MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

'Tudo é uma questão de design', diz presidente da Hyundai América


Coreana conquista consumidor nos EUA e desafia o 'modelo Toyota.'
Estratégia no Brasil é baseada em carros chamativos e completos.

Priscila Dal Poggetto Do G1, em Orlando (EUA) - A jornalista viajou a convite da Fenabrave

John Krafcik, presidente da Hyundai Motor America (Foto: Divulgação)John Krafcik, presidente da Hyundai Motor America (Foto: Igor Francisco/MCE Comunicação)
A confiança do presidente da Hyundai Motor America, John Krafcik, emudeceu o auditório principal do congresso da NADA, que reuniu concessionários de todo o mundo, em Orlando, no último fim de semana, para discutir as tendências do setor.
A atenção dos distribuidores concentrou-se na revelação de como a Hyundai conseguiu 5% do mercado norte-americano geral de carros e 9% de participação no segmento premium durante uma das piores crises econômicas da história dos Estados Unidos. A resposta veio com um largo sorriso adornado por um terno impecável: "Tudo é uma questão de design. Trata-se de fazer as pessoas felizes".
Temos o que o consumidor quer. As montadoras deixaram o design de lado, nós demos prioridade a ele. Símbolo disso é o Veloster"
John Krafcik, presidente da Hyundai America
A afirmação de Krafcik é uma crítica às montadoras norte-americanas que, por muito tempo, ofereceram soluções para seus produtos sem ter de afetar muito o modelo de negócio, o que resultou em um portfólio defasado. Com a crise, o quadro mudou e, enquanto Ford, General Motors e Chrysler corriam para renovar seus produtos, a sul-coreana curiosamente cativou o conservador mercado norte-americano, que antes só comprava veículos "made in USA". "Temos o que o consumidor quer. As montadoras deixaram o design de lado, nós demos prioridade a ele. Símbolo disso é o Veloster, um carro que desafia as convenções estéticas, ostentando três portas e um motor 1.6", afirma o executivo,  principal "atração" do evento.
O avanço pode não contentar os yankees mais conservadores, mas todos reconhecem o potencial da nova forma de fazer o negócio de carros. "Eu posso dizer que eles estão fazendo um bom trabalho", afirmou o chairman da NADA (associação dos concessionários), David Westcott, ao ser questionado pelo G1 se a Hyundai será responsável por uma nova revolução no setor automobilístico, como já fez a Toyota um dia com o seu inovador sistema de produção.
Hyundai Veloster Turbo (Foto: Divulgação)Hyundai Veloster Turbo (Foto: Divulgação)
Já o economista chefe da NADA, Paul Taylor, foi mais objetivo. O republicano reconhece que a Hyundai está "matando" o modelo Toyota e, com isso, abrindo os portões do mercado norte-americano para as asiáticas. "Em breve, Kia e Hyundai serão uma marca só. Com o sucesso dos sul-coreanos, o mercado se abre para os chineses e indianos. Um exemplo é a Mahindra, que já ganhou força no segmento de picapes e pretende investir nos automóveis por aqui", analisa o economista.
Com o sucesso dos coreanos, o mercado se abre para os chineses e indianos"
Paul Taylor, economista-chefe da NADA
A conquista do cliente 'premium'
Além da conquista do consumidor pelo design, no segmento premium, a preocupação da Hyundai, passou longe da decoração da concessionária. A estratégia da companhia foi trazer comodidade para quem gostaria de testar o carro. "Os clientes premium valorizam o tempo. Com base nisso, passamos a levar o  Equus até a casa ou trabalho do cliente, assim ele poder testar o carro em condições normais do seu cotidiano", ressalta.
Conteúdo definido e paz com concessionários Outro ponto importante foi estabelecer carros com conteúdo mais definido e completo, reduzindo o número de pacotes oferecidos. Como no Brasil, os carros da montadora possuem entre uma e duas versões como opção.
Fora isso, a sul-coreana investiu na parceria com os concessionários, sem pressioná-los por altos investimentos na arquitetura das lojas e trabalhando com margens de lucro mais flexíveis, sem priorizar um concessionário de uma cidade maior em detrimento de uma menor. "As revendedoras Hyundai têm ganhado muito dinheiro. Então, a satisfação com a montadora só aumenta considerando que a rentabilidade é maior",' afirma o chairman da NADA.
hyundai equus (Foto: Divulgação)Hyundai Equus conquista o segmento de luxo
(Foto: Divulgação)
A entidade acaba de divulgar o ranking de satisfação das concessionárias do país com as montadoras e o primeiro lugar ficou com a Hyundai. A consultoria J.D. Power, por sua vez, fez um levantamento da satisfação do cliente e apontou o aumento de 21 pontos percentuais no contentamento dos consumidores da marca.
"A Hyundai faz produtos para o perfil dos consumidores de hoje, mas com olho para daqui 20 anos. É o que faz a diferença", analisa Paul Taylor, da NADA.
Hyundai repete estratégia no Brasil
Também impressionado com o discurso de John Krafcik, o presidente da associação que representa as concessionárias no Brasil (Fenabrave), Flavio Meneghetti, reconhece a mudança que a marca provocou no país, especialmente quando decidiu iniciar a produção local e desvincular-se da importadora Caoa, montando uma rede de distribuição própria..
Segundo Meneghetti, a chegada de modelos como o HB20 força os concorrentes a buscarem a modernização de seus portfólios. O presidente da Fenabrave afirma ainda que o programa do governo Inovar Auto vai ajudar a diminuir a defasagem que existe entre um carro brasileiro e um norte-americano.
Em 2015, o produto no Brasil vai estar mais próximo do que existe hoje nos EUA, mas o descompasso descontinuará"
Flavio Meneghetti, presidente da Fenabrave
No entanto, ele reconhece que a evolução não será drástica. "Em 2015, o produto no Brasil vai estar mais próximo do que existe hoje nos Estados Unidos, vamos chegar ao ponto onde eles estavam até agora. Mas eles já começaram um novo processo de evolução, então, o descompasso continuará", avalia Meneghetti, que aprova o Inovar Auto por ser o único programa governamental a favor da tecnologia na história da industria automobilística nacional.
Preços baixos criticados
A favor, a Hyundai ainda tem a desvalorização da moeda sul-coreana, o won, diante do dólar, o que ajuda a reduzir preços de componentes e a oferecer produtos com preços mais competitivos -o que gera muita polêmica.
O Hyundai i30 duas portas não chamou tanta atenção durante sua estreia no Salão de Paris em setembro do ano passado quanto a briga que o governo francês arrumou contra a companhia sul-coreana, também detentora da marca Kia. A França acusou as duas marcas por dumping - concorrência desleal na venda por prática de preços bem abaixo do mercado. Isso porque, em maio último, passou a valer um acordo de livre comércio entre a Coreia do Sul e a França, assinado em 2011, que libera a entrada dos carros sul-coreanos sem taxação. No entanto, os carros que eles mais exportam para a França são compactos movidos a diesel, um segmento dominado pelas montadoras francesas.
hyundai hb20 (Foto: Luciana de Oliveira/G1)Baixo preços causam polêmicas no setor
(Foto: Luciana de Oliveira/G1)
O ministro francês da indústria, Arnaud Montebourg, foi taxativo na acusação e pediu aos franceses para comprarem carros nacionais, além de defender que a União Europeia crie uma nova medida para proteger setores como o automobilístico.
Apesar dos protestos, pelo que foi visto no congresso da NADA, o "efeito Hyundai" é um caminho sem volta. Tanto é que, ao responder às críticas sobre vantagem de preços por causa das facilidades propiciadas pelo yuan desvalorizado, o vice-presidente executivo da japonesa Honda America, John Mendel, utilizou como irônico argumento a cocorrente sul-coreana. "A moeda japonesa não é uma vantagem competitiva para a Honda. Ninguém está gritando sobre o won (moeda sul-coreana), que está desvalorizado no mesmo nível há 10 anos", disse Mendel durante a convenção.

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