parte do centro da cidade velha.
Foi assim que o hábito de beber começou a prosperar em Nuremberg. Até os anos 1600, "todos bebiam cerveja, até criancinhas", nos contou Annelise durante o tour de uma hora.
Com a adoção da refrigeração, no fim do século 19, as cervejarias já não precisavam das adegas frescas de arenito, que foram assumidas pela indústria de conservas. Aí veio a 2.ª Guerra, e as adegas, algumas a até 24 metros de profundidade, foram interligadas por túneis estreitos a uma rede de esconderijos com sistemas de ventilação, rotas de fuga ocultas e entradas fortificadas. Objetos de arte e as janelas com vitrais de igrejas vizinhas também sobreviveram nesses bunkers improvisados.
Legado. Nuremberg abriga a esplanada de comícios do Terceiro Reich, projetada por Albert Speer, para onde centenas de milhares de nazistas acorriam para ouvir Hitler discursar. O local fica a uma curta viagem de ônibus do centro da cidade e permite ver lembretes poderosos de um tempo terrível: as ruínas do Zeppelinfeld, um espaço aberto com arquibancadas, e o Kongresshalle, o Congresso nazista estilo Coliseu.
Hoje, o Kongresshalle está em péssimo estado de conservação, exceto pelos edifícios frontais que abrigam a Sinfônica de Nuremberg e o Centro de Documentação do Partido Nazista, um museu onde está exposta toda a propaganda que facilitou a ascensão de Hitler.
Quando visitei o local, foi inquietante caminhar pelos espaços quase vazios. Mas as linhas do museu, em vidro e metal, estabelecem um contraponto absoluto à arquitetura de blocos do Terceiro Reich. Mesmo assim, fiquei contente de sair dali para experiências mais amenas.
Após o tour, fui direto para a Hausbrauerei Altstadthof, para provar comidas e bebidas em um bar clássico, incluindo algumas variedades da cerveja vermelha maltada que era sinônimo de Nuremberg - e hoje não se encontra em nenhum outro lugar. Também vale pedir um uísque puro malte ou um bierbrand (um destilado de cerveja) envelhecido nas adegas que você acabou de visitar. / TRADUÇÃO DE CELSO PACIORNIK

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