MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Cametá tem carnaval tradicional até quarta-feira de cinzas


Folia no município paraense começa desde 1º de janeiro.
Município também tem blocos de axé, com foliões de abadás.

Dominik Giusti Do G1 PA

O município de Cametá, nordeste do Pará, é conhecido pelos foliões como um dos carnavais mais animados do estado. Lá, a folia começa em 1º de janeiro e só termina após a quarta-feira de cinzas. Este ano não poderia ser diferente: após uma série de arrastões de blocos de rua, a animação continua na cidade com shows na praia Aldeia, cortejos populares e, claro, a tradicional "ressaca de carnaval" pós-feriado.
Tradição
A festa cametaense começa na virada do ano, quando sai o tradicional Fofó da Maisena. O bloco de rua concentra foliões que usam o amido de milho misturado com água para passarem-se uns nos outros. A partir de então, todos os domingos até o carnaval são festejados com os blocos de rua que desfilam pelo centro do município.
Há vários outros fofós, como o das Virgens, em que homens saem fantasiados de mulher, na segunda-feira de carnaval. “Existe até uma superstição de que os homens que passarem da meia-noite vestidos de mulher não voltam mais”, diz Mere Barra, moradora da cidade e atuante na cultura.
Bloco dos Cabeçudos, em 2012. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)Bloco dos Cabeçudos, em 2012.
(Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)
O Fofó dos Cabeçudos também já é uma marca do carnaval: grandes máscaras são feitas com paneiros revestidos com papel, que posteriormente são pintados de forma alegórica. Aliado a um figurino simples, a enorme cabeça artesanal acaba sendo a própria fantasia carnavalesca.
O município é conhecido por esses tradicionais blocos populares. Muitos deles foram criados em vilarejos de Cametá, Atualmente, segundo Mere, existem cerca de 13 blocos, como o Linguarudo, da Vila de Santana; o Engole Cobra, da vila de Juaba; o Cordão da Bicharada, do mesmo vilarejo, só para citar alguns.
"O Engole Cobra é um grupo que faz músicas satíricas sobre política, meio ambiente, com paródias de músicas conhecidas", diz Mere.
Infográfico sobre Cametá (Foto: Divulgação)
Esses blocos iniciaram como reuniões de moradores, fantasiados ou mascarados, e foram sendo institucionalizados ao longo dos anos com apoio governamental. A tradição remonta ao final do século XIX, de acordo com Seu Alberto Mocbel, de 82 anos, que é escritor e já foi prefeito de Cametá.
Ele é um verdadeiro entusiasta do carnaval cametaense. Foi na gestão dele que estes blocos saíram das vilas para o centro do município e foram de certo modo "moldados" para apresentações públicas, com a padronização de roupas, a gravação de músicas e criação de sedes.
Seu Alberto possui composições de marchinhas, com letras que remetem ao dia-a-dia do cametaense. No município, nesta época do ano, é comum também a apresentação de músicas de outros ritmos, como o carimbó e o siriá, por conta da influência quilombola.
Samba do Cacete
Uma das manifestações culturais antigas, que teve início nos quilombos de Cametá é o Samba do Cacete, comandado por Dona Iolanda, de 72 anos.
No Samba, tambores são tocados com dois pedaços de madeiras chamados de “cacetes”, por isso o nome do grupo. Geralmente, os idosos costumam participar mais dessa tradição, quando entoam cânticos particulares.
Dona Iolanda conta que “desde que se entende, sai no grupo”. “Na década de 1970, seu Alberto formalizou o grupo. A gente não tinha vestimenta, não tinha muita coisa. Aí ele ajeitou e a gente se apresentou em Belém”, diz dona Iolanda.
Moradores de Cametá durante o Samba do Cacete, tradição centenária, de origem quilombola. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)Moradores de Cametá durante o Samba do Cacete, tradição centenária, de origem quilombola. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)
Cordão da Bicharada
O cordão da Bicharada começou por iniciativa de Mestre Zenóbio, inspirado em cordões de mascarados que frequentava com o pai. Ele tocava sax, e o pai, banjo. “Os mascarados apresentavam no carnaval, em forma de pasquim, o que havia se passado durante o ano, com piadas”, explica o mestre. A ideia de criar a Bicharada era fazer algo diferenciado e por isso a escolha de animais como tema.
“Como eu participava disso, veio a ideia de criar um cordão com mensagens de paz, de amor. Queria criar um grupo de bicho. Então, criamos o Rancho Animalesco, e cada bicho, como preguiça, jacaré, tatu, falava sobre sua sobrevivência na floresta. Não sabíamos se ia dar certo”, relembra mestre Zenóbio, de 67 anos.
A Bicharada começou, como o próprio mestre diz, sem compromisso. “Chegávamos onde tinha gente e nos apresentávamos”, conta. Hoje em dia, o cordão possui uma pequena sede, onde as mais de 100 fantasias estão guardadas. Este ano a Bicharada não vai desfilar, pois segundo mestre Zenóbio não houve apoio financeiro para custear os gastos com a reforma das fantasias.
Cordão da Bicharada em apresentação na Praça central de Cametá. (Foto: Divulgação)Cordão da Bicharada em apresentação na Praça central de Cametá. (Foto: Divulgação)
Ele lamenta em não poder sair este ano com o cordão da Bicharada. “O que acontece em Cametá é o carnaval da Bahia. E a cultura do município está esquecida”, diz.
Carnaval das Águas
O Carnaval das Águas foi criado em 2010, para incentivar os cordões de mascarados do de Cametá, tradição que estava perdendo espaço para os blocos do carnaval contemporâneo, com blocos que têm como fantasias os abadás e a música principal é o axé.
"Os cordões têm a tradição de fazer o seu desfile nos rios do município em seus barcos enfeitados com adereços carnavalesco e seus brincantes vestidos e caracterizados com máscara confeccionadas pelos próprios participantes e roupas de cetim multicoloridas", explica Mere Barra.
Durante o Carnaval das Águas, após o desfile dos barcos, os blocos seguem para a praça de Nossa Senhora das Mercês, onde há disputa de paródias entre os cordões. "Eles fazem a disputa como os repentistas da região Noredeste", ilustra Mere.
Além das tradições culturais, Cametá também possui blocos com bandas que tocam músicas de axé, como micaretas. Os blocos “Macharada Elétrica”, “Mapará Elétrico”, “Tapera” e “Hawai”, saem no sábado, domingo, segunda e terça-feira, respectivamente. Diversos outros blocos de abadás também desfilam pelas ruas de Cametá.
Há também o desfile das escolas de samba “Unidos da Brasília”, “Verde e Rosa”, “Amor e Samba" e “Melo tudo”, no domingo de carnaval.
Mestre-sala e porta-bandeira da escola de Samba Unidos da Brasília, de Cametá, desfila no carnaval de 2012. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)Mestre-sala e porta-bandeira da escola de Samba Unidos da Brasília, de Cametá, desfila no carnaval de 2012. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)
Programação
Foliões no bloco Gale Elétrico, que sai nas primeiras horas da manhã de domingo. (Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)Foliões no bloco Gale Elétrico, que sai nas
primeiras horas da manhã de domingo.
(Foto: Rodolfo Oliveira/Agência Pará)
Terça-feira (12)
Shows na praia da Aldeia, seguido por arrastão popular da praia da Aldeia até o bairro de São Benedito e desfile dos blocos Cabeção; União das Mulheres; grupo cultural Samba de Cacete; bloco Timbal; grupo cultural Síria; blocos Barata Obama; Picotão e Havaí.
Quarta-feira (13)
Desfile dos blocos Minhocão e Ressacão.

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