MEDIÇÃO DE TERRA

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MEDIÇÃO DE TERRAS

domingo, 6 de janeiro de 2013

Mangalarga era usado na prática de polo e inspira samba da Beija-Flor


Na verdade nome identifica duas raças que possuem a mesma origem.
Cavalos foram adaptados para caçada nos diferentes terrenos de MG e SP.

Do Globo Rural
Diego Gabriel, de seis anos, nasceu com Síndrome de Dow e diabetes. Ele faz equoterapia na fazenda Vassoural, município de Pontal, região de Ribeirão Preto, São Paulo. O andar do animal transmite uma infinidade de estímulos que favorecem tanto a parte física como a emocional e intelectual do praticante. Rildo Silva e Maria das Dores, pais do Gabriel, dizem que a vida do filho é outra depois de um ano de tratamento.
Os cavalos que encantam o Gabriel e tantas outras crianças com necessidades especiais são da raça mangalarga. Descendentes em linha reta das tropas que, no começo de 1800, Francisco Antonio Diniz Junqueira trouxe do Sul de Minas para a região onde prospera hoje Orlândia, vizinha de Pontal.
Gilberto Diniz Junqueira, da Fazenda Boa Esperança, neto do fundador de Orlândia, explica que alazão é o nome que se usa para descrever o animal castanho com a crina da mesma cor. Se a crina é preta, fala-se simplesmente castanho. No todo, predomina uma pelagem puxada ao ruivo. Durante um tempo, as tropas de Minas Gerais e de São Paulo eram praticamente as mesmas, mas no começo do século 20 o mangalarga paulista passou a cruzar com cavalos europeus, especialmente o puro sangue inglês. Ganhou mais porte, ficou mais atlético e ligeiramente mais alto que o mineiro. A marcha, por conta da infusão do sangue europeu de trote, se modificou. Os técnicos dizem marcha trotada.
A seleção não se deu só por boniteza, mas por função, que ia além da lida do gado. A caça era uma tradição da família Junqueira. Em Cruzília, no recém inaugurado Museu do Mangalarga Marchador, o mangalarga mineiro,existem fragmentos de imagens de caçada. Hoje isso é proibido, mas houve um tempo em que até o Presidente da República ia caçar veado.
Caçada era coisa séria. Tinha até livro de registros. Uma página de 1888 mostra que foram abatidos 41 veados em uma única fazenda. Em Orlândia, Gilberto comenta que os morros de Minas exigiam um tipo de cavalo; para o cerrado paulista, mais plano, mais aberto, foi desenvolvido outro tipo, mais ágil, mais veloz. A caça foi o que fez diferença no tipo de esportividade do animal.
Pólo
É um esporte de risco, bonito e tenso. Exige muito. Do cavaleiro, que na mão esquerda tem que segurar duas rédeas mais o chicote, e na direita levar o taco de bambu; e do cavalo, que precisa ser esperto para girar, fazer paradas repentinas e galopar forte. Nas disparadas atrás da bola, passa dos 50 km/h. Hoje, as tropas de pólo são formadas por cavalos ingleses e argentinos. Mas, por décadas, os times paulistas usaram o mangalarga.
A foto do primeiro time de Orlândia é de 1922. Está pendurada na casa do pai do Gilberto, Geraldo Diniz Junqueira, que passou para o filho o gosto pela genealogia. Tanto dos Junqueira, como dos cavalos. Uma foto da década de 30 mostra a família saindo para passear, levando o cavalo junto. Compartilhando o mesmo espaço de homenagem, honram também a lembrança das éguas e dos garanhões que a família produziu. O mais famoso é o Colorado que deixou uma penca de descendentes. A busca da origem é uma obsessão na família. Um fichário registra, desde 1826, os reprodutores usados na formação da raça e as proles que deixaram.
Mangalarga marchador
Em Cruzília, a fazenda Traituba foi construída para receber Dom Pedro I, mas a visita não aconteceu pois o imperador voltou antes para Portugal. No quintal da Traituba, a conversa dos criadores gira em torno das celebridades do mangalarga marchador.
Lembra as acaloradas discussões sobre futebol. Falam de astros que compõem uma notável galeria: Bellini JB, Farrapo Bela Cruz, Traituba Rádio, Abaíba Eldorado, Caxias do Angahy, Herdade Cadillac, Baluarte do Engenho de Serra. Ícones de um mundo em que criar cavalo não é só a reprodução biológica, mas a produção de uma obra de arte. Arte de lidar com o gado, de bailar com rês teimosa, de transpor obstáculos no campo, de oferecer um passo que dá prazer ao cavaleiro.
O clube do cavalo de Cruzília fica na Rua Cel. Serafim Pereira, 50 - Centro, Cruzília/MG. O telefone é (35) 3346-2488.
Samba
O enredo da escola de samba Beija-Flor para o desfile de 2013 é o mangalarga machador. Um samba marchado, cavalgado, é a coreografia da porta-bandeira Selminha Sorriso e do mestre sala Claudinho.
Nas oficinas, se trabalha a mil na preparação da tropa que a Beija-Flor vai levar pra avenida. O regulamento não permite animal vivo, então muitas réplicas do marchador estão sendo esculpidas.
Maguid Shaat, presidente da Associação dos Criadores do Mangalarga Marchador, há anos
tenta emplacar a raça como enredo da Beija-Flor. Ano passado perdeu para o Maranhão; no
retrasado, para o Roberto Carlos. Finalmente conseguiu a parceria. Um projeto ousado: o
patrocínio da escola vai custar R$ 6 milhões. Em compensação, é um evento que vai ser visto
em 120 países.
Não se admire em ver o campo patrocinando a cidade: considerando, além dos marchadores, as inúmeras raças que temos, o setor do cavalo é um dos fenômenos da nossa economia. Fatura mais de R$ 8 bilhões por ano. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Agricultura, dá 600 mil empregos, quatros vezes mais do que a indústria automobilística, por exemplo. Acima dos negócios, porém, flutua o encanto de um sentimento que vem lá dos tempos da caverna: a paixão pelo cavalo.
Confira abaixo o samba enredo na íntegra
AMIGO FIEL, DO CAVALO DO AMANHECER AO MANGALARGA MARCHADOR
Autores: J. Veloso, Ribeirinho, Marquinho Beija-Flor, Gilberto, Silvio Romai e Dilson Marimba.
Participação: Claudio Russo e Miguel
Intérpretes: Neguinho da Beija-Flor
Eu vou cavalgar, pra encontrar
A minha história nesse mundo de meu Deus!
Venho de longe de uma era milenar,
Fui coroado quando o dia amanheceu!
Brilha, estrela guia... Um viajante, a sua sede  a matar!
Presente de grego, que grande ironia
Herói das batalhas, real montaria!
Com asas surgiu do infinito, tão claro mito..
A joia rara de Alah!
Cigano... Buscando a purificação!
Mostrando elegância e bravura,
A minha aventura se torna canção!
É o bonde que vai, carruagem que vem...
Na viagem que trás, o amor de alguém!                  
Indomável corcel, alazão da Coroa...
Troféu da nobreza, estrela que voa!
Amigo do Rei, pela estrada lá vai o Barão!
Sul de Minas Gerais, galopei...
A riqueza da mineração!
Café me fez marchar... Ao Rio da corte a bailar!
Acreditar... Que fui a raça escolhida!
Sou um puro sangue azul e branco,
Um acalanto... a mais sublime criação!
Sou eu o seu cavalo de batalha,
Se a memória não me falha...
Chegou a hora de gritar é campeão!
Sou Mangalarga Marchador!
Um vencedor, meu limite é o céu!
Eu vim brilhar com a Beija-Flor...
Valente guerreiro, amigo fiel!

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