MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Carnaval de Vigia resgata tradição de fantasias e blocos de rua no Pará


Milhares de pessoas ocupam as ruas da cidade durante os dias de folia.
'As Virgienses', um dos maiores blocos, tem 45 mil brincantes.

Ingrid Bico Do G1 PA

Foliões lotam as ruas de Vigia durante os 5 dias de festa, como mostra esta foto do carnaval 2012. (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)Foliões lotam as ruas de Vigia durante os 5 dias de festa, como mostra esta foto do carnaval 2012. (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)
O município de Vigia de Nazaré é um dos mais antigos do Pará: foi criado oficialmente em seis de janeiro de 1616, quase uma semana antes da data de fundação de Belém. A uma distância de aproximadamente 100 quilômetros da capital, Vigia fica na região do Salgado, nordeste do Pará, onde estão localizadas algumas das mais belas praias do estado.
Além da tradição histórica, em Vigia também acontece um dos carnavais mais movimentados do Pará, com direito a blocos de rua, trio elétrico, homens fantasiados de mulher e vice-versa.  A população da cidade, atualmente, é de aproximadamente 50 mil habitantes. Durante os cinco dias da folia de carnaval de 2013, a estimativa da Secretaria Municipal de Cultura de Vigia é que a cidade receba 250 mil visitantes.
Status urbano
No século XVII, antes da colonização, Vigia era uma aldeia dos índios Tupinambás. Com a chegada dos portugueses, a aldeia logo se transformou em uma pequena cidade, que recebeu a função de posto fiscal.
Meninos brincam em rio de Vigia (Foto: Ana Lu Rocha/Arquivo Pessoal)Meninos brincam em rio de Vigia
(Foto: Ana Lu Rocha/Arquivo Pessoal)
Com o crescimento da economia, e da população, Vigia ganhou o status de vila em 1693, e o de cidade em 1854. A pesca permanece sendo a base da economia local, aliada ao comércio e turismo.
Vigia fica às margens da baía do Marajó, e faz fronteira os municípios de Santo Antônio do Tauá, São Caetano de Odivelas e Colares. A cidade é uma das referências de carimbó no Pará, com vários grupos folclóricos e compositores locais. Bandas municipais centenárias integram a cena musical do município.
As tradicionais vilas de pescadores, prédios antigos e monumentos históricos também são atrações para quem visita a cidade. Um dos mais famosos é a Igreja de Pedra, uma capela do século XVIII, construída pelos jesuítas. Ao longo do tempo a igreja sofreu várias transformações, mas grande parte do prédio original permanece preservada.
História e alegria
Para o carnaval deste ano, o planejamento da Prefeitura e da Secretaria de Cultura de Vigia realizou algumas mudanças na organização da festa. O objetivo, segundo o secretário municipal de cultura Antônio Ribeiro, é oferecer mais segurança e alegria para a população, e ainda, resgatar antigas tradições. “Primeiramente o projeto de reconquistar alguns espaços, trazer de volta o frevo, e fazer uma festa para as famílias mesmo. Queremos trazer de volta a essência do carnaval de rua”, explica.
Infográfico Carnaval Vigia (Foto: Nathiel Moraes/G1)
Por isso, o tema escolhido para este ano foi “Carnaval de Vigia, história e alegria!”. A diversidade de os blocos que percorrem as ruas da cidade é grande: são micaretas, blocos caricatos, cheios de fantasia; bandinhas centenárias tocando marchinhas; blocos de rua animando públicos de todas as idades; escolas de samba; e assim por diante. O ápice da festa é alcançado, de acordo com Ribeiro, na segunda-feira de carnaval, quando os blocos “Virgienses” e “Cabraçurdos” levam às ruas aproximadamente 80 mil foliões.
Considerado o maior bloco do carnaval de Vigia, as “Virgienses” animam o carnaval da cidade há mais de 25 anos, e, atualmente, conta com 45 mil brincantes para manter viva a tradição. No bloco, homens se vestem de mulher. Para isso, o cuidado de escolher a fantasia e o investimento na criatividade são grandes: roupa, cabelo, maquiagem, acessórios, todos os detalhes femininos são utilizados na hora de montar as “Virgienses”.
A naturalidade com que os homens incorporam o espírito feminino no carnaval foi um dos aspectos que chamou a atenção do editor de fotografias Bruno Miranda. “A questão dessa troca de homem se vestir de mulher acabou se tornando cultural. De certa forma, parece meio natural, parece que o preconceito de opções sexuais não existe, e isso me chamou a atenção. As pessoas abraçam a causa, as mães ajudam filhos e maridos a vestir as fantasias, ajudam nos detalhes. É muito engraçado”, conta.
virgienses 2012 (Foto: Igor Mota/O Liberal)Brincante faz paródia de grávida no carnaval de Vigia em 2012. Caso da mulher que simulou uma gravidez de  quadrigêmeos ficou famoso no país (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)
Os “Cabraçurdos” são outro bloco bastante tradicional do carnaval em Vigia. Como se fosse uma resposta às “Virgienses”, no bloco são as mulheres que se vestem de homem. Um pouco mais jovem que as “Virgienses”, os “Cabraçurdos” já fazem a festa pelas ruas de Vigia há 20 anos. Em 2013, aproximadamente 25 mil pessoas devem participar do bloco.
Além dos blocos de rua, a prefeitura da cidade também montou um espaço cultural para receber shows e bandas locais e visitantes. Tudo de graça.
Para garantir a segurança de quem passar o carnaval por lá, vários profissionais foram chamados para reforçar o efetivo municipal. “Teremos 180 policiais militares além dos que já atuam na cidade; 36 bombeiros equipados com ambulância e hospitais de campanha; 25 policiais militares; oficiais da Ronda Tática Metropolitana (Rotam) e do Centro Integrado de Operações (Ciop) da PM; helicóptero da Polícia Militar fazendo a vistoria da área; 30 fiscais; 80 agentes de trânsito; e ainda, 60 seguranças particulares”, informou o secretário de cultura de Vigia.
Igreja de Pedra é um dos pontos turísiticos de Vigia (Foto: Elivaldo Pamplona/ O Liberal)Igreja de Pedra é um dos pontos turísiticos de Vigia (Foto: Elivaldo Pamplona/ O Liberal)
Lembranças de folia
O carnaval de 2013 será o terceiro consecutivo em que o editor de fotografia Bruno Miranda passará em Vigia. “Eu não conhecia o carnaval até ir para lá. Antes eu ficava em casa vendo desfile de escola de samba na televisão”, lembra.
Segundo ele, a primeira vez que esteve no carnaval de Vigia, em 2011, foi a convite de um amigo. “Eu nunca tinha ouvido falar, nem procurado saber mais coisas. Tanto que a primeira vez que eu fui foi muito engraçado, eu era completamente zerado. Pra ter uma ideia, eu nem pensei em usar fantasia! A impressão que dava era de que as pessoas na rua me olhavam e se perguntavam ‘por que esse garoto não está fantasiado?’”, conta. Bruno resolveu o problema no ano seguinte, quando foi fantasiado de “viúva chorona”.
Uma prática comum de quem vai para Vigia durante o carnaval é alugar uma casa e dividir as taxas com um grupo de pessoas, conhecidas ou não. A procura pela “casa perfeita” começa cedo, geralmente dois meses antes do carnaval, através de redes sociais, blogs, sites e claro, telefones. “Nas duas primeiras vezes que fui eu não participei ativamente da procura da casa. Tanto que fiquei em uma com 20 pessoas, e só conhecia um amigo meu. Esse ano eu fui lá pessoalmente mesmo, para procurar. Não achei confiável procurar só pela internet e telefone”, conta Bruno. Se a busca for difícil, para Bruno, os dias de festa compensam o trabalho. “Eu não conseguia imaginar carnaval antes disso, não sei mais passar essa época sem fazer nada”, afirma.
Bruno mudou sua opinião sobre carnaval depois de passar a data em Vigia (Foto: Bruno Miranda/Arquivo Pessoal)Bruno mudou sua opinião sobre carnaval depois de passar a data em Vigia (Foto: Bruno Miranda/Arquivo Pessoal)
Há algum tempo atrás, o analista de sistemas Fábio Lamartine, de 26 anos, também se tornou adepto do carnaval vigiense. Hoje em dia a situação é um pouco diferente. “Eu fui durantes uns 5 anos consecutivos. Então acho que não preciso nem falar se era bacana ou não”, diverte-se. Devido a uma viagem de intercâmbio, seguida por uma mudança de cidade - Fábio se mudou de Belém para Florianópolis (SC), ele não acompanha o carnaval de Vigia desde 2011.
De volta a Belém, Lamartine tem outros planos para o carnaval 2013. “Eu não vou para Vigia este ano porque já passou a minha fase. Quero algo mais aconchegante. Quando eu ia para lá era pra ficar em uma casa onde cabiam cinco pessoas, mas que na verdade tinha 25. Mesmo assim, era muito bom”, lembra.
As "Mana Lisa" do bloco "As Virgienses", no carnaval de 2012 (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)As "Manas Lisas" do bloco "As Virgienses", no carnaval de 2012 (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)
Dos carnavais passados em Vigia, ele guarda boas lembranças. “Era muito engraçado, e era bacana também a casa, mesmo pelo aperto, porque o que importava é o pessoal com quem tu vais. É aquele negócio: com a galera certa, não importa o lugar”, conta.
Para Fábio, além de estar entre amigos, a movimentação das festas e os blocos de rua do carnaval de Vigia eram a melhor parte da viagem. “Uma vez, pra fazer uma brincadeira, um amigo meu jogou um sinalizador dentro de casa, e começou a sair fumaça por tudo que era lugar. Essa mesma pessoa também levava umas buzinas e umas bombinhas, e estourava quando todo mundo já estava dormindo. Todo mundo se assustava!”, diz.
E finaliza com um conselho para quem ainda não conhece o carnaval vigiense: “se a pessoa gostar de agitação e não se importar muito com conforto, passar o carnaval em Vigia é o melhor programa. Com certeza não vai se arrepender”.
Ruas da cidade são tomadas pelos foliões (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)Os blocos de rua de Vigia atraem a maior parte do público (Foto: Igor Mota/Amazônia Jornal)

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