Há
dois dias, talvez um tanto amuada pela chatice do noticiário de
Brasília, a imprensa brasileira decidiu antecipar para 2012 a disputa de
2014, fazendo, querendo ou não, o jogo do PT, em especial de Lula. Os
petistas decidiram escolher “o” adversário com dois anos de antecedência
— o PSDB — e o candidato desse adversário; no caso, Aécio Neves (nem
ele próprio se atribui ainda tal condição, que eu saiba). Trata-se de
uma tentativa de criar desde já aquele que se lhes afigura o melhor
cenário. O pior é outro, que contasse com as candidaturas de Dilma,
Eduardo Campos, Marina, Aécio e, como o mundo é dinâmico, J. Pinto
Fernandes, “o que não havia entrado na história”, como no poema de
Drummond. Quem é ele? Sei lá eu! Pode acontecer, não pode? Lula e Dilma
querem o Fla x Flu, a melhor garantia para que tudo fique como está.
Quanto mais candidatos, maiores as chances de um segundo turno e, por
óbvio, maiores os riscos. O jornalismo fez aborrecidamente o esperado:
relatou a Batalha de Itararé.
O
repertório do lulo-petismo não parece esgotado, no sentido de não ter
novidades, só na economia — se ainda funciona eleitoralmente, esse é o
outro departamento. Também se esgotou o repertório político. A carta que
os petistas têm na manga é a mesma de 2002, de 2006 e 2010: demonizar
FHC. O livreto lançado pelo partido traz de novo aquela cascata do “nós”
contra “eles”. O “nós” deles sempre faz tudo certo; o “eles”, tudo
errado. Os tucanos reagiram com mais adjetivos e exclamações do que com
números — A INCAPACIDADE DESSE PARTIDO DE PRODUZIR DADOS OBJETIVOS E
DIVULGÁ-LOS É UM ESPANTO!
“E a blogueira cubana, Reinaldo?”
Pois é… Há
dez anos, tenho perguntado às oposições — e não só eu!: “Onde estão os
valores?” Há dez anos tenho escrito, e não só eu, que não se enfrentam
eleições só com administrativismo. Uma gestão desastrada certamente cria
embaraços a quem disputa, mas uma gestão virtuosa pode ser derrotada
nas urnas se não produz o que há anos chamo de uma “narrativa” — ou,
como diria Padre Vieira, uma “história do futuro”. E, claro!, é preciso
ter a devida história do passado.
Sim, o
PSDB deveria ter respondido aos ataques feitos pelo PT, é evidente — com
mais ênfase nos dados objetivos, reitero. Mas, enquanto se ficava
fazendo a disputa sobre o passado, o presente estava vivo e ardendo. Uma
simples blogueira cubana, que está longe de ser um furacão político,
até bastante cordata e lhana, estava sendo xingada, ameaçada,
intimidada… Fascistoides organizados pela embaixada cubana, com o
beneplácito da Secretaria-Geral da Presidência da República, elevavam a
intolerância a níveis inéditos depois da redemocratização.
As
oposições convidaram Yoani para ir ao Congresso, é verdade. Mas só!
Imediatamente após a sua chegada ao Brasil, sendo alvo de ataques já no
aeroporto de Recife, uma comissão de parlamentares deveria ter sido
criada para acompanhá-la. Isso teria excitado ainda mais a fúria de seus
algozes morais? É possível! Mas as oposições estariam explicitando o
seu repúdio à violência, à brutalidade, à agressão aos fundamentos
básicos do regime democrático.
Essa era a
batalha desses dois ou três dias, não aquela disputa sobre o passado.
Reitero: era importante, sim, responder, mas sem cair no truque armado
pelo petismo. “Olhem o Reinaldo… O povão nem sabe quem é essa tal
Yoani…” É verdade! E também não tem a menor ideia do que sejam Taxa
Selic, taxa de investimentos, Lei de Responsabilidade Fiscal etc.”
Entende, sim, aquela conversa mole de Dilma sobre o fim da miséria,
outra armadilha meramente retórica da qual as oposições até agora não
souberam sair. A linguagem com que respondem às agressões do petismo é,
literalmente, incompreensível para as massas.
Há uma
dificuldade enorme de falar diretamente com as pessoas e com os
eleitores, sejam maiorias ou minorias. Em vez de ficar batendo boca com
os petistas de gabinete e palanque, os oposicionistas deveriam é estar
batendo boca, sim, com os fascistas nas ruas. Não para arrebanhar e
arrebatar multidões, que isso não aconteceria. Mas para deixar claro que
há no país forças organizadas que repudiam aquele comportamento
miserável.
Não, meus
caros! Eu não estou sugerindo ou inferindo que isso conquistaria votos.
Eu nem mesmo pensei nisso. O ponto é outro: estou constatando que uma
oposição, para existir, TEM DE EXISTIR POLITICAMENTE. Vai esperar para
fazer isso só em 2014? Aqui e ali, ouço intervenções mais ou menos
assim: “Nós não vamos nos comportar como eles porque somos diferentes
dele…” Ok, o fundamento está correto. “Não se comportar como eles”, no
entanto, não pode significar deixar de enfrenta-los.
Temos uma
oposição que parece destituída de um centro nervoso. Ora, é preciso que
se tenha um núcleo de valores capaz de reagir quando agredido: “Não!
Isso é inaceitável” Parece-me que os ataques a Yoani passaram no limite
do aceitável, não é?, em qualquer regime democrático — e isso inclui o
nosso. Se o governismo nada faz porque, de modo objetivo, integra as
forças do linchamento, quem há de fazê-lo? O senador Eduardo Suplicy,
que vive cobrando, na prática, que Yoani prove não ser agente da CIA?
Caramba!
Há, se não me engano, 80 deputados da oposição. No Senado, salvo engano,
há 17 — um deles é do PSOL e não sairia em defesa de Yani. Agem segundo
a sua própria cabeça ao menos três da base governista. Assim, há um
grupo aí de 99 políticos que, no papel ao menos, se opõem a governo.
Essa gente, com uma exceção ou outra, não se deu conta da gravidade do
caso. Nem mesmo era necessário aplaudir Yoani. Bastaria evidenciar que
os fascistas não queriam deixá-la falar. Os parlamentares de oposição
deveriam estar lá, entre outras coisas, para cobrar a presença ativa da
Polícia Federal, especialmente depois que ficamos sabendo que agentes
cubanos estão no seu encalço aqui no Brasil.
Nada!
Estavam todos cumprindo a agenda estabelecida por Lula: “Olhem aqui: nós
vamos atacar o FHC e vocês tratem de defender. Queremos disputar 2014
com essa plataforma de novo. E nós os escolhemos como ‘os’ adversários”.
Não, não! Assim, só a irrelevância os espreita.
“Ah, esse
papo de Yoani já encheu!” Errado! Esse “papo de Yoani” é uma amostra do
que acontece quando uma força política se hipertrofia no regime
democrático sem, no entanto, acatar os valores da democracia.
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