Coreana conquista consumidor nos EUA e desafia o 'modelo Toyota.'
Estratégia no Brasil é baseada em carros chamativos e completos.
John Krafcik, presidente da Hyundai Motor America (Foto: Igor Francisco/MCE Comunicação)
A atenção dos distribuidores concentrou-se na revelação de como a Hyundai conseguiu 5% do mercado norte-americano geral de carros e 9% de participação no segmento premium durante uma das piores crises econômicas da história dos Estados Unidos. A resposta veio com um largo sorriso adornado por um terno impecável: "Tudo é uma questão de design. Trata-se de fazer as pessoas felizes".
Temos o que o consumidor quer. As montadoras deixaram o design de
lado, nós demos prioridade a ele. Símbolo disso é o Veloster"
John Krafcik, presidente da Hyundai America
O avanço pode não contentar os yankees mais conservadores, mas todos reconhecem o potencial da nova forma de fazer o negócio de carros. "Eu posso dizer que eles estão fazendo um bom trabalho", afirmou o chairman da NADA (associação dos concessionários), David Westcott, ao ser questionado pelo G1 se a Hyundai será responsável por uma nova revolução no setor automobilístico, como já fez a Toyota um dia com o seu inovador sistema de produção.
Hyundai Veloster Turbo (Foto: Divulgação)
Já o economista chefe da NADA, Paul Taylor, foi mais objetivo. O
republicano reconhece que a Hyundai está "matando" o modelo Toyota e,
com isso, abrindo os portões do mercado norte-americano para as
asiáticas. "Em breve, Kia e Hyundai serão uma marca só. Com o sucesso
dos sul-coreanos, o mercado se abre para os chineses e indianos. Um
exemplo é a Mahindra, que já ganhou força no segmento de picapes e
pretende investir nos automóveis por aqui", analisa o economista.
Com o sucesso dos coreanos, o mercado se abre para os chineses e indianos"
Paul Taylor, economista-chefe da NADA
Além da conquista do consumidor pelo design, no segmento premium, a preocupação da Hyundai, passou longe da decoração da concessionária. A estratégia da companhia foi trazer comodidade para quem gostaria de testar o carro. "Os clientes premium valorizam o tempo. Com base nisso, passamos a levar o Equus até a casa ou trabalho do cliente, assim ele poder testar o carro em condições normais do seu cotidiano", ressalta.
Conteúdo definido e paz com concessionários Outro ponto importante foi estabelecer carros com conteúdo mais definido e completo, reduzindo o número de pacotes oferecidos. Como no Brasil, os carros da montadora possuem entre uma e duas versões como opção.
Fora isso, a sul-coreana investiu na parceria com os concessionários, sem pressioná-los por altos investimentos na arquitetura das lojas e trabalhando com margens de lucro mais flexíveis, sem priorizar um concessionário de uma cidade maior em detrimento de uma menor. "As revendedoras Hyundai têm ganhado muito dinheiro. Então, a satisfação com a montadora só aumenta considerando que a rentabilidade é maior",' afirma o chairman da NADA.
Hyundai Equus conquista o segmento de luxo
(Foto: Divulgação)
A entidade acaba de divulgar o ranking de satisfação das
concessionárias do país com as montadoras e o primeiro lugar ficou com a
Hyundai. A consultoria J.D. Power, por sua vez, fez um levantamento da
satisfação do cliente e apontou o aumento de 21 pontos percentuais no
contentamento dos consumidores da marca.(Foto: Divulgação)
"A Hyundai faz produtos para o perfil dos consumidores de hoje, mas com olho para daqui 20 anos. É o que faz a diferença", analisa Paul Taylor, da NADA.
Hyundai repete estratégia no Brasil
Também impressionado com o discurso de John Krafcik, o presidente da associação que representa as concessionárias no Brasil (Fenabrave), Flavio Meneghetti, reconhece a mudança que a marca provocou no país, especialmente quando decidiu iniciar a produção local e desvincular-se da importadora Caoa, montando uma rede de distribuição própria..
Segundo Meneghetti, a chegada de modelos como o HB20 força os concorrentes a buscarem a modernização de seus portfólios. O presidente da Fenabrave afirma ainda que o programa do governo Inovar Auto vai ajudar a diminuir a defasagem que existe entre um carro brasileiro e um norte-americano.
Em 2015, o produto no Brasil vai estar mais próximo do que existe hoje nos EUA, mas o descompasso descontinuará"
Flavio Meneghetti, presidente da Fenabrave
Preços baixos criticados
A favor, a Hyundai ainda tem a desvalorização da moeda sul-coreana, o won, diante do dólar, o que ajuda a reduzir preços de componentes e a oferecer produtos com preços mais competitivos -o que gera muita polêmica.
O Hyundai i30 duas portas não chamou tanta atenção durante sua estreia no Salão de Paris em setembro do ano passado quanto a briga que o governo francês arrumou contra a companhia sul-coreana, também detentora da marca Kia. A França acusou as duas marcas por dumping - concorrência desleal na venda por prática de preços bem abaixo do mercado. Isso porque, em maio último, passou a valer um acordo de livre comércio entre a Coreia do Sul e a França, assinado em 2011, que libera a entrada dos carros sul-coreanos sem taxação. No entanto, os carros que eles mais exportam para a França são compactos movidos a diesel, um segmento dominado pelas montadoras francesas.
Baixo preços causam polêmicas no setor
(Foto: Luciana de Oliveira/G1)
O ministro francês da indústria, Arnaud Montebourg, foi taxativo na
acusação e pediu aos franceses para comprarem carros nacionais, além de
defender que a União Europeia crie uma nova medida para proteger setores
como o automobilístico.(Foto: Luciana de Oliveira/G1)
Apesar dos protestos, pelo que foi visto no congresso da NADA, o "efeito Hyundai" é um caminho sem volta. Tanto é que, ao responder às críticas sobre vantagem de preços por causa das facilidades propiciadas pelo yuan desvalorizado, o vice-presidente executivo da japonesa Honda America, John Mendel, utilizou como irônico argumento a cocorrente sul-coreana. "A moeda japonesa não é uma vantagem competitiva para a Honda. Ninguém está gritando sobre o won (moeda sul-coreana), que está desvalorizado no mesmo nível há 10 anos", disse Mendel durante a convenção.
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